Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948–1949)

Vamos explicar a primeira guerra árabe-israelense e a disputa entre árabes e judeus pelo território da Palestina. Além disso, os resultados da guerra.

Na primeira guerra árabe-israelense, as populações árabe e judaica lutaram pelo território da Palestina.

Em que consistiu a Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948–1949)?

A Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948–1949) foi um conflito militar no qual o Estado de Israel enfrentou o Egito, a Síria, a Transjordânia, o Líbano e o Iraque. Este foi o primeiro confronto militar do conflito árabe-israelense em que a população judaica e a população árabe disputaram o território da Palestina.

Enquanto em Israel esse confronto é conhecido como “a Guerra da Independência”, para a população árabe-palestina ele é lembrado como a Nakba, que em árabe significa “a catástrofe (ou ‘desastre’)”.

A primeira guerra árabe-israelense começou em maio de 1948, quando foi oficialmente dissolvido o Mandato Britânico da Palestina. A ONU havia deliberado a criação de dois Estados independentes para árabes e judeus. No entanto, a divisão do território não foi equilibrada e a Liga Árabe (que representava a população árabe da Palestina) rejeitou o Plano de Partição da Palestina da ONU.

Quando as tropas britânicas se retiraram da Palestina, ainda não havia sido realizado um acordo. O líder sionista David Ben Gurion proclamou a criação do Estado de Israel e, em resposta, as nações árabes vizinhas enviaram seus exércitos.

A guerra durou menos de um ano e terminou com a vitória decisiva do novo Estado de Israel sobre os países árabes vizinhos. Como resultado, Israel consolidou seu poder sobre quase 80% do antigo território palestino.

O conflito custou a vida de quase 20 mil pessoas. Ademais, toda a população árabe foi expulsa do novo Estado de Israel e teve de se refugiar nos países árabes vizinhos.

Contexto da Primeira Guerra Árabe-Israelense

A sociedade no território palestino

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o território da Palestina, que pertencia ao antigo Império Otomano, se tornou o Mandato Britânico da Palestina. A população palestina era majoritariamente muçulmana, mas, entre 1920 e 1940, o número de habitantes judeus cresceu exponencialmente. Isso se deveu à perseguição sofrida pelos judeus em diferentes partes da Europa, à disseminação do nacionalismo judaico e à expansão do sionismo político.

O sionismo político é uma ideologia que sustenta que os judeus têm direitos divinos sobre a terra de Israel (território palestino). Desde o fim do século XIX, a Organização Sionista Mundial (WZO) trabalhou pela imigração pacífica de judeus para a Palestina.

Em 1920, dos quase 750 000 habitantes palestinos, estima-se que, naquela época, cerca de 80% deles praticavam a fé muçulmana, 11% a fé judaica, 9% a fé cristã e 1% outras religiões. Em 1948, acredita-se que a população palestina tenha chegado a 1 900 000, dos quais 65% eram muçulmanos e cerca de 35% judeus.

Origens dos conflitos entre árabes e judeus na Palestina

Durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de garantir o apoio da população local contra o Império Otomano, o Reino Unido fez promessas contraditórias às comunidades judaica e muçulmana. Através da Declaração Balfour, os britânicos apoiaram a criação de um Estado de Israel em território palestino. Paralelamente, prometeu independência aos grupos nacionalistas árabes da comunidade muçulmana.

Durante a década de 1930, as relações entre árabes e judeus ficaram tensas e começaram a surgir distúrbios. A população árabe reivindicava um freio à crescente imigração judaica e às prerrogativas de governo autônomo concedidas às comunidades judaicas pelos britânicos. Em 1936, teve início a Grande Revolta Árabe, que consistiu em uma série de protestos e mobilizações reprimidos durante três anos.

No decorrer dos anos seguintes, o confronto se tornou cada vez mais violento. Muitos dos líderes nacionalistas árabes tiveram que se exilar. Por outro lado, a comunidade judaica começou a formar grupos paramilitares. Neste contexto, ficou claro que não era possível nem a coexistência das duas populações, nem a formação de um Estado palestino multirreligioso. Em vez disso, a necessidade de partição da Palestina em dois Estados independentes começou a ganhar forma.

O plano da ONU

Durante a década de 1940, como parte do processo de descolonização na Ásia, várias nações do Oriente conquistaram a independência em relação ao domínio colonial do Reino Unido. No final da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido concordou em se retirar da Palestina. Em novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu aceitar o Plano de Partição da Palestina por meio da Resolução 181.

O plano da ONU propunha a divisão de todo o território palestino em dois Estados independentes e a exclusão das cidades de Belém e Jerusalém como cidades autônomas, administradas pela ONU (por sua importância histórica e religiosa).

O plano previa uma divisão complexa e incômoda do território entre as duas nações. O novo Estado de Israel ocuparia 55% do território palestino, com uma população de 500 mil judeus e 400 mil árabes. O Estado da Palestina incluiria 44% do território, com uma população de 800 mil árabes e uma minoria de 10 mil judeus.

