Vamos explicar o que é a Guerra Fria e quais potências se enfrentaram. Além disso, suas características e principais conflitos.
O que foi a Guerra Fria?
A Guerra Fria foi um período de tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética. A Guerra Fria foi um período de tensão entre os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS) que durou do fim da Segunda Guerra Mundial (1945) até a dissolução da URSS (1991). Esse antagonismo foi gerado pela existência de dois sistemas econômicos e sociais opostos: o capitalismo ( sustentado pelos Estados Unidos) e o comunismo (sustentado pela União Soviética).
Dezenas de países em todo o mundo apoiaram uma das duas potências ou ficaram sob sua influência, e o mapa político foi dividido em dois grandes blocos antagônicos (esse é o chamado “mundo bipolar”).
A Guerra Fria é assim chamada porque o conflito nunca se transformou em um confronto direto entre os Estados Unidos e a União Soviética. Entretanto, durante esse período, houve “uma paz que não era paz” (nas palavras de George Orwell): o mundo inteiro temia a rivalidade entre potências com armas nucleares.
Diante do risco que representa um combate armado direto, os Estados Unidos e a União Soviética se envolveram em “guerras por procuração” ou também chamadas “guerras subsidiárias”, isto é, confrontos armados em outros países (especialmente na Ásia, na África e na América). Nessas guerras por procuração, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética intervieram oferecendo ajuda econômica e militar às facções locais para ganhar influência na política internacional.
A rivalidade entre as duas potências levou a uma grande competição por poder e ostentação. Isso incentivou o desenvolvimento industrial em cada país, além de seus objetivos militares e políticos. Tanto a União Soviética quanto os Estados Unidos procuraram demonstrar que seus sistemas eram os melhores para garantir o bem-estar de seus cidadãos e o progresso econômico das comunidades políticas. Dessa forma, a rivalidade se expressou também nas esferas econômica e cultural.
Iniciada de forma clara e definitiva em 1947, após um rápido processo de deterioração nas relações dos Aliados da Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria atingiu seu auge entre 1948 e 1953. Após vários períodos de distensão e confronto, a ascensão de Gorbachev ao poder na União Soviética desencadeou um processo que culminou com a dissolução da URSS em 1991.
- Veja também: Cronologia da Guerra Fria
A guerra ideológica: capitalismo vs. comunismo
A Guerra Fria também foi uma guerra ideológica na qual os valores de dois sistemas opostos competiram, tanto política quanto economicamente:
- Capitalismo. Baseia-se no direito à propriedade privada e ao investimento com o objetivo de obter lucro econômico. Ideologicamente, defende a iniciativa individual baseada no princípio da liberdade e crítica ao comunismo por restringir essa iniciativa individual.
- Comunismo. Baseia-se na propriedade comum dos recursos e meios de produção e na distribuição equitativa de seus benefícios. Critica o capitalismo por se basear na exploração da classe trabalhadora para o benefício de alguns indivíduos que acumulam os bens, os meios de produção e o capital.
Características da Guerra Fria
Entre as principais características da Guerra Fria destacam-se as seguintes:
- Foi um período de tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, desencadeado entre 1945 e 1991, devido à competição política entre as duas potências.
- Embora durante o conflito os Estados Unidos e a União Soviética não houvesse um confronto armado direto, o mundo foi dividido em dois grandes blocos (ocidental-capitalista e oriental-comunista) nos quais as potências impuseram sua influência.
- Os Estados Unidos e a URSS possuíam armas nucleares de destruição em massa e as consequências dos riscos de um confronto direto foram temidas por mais de quatro décadas em todo o mundo.
- Entre os principais conflitos na esfera política, as potências intervieram na Guerra da Coreia, na Crise dos Mísseis de Cuba e na Guerra do Vietnã.
- Na esfera econômica, a competição entre as potências levou-as a desenvolver diferentes modelos de produção, organizações econômicas internacionais e, principalmente, uma corrida armamentista e uma corrida espacial.
- Na esfera cultural, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética procuraram demonstrar que seus sistemas político-econômicos eram melhores para garantir o bem-estar de seus cidadãos, por meio de propaganda, filmes e estudos acadêmicos.
