Vamos explicar o que foi a União Soviética, sua origem e como foi a sua história. Além disso, seus principais líderes e o papel dos movimentos nacionalistas na sua dissolução.
O que foi a União Soviética (URSS)?
A União Soviética, oficialmente chamada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), foi um Estado federal composto por quinze repúblicas do centro e do norte da Ásia e da Europa Oriental, com capital em Moscou (Rússia) e governada pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Caracterizou-se pela implementação dos princípios marxistas de planejamento estatal da economia.
A União Soviética foi criada em 1922, pouco depois que os bolcheviques, liderados por Lenin, tomassem o poder na Rússia em novembro de 1917. Após a morte de Lenin em 1924, seu líder foi Josef Stalin, que estimulou a indústria pesada e liderou a participação soviética na Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Nos anos do pós-guerra, iniciou-se a Guerra Fria, que contrapôs as duas potências que garantiram a vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista: a União Soviética e os Estados Unidos.
Após a morte de Stalin em 1953, Nikita Khrushchev adotou uma política de “desestalinização” e foi substituído em 1964 por Leonid Brejnev. A União Soviética se desintegrou quando as reformas liberalizantes implementadas por Mikhail Gorbachev desde 1985, os movimentos democráticos e nacionalistas nos Estados satélites da Europa Oriental e na própria União Soviética levaram ao abandono do regime comunista. A União Soviética deixou de existir em 31 de dezembro de 1991.
- Veja também: Final da Guerra Fria
As origens da União Soviética
Em março de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), uma revolução derrubou o czar Nicolau II, que governava o Império Russo. Depois de um período em que o poder era compartilhado por um governo provisório (com sede em Petrogrado) e pelos sovietes (conselhos de trabalhadores), uma nova revolução em novembro de 1917 levou ao poder o partido bolchevique, liderado por Lenin, que estabeleceu um regime comunista inspirado nas ideias de Karl Marx.
Em dezembro de 1917, o governo bolchevique assinou o armistício com os Impérios Centrais e, em março de 1918, assinou o Tratado de Brest-Litovsk, no qual cedeu alguns territórios. Após a derrota dos Impérios Centrais na Primeira Guerra Mundial e depois da vitória bolchevique na guerra civil russa contra os “Brancos” (contrarrevolucionários apoiados pelas potências ocidentais), o governo bolchevique recuperou a maioria dos territórios que haviam pertencido ao Império Czarista em 1921.
Em dezembro de 1922, as repúblicas socialistas soviéticas da Rússia, Ucrânia, Transcaucásia e Bielorrússia assinaram um tratado que criou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que mais tarde recebeu a adesão de outras repúblicas. A União Soviética se constituiu em um Estado federal composto por quinze repúblicas soviéticas e era governada pelo Partido Comunista da União Soviética, cuja figura principal era o secretário-geral do partido.
A União Soviética na Era Stalin (1924–1953)
Entre 1917 e 1921, Lenin implantou o comunismo de guerra, ou seja, o planejamento estatal da economia e as requisições de grãos para apoiar o Exército Vermelho na guerra civil. Em março de 1921, Lenin implantou a NEP (Nova Política Econômica), que favorecia uma economia mista (privada e estatal), mas após sua morte em 1924, o novo líder da União Soviética, Josef Stalin, abandonou a NEP em 1928 e promoveu um processo de industrialização intensiva e uma política de coletivização forçada da agricultura (por meio da expropriação de terras e da criação de fazendas coletivas sob controle do Estado).
O modelo stalinista trouxe fome e reforçou as políticas repressivas do Estado soviético (com assassinatos e deportações para campos de trabalho, bem como o culto à personalidade de Stalin). Entretanto, viabilizou o desenvolvimento da indústria pesada e garantiu a posição da União Soviética como potência mundial. Quando a Segunda Guerra Mundial começou (1939–1945), Stalin dividia o controle da Polônia com a Alemanha de Hitler, mas o pacto entre os dois governos foi rompido quando as tropas alemãs invadiram a União Soviética em 1941.
