Vamos explicar quais foram os blocos da Guerra Fria, suas origens e história. Além disso, as suas características e alianças.
O que eram os blocos da Guerra Fria?
Os blocos da Guerra Fria foram dois alinhamentos de países que definiram as relações internacionais na segunda metade do século XX. Cada bloco era liderado por uma potência mundial com suas próprias características econômicas, políticas e ideológicas:
- o bloco ocidental ou capitalista (sob a hegemonia dos Estados Unidos)
- o bloco oriental ou comunista (sob a hegemonia da União Soviética).
Os dois blocos foram formados após a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados, que haviam derrotado os nazistas, concordaram em dividir o governo da Alemanha. As divergências entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a França - que dominavam o setor ocidental - e a União Soviética (URSS) – que dominava o setor oriental – levaram à divisão da Alemanha e do restante da Europa entre as nações capitalistas ocidentais e os países comunistas orientais.
Durante a Guerra Fria, as duas potências rivais não se envolveram em confrontos militares diretos, mas competiram pela supremacia nas áreas política, ideológica, diplomática, econômica, cultural, armamentista e científica. No entanto, apoiaram direta ou indiretamente episódios militares em várias partes do mundo (como no Sudeste Asiático, na África, na América Latina e no Oriente Médio). A Guerra Fria terminou com a queda da União Soviética em 1991.
Perguntas frequentes
O que foi a Guerra Fria?
A Guerra Fria foi um conflito político, ideológico, econômico, social e militar que começou após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Quais blocos lutaram na Guerra Fria?
Os blocos que entraram em conflito foram: o bloco ocidental ou capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco oriental ou comunista (liderado pela União Soviética).
Quais países estavam indiretamente envolvidos na Guerra Fria?
Os países envolvidos foram os seguintes:
- Os integrantes da OTAN, liderados pelos Estados Unidos (com Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal e Reino Unido).
- Os integrantes do bloco oriental, por meio do Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética (com países do Leste Europeu, como Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, República Democrática Alemã e Romênia).
- Veja também: Mundo bipolar
O contexto histórico
A vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial (1939–1945) se deveu em grande parte à intervenção dos Estados Unidos e da União Soviética. Os líderes de ambas as potências se reuniram antes do fim da guerra na Conferência de Yalta, 1945, com o primeiro-ministro britânico, para concordar com os termos da rendição da Alemanha e definir suas áreas de influência na Europa.
Após o término da guerra na Europa, outra conferência foi realizada em Potsdam e a Alemanha foi dividida em quatro áreas de ocupação, divididas entre os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a União Soviética. Berlim também foi dividida em quatro setores, e o Conselho de Controle Aliado para o governo conjunto da Alemanha foi estabelecido lá, mas as diferenças entre as nações ocidentais e o governo soviético fizeram com que o conselho deixasse de funcionar.
As áreas de ocupação britânica e norte-americana foram unificadas economicamente em 1947, e a União Soviética, que controlava o leste da Alemanha, bloqueou Berlim entre 1948 e 1949, impedindo que o setor ocidental da cidade se abastecesse. O bloqueio foi suspenso em 1949, mas a oposição entre o oeste capitalista e o leste comunista se consolidou com a fundação da República Federal da Alemanha (ou Alemanha Ocidental) e da República Democrática Alemã (ou Alemanha Oriental). Também com a fundação da OTAN (aliança militar do bloco capitalista) e a instalação de governos controlados pelos soviéticos no Leste Europeu (bloco comunista).
A linha divisória entre os dois blocos foi chamada de “Cortina de Ferro”, e o alinhamento com um ou outro bloco se estendeu a outras partes do mundo e caracterizou a Guerra Fria até a queda do Muro de Berlim (1989) e a dissolução da União Soviética (1991). Vários líderes de países descolonizados (como a Indonésia, a Índia e o Egito) promoveram um movimento de países não alinhados, com o objetivo de manter a neutralidade no confronto entre os dois blocos.
O bloco ocidental
Os laços transatlânticos
O bloco ocidental durante a Guerra Fria era composto por países de economia capitalista com sistemas políticos democráticos. A eliminação de barreiras ao comércio mundial, patrocinada e gerenciada por órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), promoveu intercâmbios comerciais e monetários, evitando tendências isolacionistas (ou seja, a preferência pelo isolamento econômico ou a rejeição de alianças internacionais).
Um dos motivos que levaram os Estados Unidos a promover a constituição de um bloco baseado em alianças, apesar de isso ir contra suas tradições históricas, foi o fortalecimento da Europa Ocidental, enfraquecida pela Segunda Guerra Mundial e necessária para não perder a Guerra Fria.
A Doutrina Truman (que previa apoio militar e econômico às populações que enfrentavam o avanço comunista) e, principalmente, o Plano Marshall (um programa de ajuda econômica aos países da Europa Ocidental) foram os dois primeiros passos da nova postura americana. A reconstrução das economias europeias e a conquista de uma certa estabilidade social foram os principais elementos da “contenção” do comunismo na Europa Ocidental.