Origens da Guerra Fria
O distanciamento entre a União Soviética e as potências ocidentais (Estados Unidos, Reino Unido e França) começou em 1917 com o triunfo da Revolução Bolchevique na Rússia.
Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a invasão alemã dos territórios russos levou a União Soviética a se aliar às potências ocidentais. Os Aliados conseguiram derrotar o fascismo europeu e o expansionismo japonês, mas seu acordo começou a se enfraquecer antes do fim da guerra.
Com a assinatura dos tratados no final da Segunda Guerra Mundial, as potências vitoriosas começaram a se confrontar e competiram pelo controle de territórios e influência sobre outros países. Assim, por volta de 1947, teve início a Guerra Fria, um longo período de rivalidade que colocou os Estados Unidos contra a União Soviética e moldou as relações internacionais por quase meio século.
Os dois blocos da Guerra Fria
Durante a Guerra Fria, os países estavam alinhados em torno de blocos. Por motivos geográficos e ideológicos, a esfera de influência dos Estados Unidos era chamada de “bloco ocidental” e a da União Soviética, de “bloco oriental”. Em sua competição pelo controle de recursos, território e influência política, cada país elaborou estratégias diferentes para consolidar seu poder.
Formação do bloco ocidental
Para evitar o crescimento do comunismo nos países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos implementaram o “Plano Marshall”. Esse plano econômico tinha como objetivo fornecer assistência técnica e econômica para a rápida recuperação das economias europeias, o aumento do comércio, a reconstrução urbana e a melhoria da qualidade de vida da população.
Em 1949, temendo o poder soviético, as potências ocidentais fundaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Nos anos seguintes, as potências signatárias criaram diferentes organizações (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, Comunidade Europeia de Energia Atômica, Comunidade Econômica Europeia etc.) que integraram o bloco ocidental política e economicamente.
Formação do Bloco Oriental
Após a Segunda Guerra Mundial, Stalin procurou manter o controle dos territórios que havia conquistado e aumentar sua influência nos países aliados da região.
Durante os primeiros anos do pós-guerra, foram criados o Kominform (Escritório de Informações dos Partidos Comunistas e dos Trabalhadores) para dirigir os partidos comunistas do Bloco Oriental conforme as diretrizes da União Soviética, e o Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua) para promover a cooperação econômica entre esses países.
Além disso, foi criado o Pacto de Varsóvia, pelo qual os países signatários se comprometeram a apoiar uns aos outros em caso de guerra.
A corrida armamentista e tecnológica durante a Guerra Fria
Após os confrontos da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, as diferentes potências do mundo sabiam que a hegemonia política e econômica se baseava na posse de armas.
Durante as décadas da Guerra Fria, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética e as várias potências envolvidas investiram milhões de dólares e recursos no desenvolvimento da indústria bélica. Por sua vez, isso aumentou as tensões entre as potências e o medo da eclosão de uma terceira guerra mundial.
A concorrência industrial entre os Estados Unidos e a União Soviética foi particularmente intensa em três áreas: a corrida nuclear, a corrida militar e a corrida espacial.
A corrida nuclear
Os Estados Unidos desenvolveram a bomba nuclear em 1945 e lançaram duas bombas no Japão (em Hiroshima e Nagasaki) no final da Segunda Guerra Mundial. A partir de então, a União Soviética dedicou recursos ao desenvolvimento da tecnologia atômica. Em 1949, o país detonou sua primeira bomba atômica em um campo de testes e os Estados Unidos deixaram de ser a única potência nuclear do mundo.
Nas décadas seguintes, ambas as potências desenvolveram bombas de hidrogênio ainda mais destrutivas. Para evitar o uso de armas nucleares (e os consequentes contra-ataques), os Estados Unidos e a União Soviética assinaram acordos para impedir a proliferação dessa tecnologia.
Entretanto, os desenvolvimentos científicos continuaram e hoje nove países têm armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte).
Complexo militar-industrial
Paralelamente, tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, grupos de empresários, políticos e comandantes militares de alto escalão cresceram e pressionaram os governos a aumentar os gastos com o desenvolvimento militar.
Durante as longas décadas da Guerra Fria, o setor militar tornou-se um dos mais lucrativos do mundo.