A entrada dos Estados Unidos e da União Soviética na Segunda Guerra Mundial decidiu a vitória dos Aliados em 1945. Com a Europa destruída pela guerra, os Estados Unidos e a União Soviética emergiram como as duas superpotências mundiais e, a partir de então, se envolveram em um confronto diplomático, político e econômico conhecido como Guerra Fria. Cada superpotência passou a liderar um bloco de países com suas próprias características:
- O bloco ocidental ou capitalista, composto por países da Europa Ocidental com democracias multipartidárias que, devido ao Plano Marshall (programa de ajuda econômica dos EUA para a reconstrução europeia) e à criação de uma aliança militar chamada OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ficaram sob a influência dos Estados Unidos.
- O bloco oriental ou comunista, composto por países da Europa Central e Oriental que haviam sido ocupados pelo Exército Vermelho e onde a União Soviética favorecia a criação de “democracias populares”. Eram governados por seus respectivos partidos comunistas sob o controle estrito do PCUS (e, a partir de 1955, unidos em uma aliança militar conhecida como Pacto de Varsóvia).
A União Soviética na era Khrushchev (1953–1964)
As reformas agrícolas de Nikita Khrushchev
Após a morte de Stalin e um breve período de transição, Nikita Khrushchev assumiu o cargo de primeiro secretário do PCUS e, assim, chegou ao poder na União Soviética. O período de Khrushchev (1953–1964) foi caracterizado por uma série de reformas que atenuaram os aspectos mais severos da ditadura soviética.
Imediatamente ao período pós-guerra, o esforço econômico da União Soviética direcionou-se à reconstrução do país devido à devastação que a Segunda Guerra Mundial havia ocasionado. Após a morte de Stalin, Khrushchev promoveu um programa de reformas econômicas que afetaram principalmente o setor agrícola. Essas reformas tinham o objetivo de reduzir o planejamento econômico para aumentar a produção de alimentos e melhorar o padrão de vida da população.
Os camponeses foram autorizados a aumentar a produção privada, aumentaram os pagamentos em dinheiro aos kolkhozes ou fazendas coletivas e houve mais investimentos no setor agrícola. Além disso, em 1954, teve início a “Campanha das Terras Virgens”, que consistia em cultivar uma grande área de terras virgens (provavelmente mais de 300 mil km2) na região russa de Altai e no atual Cazaquistão, por meio do uso massivo de máquinas agrícolas modernas.
A primeira colheita foi bem-sucedida, mas a monocultura do trigo desgastou o solo e o tornou improdutivo. Poucos anos após o início da campanha, a União Soviética foi forçada a importar grandes quantidades de grãos canadenses.
Descentralização industrial e o programa espacial
No setor industrial, a principal novidade da Era Khrushchev foi a tentativa de descentralizar a tomada de decisões por meio da criação de conselhos econômicos regionais com certa autonomia para o planejamento econômico. Além disso, para lidar com a crise habitacional, foi incentivada a construção residencial de pequenos apartamentos pré-fabricados.
Em 1957, a União Soviética demonstrou seu poder técnico e econômico com o lançamento bem-sucedido do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1. A economia soviética dedicou recursos consideráveis à corrida espacial, um objetivo que fazia parte da Guerra Fria, já que os foguetes que colocavam os satélites em órbita também serviam como mísseis balísticos intercontinentais.
Khrushchev relançou o COMECON (em inglês CAME, Conselho Econômico para Assistência Mútua), uma organização econômica criada em 1949 sob a liderança da União Soviética com a finalidade de coordenar as relações econômicas entre os países do bloco socialista.
A desestalinização
Um dos aspectos mais importantes do governo de Khrushchev foi sua política de “desestalinização”. No XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, Khrushchev fez um discurso secreto no qual criticou Stalin. O discurso chegou à opinião pública e deu início a um período de maior liberdade de expressão na União Soviética, acompanhado pelo retorno ao lar de centenas de milhares de prisioneiros do Gulag (sistema de campos de concentração soviéticos).
Na política internacional, Khrushchev propôs uma “coexistência pacífica” com o bloco ocidental após a assinatura do armistício nas guerras da Coreia (1953) e da Indochina (1954), levando ao rompimento das relações diplomáticas com a República Popular da China. Apesar dessa orientação política, comumente chamada de “degelo”, o regime continuou empregando a repressão para sufocar a dissidência dentro e fora da União Soviética, como ficou demonstrado pelo uso de tanques soviéticos para conter a Revolução Húngara de 1956.