O European Recovery Program, mais conhecido como Plano Marshall, levou os Estados Unidos a considerar a necessidade de uma cooperação econômica europeia. Assim, em 1948, nasceu a Organização para a Cooperação Econômica Europeia (OEEC), o embrião da futura Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A conclusão desse processo de formação do bloco ocidental ocorreu em 1949, com a assinatura do Tratado do Atlântico Norte e a criação, no ano seguinte, da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a grande aliança militar ocidental.
O início da “construção” europeia
Os Estados Unidos desempenharam um papel essencial no período pós-guerra, impulsionando os países da Europa Ocidental a construírem a unidade europeia. A “ideia europeia” (ou seja, a noção de uma identidade europeia e a promoção de uma unidade dos países da Europa Ocidental) não era nova. Durante o período entre guerras, figuras como o político Coudenhove-Kalergi ou o estadista Aristide Briand defenderam um projeto integracionista que fracassou após a depressão de 1929 e a ascensão do fascismo.
Após a Segunda Guerra Mundial, várias iniciativas abriram o caminho para a integração:
- Em maio de 1948, mais de 750 personalidades europeias, incluindo importantes líderes políticos, reuniram-se no Congresso de Haia e, em 1949, nasceu o Conselho da Europa.
- Nas décadas de 1950 e 1951, quando o primeiro conflito “quente” (ou seja, armado) da Guerra Fria estava começando na Coreia, as principais etapas do processo de integração foram tomadas: a Declaração Schuman e sua consequência imediata, a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).
- A Europa Ocidental havia embarcado em um caminho unitário no qual a integração econômica desempenhava um papel essencial. A assinatura dos Tratados de Roma em 1957 e o nascimento da Comunidade Econômica Europeia (CEE) foram as etapas decisivas seguintes, até a criação da União Europeia em 1993.
Uma rede internacional de alianças
A experiência histórica do período entre guerras e da Guerra Fria levou os Estados Unidos a fazer uma mudança histórica de seu tradicional isolacionismo. Além dos laços transatlânticos com a Europa Ocidental, o secretário de Estado dos Estados Unidos embarcou na construção de uma série de alianças internacionais com o objetivo de consolidar o bloco ocidental e deter o avanço do comunismo:
- OEA. Sob o comando do presidente Harry S. Truman, o Tratado do Rio foi assinado em 1947 com vinte países latino-americanos. Essa iniciativa foi consolidada em 1948 com a fundação da Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa instituição sempre se baseou em um desequilíbrio de poder entre os Estados Unidos e o restante dos países do continente. De qualquer forma, a existência da OEA não pôde impedir o alinhamento do governo cubano (que surgiu após a revolução de 1959) com a União Soviética, nem o surgimento de movimentos de inspiração marxista que levaram a guerras de guerrilha em vários países latino-americanos durante as décadas de 1960 e 1970.
- ANZUS e o Tratado de São Francisco. A Guerra da Coreia (1950–1953) levou, em 1951, à formação de uma aliança militar no Pacífico: ANZUS (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos), e à assinatura do Tratado de São Francisco com o Japão, antigo inimigo dos Estados Unidos, que endossava a paz. De qualquer forma, a intenção de impedir a influência comunista no Pacífico motivou a intervenção dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã (1964–1975) em apoio ao Vietnã do Sul, na qual venceu o Vietnã do Norte (apoiado pela União Soviética e pela China comunista).
- SEATO. O presidente Dwight Eisenhower e seu secretário de Estado, John Foster Dulles, completaram e sistematizaram a rede de alianças ocidentais: em 1954, nasceu a SEATO (Organização do Tratado do Sudeste Asiático), com a Grã-Bretanha, França, Austrália, Nova Zelândia, Filipinas, Tailândia e Paquistão.
- CENTO. Em 1955 foi assinado o Pacto de Bagdá, aliança de segurança no Oriente Próximo entre a Grã-Bretanha, a Turquia, o Iraque, o Paquistão e o Irã. Com a retirada do Iraque da aliança em 1959, esse pacto foi transformado em CENTO (“Organização do Tratado Central”).
O bloco oriental
As “democracias populares”
Durante a década de 1930, a União Soviética se estabeleceu como um estado totalitário baseado no controle da população e na repressão à dissidência. No entanto, o regime de Stalin alcançou uma rápida industrialização, o que lhe permitiu se posicionar como uma potência mundial e ser um dos vencedores da Segunda Guerra Mundial.
Quando a Guerra Fria eclodiu contra as democracias ocidentais, novos Estados “satélites” da União Soviética (que adotaram o nome de “democracias populares”) foram organizados nas áreas da Europa ocupadas pelo Exército Vermelho.
Com exceção da Albânia e da Iugoslávia, onde a guerrilha comunista autóctone triunfou sobre as forças do Eixo no final da Segunda Guerra Mundial e levou os comunistas diretamente ao poder, o estabelecimento de “democracias populares” na Alemanha Oriental, Romênia, Bulgária, Hungria e Polônia, por meio da intervenção soviética, ocorreu durante um processo que culminou em 1948 com o golpe de Praga (quando o modelo comunista foi imposto também na Tchecoslováquia).