A corrida espacial
Em 1957, a União Soviética colocou em órbita pela primeira vez um satélite artificial, chamado Sputnik I, que tinha o objetivo de receber e transmitir sinais de rádio. Um mês depois, os russos queriam provar que um ser vivo poderia atravessar a atmosfera e sobreviver em gravidade zero, e enviaram a cachorra Laika a bordo do Sputnik II.
Em 1961, a União Soviética enviou o primeiro astronauta ao espaço, Yuri Gagarin. Alguns meses depois, os Estados Unidos enviaram o segundo: Alan Shepard. Em 1967, os Estados Unidos lançaram o projeto Apollo com o objetivo de pousar na Lua. Em 1969, a Apollo XI fez um pouso bem-sucedido e Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a caminhar sobre a superfície lunar.
Conflitos militares durante a Guerra Fria
Entre os principais conflitos militares ocorridos durante a Guerra Fria se encontram:
- Guerra da Coreia (1951–1953). Após a Segunda Guerra Mundial, as diferentes facções políticas da península coreana lutaram pelo poder e pela orientação do novo governo por meio de um confronto bélico no qual os Estados Unidos e a União Soviética estavam diretamente envolvidos. No final do conflito, a península foi dividida em duas: no norte, a República Popular Democrática da Coreia (apoiada pela União Soviética) e no sul, a República da Coreia (apoiada pelos Estados Unidos e pela ONU).
- Crise dos mísseis (1962). A partir de 1959, a Revolução Cubana instalou um regime socialista liderado por Fidel Castro e se opôs à exploração econômica dos Estados Unidos no país. Os Estados Unidos invadiram a costa cubana, mas as tropas foram derrotadas. Cuba se aliou à União Soviética e permitiu a instalação de mísseis de médio alcance em seu território. Em resposta, o presidente Kennedy (Estados Unidos) ameaçou atacar Cuba por mar, terra e ar. No entanto, diante da rápida escalada das tensões, Kennedy e Khrushchev (líder da União Soviética) iniciaram negociações secretas para evitar uma guerra nuclear. Eles acordaram em remover os mísseis da Turquia e de Cuba, respectivamente, em instalar uma linha direta entre Washington e Moscou e em limitar o armamento nuclear futuro.
- Guerra do Vietnã (1955–1975). Após a Segunda Guerra Mundial, vários movimentos de independência começaram a surgir no Sudeste Asiático, controlado pela França. No Vietnã, o líder comunista Ho Chi Min liderou o grupo armado Viet Minh, que tinha como objetivo se libertar da França e instalar um país independente sob o domínio comunista. Em 1954, o Vietnã foi dividido em dois estados que, no ano seguinte, iniciaram uma guerra que durou mais de duas décadas: o norte controlado pelos comunistas, apoiado pela União Soviética, e o sul controlado pelos vietnamitas liberais, apoiado pelos Estados Unidos e pela França. Em 1975, o Vietnã do Norte derrotou o Sul e conquistou a unificação do país sob o domínio comunista. Essa é considerada a maior derrota para os Estados Unidos durante a Guerra Fria.
- Guerras por procuração (ou subsidiárias). Outros conflitos bélicos que ocorreram no contexto da Guerra Fria e nos quais as potências intervieram direta ou indiretamente foram a Guerra Civil Grega, a Primeira Guerra Afegã, a Guerra Civil Libanesa, a Guerra Angolana, a Guerra Indo-Paquistanesa e a Guerra do Golfo.
- Divisão da Alemanha. No final da Segunda Guerra Mundial, os Aliados ocuparam seu território entre o Reino Unido, os Estados Unidos, a França e a União Soviética. Com o início da Guerra Fria, os territórios ocupados pelas potências ocidentais foram unificados na República Federal da Alemanha (sob influência direta dos Estados Unidos). Em contrapartida, a parte oriental da Alemanha ficou sob a influência da União Soviética e se tornou a República Democrática Alemã. A cidade de Berlim foi dividida em duas administrações, Berlim Ocidental e Berlim Oriental. Essa divisão levou à construção do Muro de Berlim no início da década de 1960, cuja destruição em 1989 marcou o fim da Guerra Fria.