Para muitos membros da nomenklatura (a elite do Partido Comunista), Khrushchev já havia ido longe demais em suas reformas. Seus erros de política externa, especialmente com a Crise dos Mísseis em Cuba em 1962 (conflito diplomático com os Estados Unidos sobre a instalação de uma base de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, que acabou tendo de ser desmontada), contribuíram para sua queda. Em 1964, enquanto estava de férias, uma reunião especial do Politburo do PCUS o exonerou.
A União Soviética na Era Brejnev (1964–1982)
Os “anos de estagnação”
O sucessor de Khrushchev como secretário-geral do PCUS foi Leonid Brejnev, cujo longo mandato é frequentemente chamado de “anos de estagnação” (1964–1982).
Até o início da década de 1960, a União Soviética era a maior produtora mundial de petróleo, carvão, minério de ferro e cimento. Também estava em uma corrida espacial e armamentista contra os Estados Unidos (a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial em órbita em 1957 e colocou o primeiro ser humano no espaço sideral em 1961).
O planejamento centralizado soviético conseguiu industrializar a União Soviética e transformá-la em uma potência política e militar em um período de tempo relativamente curto. No entanto, a alocação de recursos do modelo soviético não foi capaz de atender às crescentes demandas da população por bens de consumo e serviços.
Entre 1946 e 1964, o crescimento da produção per capita da União Soviética foi um pouco maior do que o dos países capitalistas da Europa Ocidental. No entanto, entre 1964 e 1982, a economia soviética cresceu menos do que a da Europa Ocidental. No início da década de 1980, as diferenças econômicas entre a União Soviética e os países capitalistas mais desenvolvidos eram enormes.
As conquistas econômicas soviéticas concentravam-se no esforço de guerra (energia nuclear e aeroespacial), mas não podiam ser estendidas ao restante do aparato produtivo, o que caracterizou os “anos de estagnação” da Era Brejnev.
Um retorno à ortodoxia comunista
Na esfera política, Brejnev voltou à ortodoxia comunista: Stalin foi novamente considerado “um líder excepcional do partido”, a repressão contra dissidentes foi intensificada e a censura foi novamente imposta à liberdade de expressão.
A intervenção soviética nas “democracias populares” da Europa Oriental foi firme: em 1968, a Tchecoslováquia foi invadida para reprimir um movimento reformista conhecido como “Primavera de Praga” e, em 1981, o governo comunista polonês, sob pressão das autoridades soviéticas, declarou a lei marcial para lidar com as manifestações da oposição.
Dois jornais, Pravda (“Verdade”) e Izvestia (“Notícias”), eram a mídia de propaganda do partido e do governo, respectivamente. Em seus artigos, as autoridades soviéticas faziam circular a “verdade oficial”, enquanto os dissidentes sofriam repressão (como o caso do físico Andrei Sakharov, que foi preso por suas ideias antimilitaristas, e do escritor Alexander Solzhenitsyn, que escreveu sobre os campos de trabalhos forçados stalinistas e foi expulso da União Soviética).
Brejnev morreu em novembro de 1982. Ele deixou a União Soviética com uma economia em declínio (incapaz de competir com a iniciativa de tecnologia militar do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan), e com um grupo governante de líderes idosos que não estavam dispostos a fazer reformas. Brejnev foi sucedido por Iúri Andropov, ex-chefe dos serviços secretos, que morreu em fevereiro de 1984, e Andropov foi sucedido por Konstantin Chernenko, que morreu em março de 1985.
Nessa época, a necessidade de reformas profundas na União Soviética tornou-se evidente. Em 1985, Mikhail Gorbachev foi eleito secretário-geral do PCUS.
As reformas de Gorbachev e a desintegração da União Soviética (1985–1991)
A Perestroika e a Glasnost
Em março de 1985, Mikhail Gorbachev assumiu o cargo de secretário-geral do PCUS e, portanto, de líder da União Soviética. Naquela época, a situação econômica era delicada e Gorbachev iniciou um programa de reformas econômicas e políticas, conhecidas respectivamente como Perestroika (reestruturação) e Glasnost (transparência).