O processo foi semelhante em todos os países envolvidos:
- Em primeiro lugar, houve a “desnazificação”, ou seja, o expurgo (afastamento de cargos públicos e prisão, execução ou outro tipo de punição) daqueles que haviam colaborado com o Eixo, o que muitas vezes também implicava a repressão de uma parte significativa das classes mais abastadas, quer tivessem simpatizado com o nazismo ou não.
- Em segundo lugar, formavam-se “Frentes Nacionais”, nas quais o Partido Comunista do país colaborava com várias forças democráticas, mas reservava para si os principais cargos do governo (como os ministérios do Interior, da Defesa, da Economia ou da Justiça).
- Em terceiro lugar, promoveu-se a eliminação das forças não comunistas e a completa “satelização” do novo regime. A repressão a qualquer dissidência foi acompanhada pela total dependência de Moscou.
No campo econômico, os soviéticos nacionalizaram terras e fábricas, e até mesmo desmantelaram e transferiram fábricas inteiras, funcionários e recursos para a União Soviética. Em geral, observava-se uma tendência nas “democracias populares” de organizar as atividades econômicas de acordo com as diretrizes e os interesses de Moscou. Os acordos bilaterais entre a União Soviética e os vários países do bloco oriental regulamentavam as relações econômicas mútuas.
O cisma iugoslavo em 1948 constituiu a primeira rachadura no bloco que estava se formando em torno da União Soviética, quando o marechal Tito rompeu relações com o regime soviético sem abandonar o socialismo. Na década de 1960, os regimes da Albânia e da Romênia deixaram de participar dos órgãos do bloco oriental, enquanto Cuba, ao contrário, aderiu ao bloco após a revolução de 1959.
A organização do bloco comunista
A divulgação da Doutrina Jdanov (que afirmava que o mundo estava dividido entre um bloco imperialista, liderado pelos Estados Unidos, e um bloco democrático, liderado pela União Soviética) e a criação do Kominform em 1947 foram as primeiras reações da União Soviética após o rompimento com as potências ocidentais. O Kominform era um órgão de coordenação para os países do bloco comunista e desempenhou um papel importante na mobilização ideológica e na propaganda nesses países. Após a divisão da Iugoslávia, o Kominform mudou seu foco para a luta contra Tito, devido ao medo de Stalin de “contagiar” o restante das “democracias populares”.
Outro elemento importante do trabalho do Kominform foi a organização do Movimento pela Paz, que concentrou suas críticas nos armamentos nucleares americanos e lançou grandes campanhas de assinaturas pedindo a proibição das armas atômicas. Essas campanhas, que simultaneamente apresentavam o poder soviético como um defensor da paz, ganharam o apoio de um grande número de intelectuais em todo o mundo.
Ao mesmo tempo, nos Estados “satélites”, uma nova onda de expurgos (1948–1952) marcou os últimos anos da ditadura de Stalin. Qualquer tentativa de iniciar uma “via nacional” para o socialismo que não seguisse à risca o modelo soviético era acusada de “desvio”, e seus apoiadores eram tachados de “trotskistas” ou “titoístas”.
A realidade foi que aproximadamente um quarto dos militantes comunistas (geralmente os mais graduados e experientes) foram julgados, presos ou executados. A repressão tornou-se uma característica das “democracias populares”.
COMECON e o Pacto de Varsóvia
Em 1949, nasceu o COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua), uma instituição multinacional que reunia a URSS e os países do Leste (com exceção da Iugoslávia). O COMECON buscava promover e planejar o comércio entre os países do bloco. Foi somente em 1960 que o COMECON conseguiu funcionar plenamente.
A União Soviética criou uma rede de alianças para dar coerência ao seu bloco. No entanto, essa rede era muito menos densa do que a do bloco ocidental e levou mais tempo para se consolidar. O governo de Moscou assinou acordos bilaterais com as “democracias populares” e com a China comunista de Mao.
Dois anos após a morte de Stalin e após a entrada da República Federal da Alemanha na OTAN, nasceu o Pacto de Varsóvia em 1955, uma aliança militar que uniu a União Soviética a todos os países europeus do bloco comunista, com exceção da Iugoslávia.
Estima-se que as forças militares do Pacto eram de 6 milhões de soldados, com armamento altamente sofisticado. O comando unificado dessas tropas foi colocado nas mãos de um general soviético. Em julho de 1991, alguns meses antes da dissolução da União Soviética, o Pacto de Varsóvia foi extinto. Poucos dias antes, o COMECON havia deixado de funcionar.
Continue com:
- Democracias Populares na Guerra Fria
- A Nova Guerra Fria (1975–1985)
- Cronologia da Guerra Fria
- Final da Guerra Fria
Referências
- Britannica, Encyclopaedia (2022). Cold War. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
- Powaski, R. E. (2000). La Guerra Fría: Estados Unidos y la Unión Soviética, 1917-1991. Crítica.
- Veiga, F., Da Cal, E. & Duarte, A. (2006). La paz simulada. Una historia de la Guerra Fría. Alianza.
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