Fim da Guerra Fria
A partir do final da década de 1970, a União Soviética sofreu várias crises econômicas desencadeadas pelo fornecimento insuficiente de energia (que dificultou o funcionamento das empresas estatais), pela estagnação da produção de aço e metal e pela produção agrícola insuficiente.
Isso também levou a um atraso tecnológico em relação ao mundo capitalista (especialmente nas áreas de telecomunicações e tecnologia da informação). Ao mesmo tempo, o aparato estatal continuava crescendo e a burocracia (funcionários públicos) se tornava cada vez mais numerosa.
A partir de 1985, o primeiro-ministro Mikhail Gorbachev começou a promover uma série de reformas com a finalidade de fortalecer o sistema comunista, denominadas Perestroika e Glasnost. Procurou integrar a União Soviética ao sistema econômico internacional e introduzir gradual e parcialmente uma economia de mercado (sem intervenção estatal). Para isso, concedeu maior autonomia empresarial e autorizou o investimento estrangeiro na criação de empresas mistas (privadas e estatais).
Além disso, iniciou uma política de não intervenção nos países do bloco comunista. Permitiu a liberdade de expressão nos meios de comunicação de massa e promoveu a reforma eleitoral, possibilitando que membros da oposição ao comunismo entrassem no parlamento.
Com o desenvolvimento dessas medidas, o comunismo começou a entrar em colapso na maioria dos países do Bloco Oriental. Finalmente, em 1988, Gorbachev anunciou a retirada das tropas dos países comunistas do Leste Europeu.
Em cada país, a transição para o capitalismo assumiu formas e características diferentes:
- Na Hungria, os próprios comunistas introduziram mudanças graduais e optaram por uma transição pacífica e pela implementação de um sistema de eleições livres que deu a vitória, em 1990, às forças anticomunistas.
- Na Polônia, a mobilização liderada pelo sindicato Solidariedade levou ao aumento de greves e manifestações, o que levou a reformas democráticas e, em 1989, à eleições livres. Em 1990, Lech Walesa (líder do sindicato) foi eleito presidente e iniciou uma série de reformas que rapidamente aproximaram a Polônia do modelo capitalista ocidental.
- Na Alemanha, as greves e a repressão policial criaram um clima de extrema tensão que, em 1989, levou à divisão do Partido Comunista no governo e à demissão de Honecker (primeiro-ministro da Alemanha Oriental). Em poucos dias, foram abertos os cruzamentos de fronteira entre as duas Alemanhas e através do Muro de Berlim. No ano seguinte, foram convocadas eleições livres que, após árduas negociações, levaram à reunificação das duas Alemanhas sob um regime capitalista.
- Na Bulgária, no dia seguinte à queda do Muro, houve um golpe dentro do Partido Comunista e o governador foi substituído por um político reformista que levou à democratização do país.
- Veja também: Final da Guerra Fria
A queda do Muro de Berlim
A queda do Muro de Berlim em 1989 foi o símbolo da queda do bloco comunista. A abertura de eleições na União Soviética levou a tensões crescentes dentro do partido entre os ultrarreformistas (que queriam impor ainda mais reformas em favor de uma economia de mercado) e os comunistas ultraconservadores que tentaram controlar o poder por meio de um golpe de Estado em 1991.
Uma enorme onda de protestos populares nas cidades e a divisão interna do exército puseram fim à ação ultraconservadora. Muitas das repúblicas que até então faziam parte da União Soviética saíram e formaram a Comunidade de Estados Independentes (Armênia, Azerbaijão, Bielorússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão), enquanto outras optaram pela independência total (Estônia, Letônia, Lituânia e Moldávia).
Após o golpe, Gorbachev renunciou oficialmente em 25 de dezembro de 1991, extinguindo a União Soviética e pondo fim à Guerra Fria.
- Continue com: Democracias populares na Guerra Fria
Referências
- Hobsbawn, E. J. (1998). La Guerra Fría. En Historia del siglo XX. Crítica.
- McMahon, R. (2009). La guerra fría. Una breve introducción. Alianza.
- Tucker, S. C., & Roberts, P. M. (2007). The Encyclopedia of the Cold War: A Political, Social, and Military History, 5 Volume Set. ABC-CLIO.
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