Em apenas alguns anos, Gorbachev introduziu mudanças importantes:
- As reformas parciais objetivavam introduzir elementos de uma economia de mercado e integrar a economia soviética à economia internacional. Por exemplo: o abandono do planejamento central, concedendo às empresas maior poder de decisão sobre os níveis de produção e autonomia financeira, a autorização da propriedade cooperativa fora do setor agrícola, as boas-vindas aos investimentos estrangeiros na forma de empresas mistas e a flexibilização das regulamentações de comércio exterior.
- O estabelecimento da Glasnost, que permitiu maior liberdade de expressão na mídia.
- A reforma do sistema eleitoral, que permitiu que alguns dissidentes, como Andrei Sakharov, tivessem acesso ao parlamento soviético.
- A flexibilização das relações com os Estados Unidos, acompanhada de uma redução nos gastos militares e do abandono da Doutrina Brejnev (que obrigava a União Soviética e outros países-membros do Pacto de Varsóvia a intervir militarmente nos países do bloco oriental que sofressem manifestações contra o regime comunista).
Essas medidas não foram planejadas por Gorbachev para abandonar o regime comunista, mas sim para reformá-lo. No entanto, Gorbachev foi pego no meio de uma tensão entre os conservadores que ansiavam pelos tempos de Brejnev e os reformistas que exigiam mais mudanças.
- Veja também: Perestroika e glasnost
Os movimentos nacionalistas e a queda do bloco comunista
Uma vez que o Estado soviético era formado por múltiplas identidades nacionais, o contexto de crise econômica e maiores liberdades políticas estimulou, a partir de 1988, o desenvolvimento de importantes movimentos nacionalistas nas diferentes repúblicas que compunham a União Soviética. As demandas variavam de uma certa autonomia cultural à independência.
Nas “democracias populares” da Europa Central e Oriental, as reformas de Gorbachev e sua promessa de intervenção não militar desencadearam um amplo movimento democrático. Na Polônia, foi instalado em 1988 o primeiro governo não comunista desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1989, os governos comunistas da Europa Central e Oriental caíram um após o outro. O maior símbolo do fim do bloco soviético foi a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989.
A dissolução do bloco soviético e as crescentes demandas nacionalistas na União Soviética (que em 1990 levaram a Lituânia a proclamar sua independência) mobilizaram as forças conservadoras em favor do retorno à ortodoxia comunista. Ao mesmo tempo, as forças liberais que pediam mais reformas obtiveram uma grande vitória quando Boris Iéltsin, o principal líder reformista, foi eleito presidente da República Socialista Soviética Russa e assumiu o cargo em maio de 1990.
Diante da impotência de Gorbachev, que permaneceu como secretário-geral do PCUS e líder da União Soviética, em agosto de 1991, as forças conservadoras do partido, a KGB (a polícia secreta soviética) e o exército deram um golpe de Estado e aprisionaram Gorbachev em sua residência de verão no Mar Negro. Contudo, a falta de unidade no exército e as ações de protesto popular em Moscou, lideradas por Boris Iéltsin, impediram a tentativa de golpe.
A dissolução da União Soviética
Após o golpe militar frustrado, Iéltsin ordenou a proibição do CPSU, o instrumento político que governou e manteve a União Soviética unida por décadas.
Em 8 de dezembro de 1991, os líderes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia concordaram com a chamada Declaração de Belovezhskaya Pusha (também chamada de Tratado de Belaveja): essas três repúblicas eslavas deixaram a União Soviética, tornaram-se Estados independentes e passaram a fazer parte de uma confederação chamada Comunidade de Estados Independentes (CEI).
No dia 21 de dezembro, outras oito repúblicas tomaram a mesma decisão, enquanto Estônia, Letônia, Lituânia e Geórgia, que também haviam optado pela independência, não aderiram à CEI (a Geórgia aderiu em 1993).
Gorbachev renunciou ao cargo de presidente da União Soviética em 25 de dezembro de 1991, quando a bandeira vermelha da União Soviética foi hasteada no Kremlin de Moscou. A União Soviética deixou de existir oficialmente em 31 de dezembro de 1991.
- Continue com: História da União Europeia
Referências
- Conquest, R. et al. (2022). Soviet Union. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
- Fitzpatrick, S. (2005). La revolución rusa. Siglo XXI.
- Powaski, R. E. (2000). La Guerra Fría: Estados Unidos y la Unión Soviética, 1917-1991. Crítica.
- Saborido, J. (2009). Historia de la Unión Soviética. Emecé.
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