A Liga Árabe (uma coalizão dos principais Estados árabes da região, que representava a população árabe palestina) criticou o plano pela distribuição desigual do território em relação à quantidade de população e rejeitou a proposta. Por sua vez, a comunidade judaica aceitou o plano, já que constituía um endosso legal da criação oficial de um Estado de Israel na Palestina.

Neste contexto, a agitação e a violência na Palestina se intensificaram. Os ataques de ambos os lados se tornaram mais fortes e as forças paramilitares de ambos os grupos cresceram. Nos primeiros meses de 1948, os confrontos nas ruas causaram dezenas de mortes.

Desenrolar da Primeira Guerra Árabe-Israelense

O rei Abdullah, da Transjordânia, comandou as forças árabes contra Israel.

Embora a proposta da ONU tenha sido rejeitada pela comunidade árabe, a Resolução 181 previa a retirada das tropas britânicas da Palestina até 15 de maio de 1948. Em 14 de maio, a comunidade judaica, liderada por David Ben Gurion, proclamou a Declaração de Independência de Israel nos territórios estabelecidos pelo Plano de Partição da ONU. Os Estados Unidos, a União Soviética e outras potências ocidentais reconheceram imediatamente o novo Estado.

No dia seguinte, quando o Reino Unido deixou oficialmente de ter autoridade, o Egito, a Síria, a Transjordânia, o Líbano e o Iraque invadiram o recém-criado Estado de Israel. As forças árabes eram comandadas pelo rei Abdullah da Transjordânia. Seu principal objetivo declarado era a criação de um único Estado palestino multirreligioso e, para isso, era necessária a destruição do Estado de Israel.

Os diferentes grupos paramilitares judeus se unificaram nas Forças de Defesa de Israel e, em pouco tempo, conseguiram deter o ataque árabe e avançar no território que a ONU havia alocado para a população árabe palestina. Nos meses seguintes, expulsaram os exércitos árabes da região da Galileia, do deserto de Negev e consolidaram sua posição no oeste de Jerusalém e no centro do país. Ademais, avançaram na Faixa de Gaza, no Sinai e no sul do Líbano.

Em janeiro de 1949, a vitória israelense tornou-se definitiva. Entre fevereiro e julho, os vários países árabes assinaram um armistício com Israel.

Resultado da Primeira Guerra Árabe-Israelense

Após a derrota das forças árabes, foi assinado um armistício entre Israel e a Transjordânia em abril de 1949.

A Primeira Guerra Árabe-Israelense representou uma grande vitória para a comunidade judaica e para o recém-criado Estado de Israel. A reivindicação da comunidade judaica em relação às terras palestinas tornou-se legítima com a aceitação da ONU. Com a vitória na guerra, a criação do país judeu foi definitiva.

Em decorrência da guerra, o Estado de Israel incorporou 5200 quilômetros quadrados a mais do que fora designado pelo Plano de Partição da ONU e atingiu quase 80% do antigo território palestino. Os demais territórios foram anexados por países vizinhos; a Cisjordânia e a cidade de Jerusalém foram incorporadas pela Transjordânia e a Faixa de Gaza pelo Egito.

A estimativa é de que as batalhas durante a guerra resultaram em mais de 6 mil mortes de judeus e entre 10 mil e 12 mil mortes de árabes. Além disso, toda a população árabe foi expulsa do novo Estado de Israel. Isso significou a migração em massa de cerca de 750 mil pessoas para países vizinhos como refugiados de guerra.

O conflito árabe-israelense sobre os territórios da Palestina continuou durante todo o século XX e até os dias de hoje. Entre os confrontos mais importantes que se seguiram à primeira guerra árabe-israelense estão a Crise do Canal de Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a segunda Guerra Árabe-Israelense (1973).

Referências

  • Black, I. (2017). Enemies and neighbors: Arabs and Jews in Palestine and Israel, 1917-2017. Atlantic Monthly Press.
  • Britannica, The Editors of Encyclopaedia (2023). "Arab-Israeli wars". Encyclopedia Britannica.
    https://www.britannica.com/ 
  • Palmowski, J. (2000). "Balfour Declaration", “Israel” y “Palestina”. En A dictionary of twentieth-century world history. Oxford University Press.
  • Van Dijk, R., Gray, W. G., Savranskaya, S., Suri, J., & Zhai, Q. (Eds.). (2013). “Israel”. Encyclopedia of the Cold War. Routledge.

Continue com:

Como citar?

Citar a fonte original da qual extraímos as informações serve para dar crédito aos respectivos autores e evitar cometer plágio. Além disso, permite que os leitores acessem as fontes originais que foram utilizadas em um texto para verificar ou ampliar as informações, caso necessitem.

Para citar de forma adequada, recomendamos o uso das normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que é uma entidade privada, sem fins lucrativos, usada pelas principais instituições acadêmicas e de pesquisa no Brasil para padronizar as produções técnicas.

Kiss, Teresa. Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948–1949). Enciclopédia Humanidades, 2024. Disponível em: https://humanidades.com/br/primeira-guerra-arabe-israelense-1948-1949/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Teresa Kiss

Professora de História do ensino médio e superior.

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 22 de setembro de 2024
Data de publicação: 29 de janeiro de 2024

Esta informação foi útil para você?

Não

    Genial! Obrigado por nos visitar :)