Vamos explicar o que foi a crise dos “euromísseis” e como ela foi resolvida. Além disso, o contexto histórico.
O que foi a crise dos “euromísseis”?
A crise dos “euromísseis” foi uma crise diplomática e militar entre a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o Pacto de Varsóvia no contexto da Guerra Fria. Começou no final da década de 1970 e terminou com a assinatura do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), em 1987.
A crise começou com a implantação de mísseis nucleares SS-20 na Europa Central e Oriental pelos soviéticos, que tinham a capacidade de atingir qualquer país da Europa. O apelo do chanceler da República Federal da Alemanha para que a OTAN interviesse levou à adoção, em 12 de dezembro de 1979, da chamada “decisão dupla”.
A “decisão dupla” da OTAN deu à União Soviética (URSS) um prazo de quatro anos para negociar a retirada de seus mísseis da Europa e, se não houvesse acordo, previa a instalação de mísseis norte-americanos Pershing e Cruise na Europa Ocidental para combater a ameaça soviética. O fracasso das negociações em 1983 levou à implantação dos “euromísseis” da OTAN na Europa Ocidental.
A crise dos “euromísseis” terminou em dezembro de 1987 com a assinatura de um tratado para a eliminação de mísseis de alcance intermediário entre o líder soviético Mikhail Gorbachev e o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan.
PONTOS IMPORTANTES
- A crise dos “euromísseis” foi uma crise diplomática e militar da Guerra Fria entre os países do Pacto de Varsóvia, liderados pela URSS, e a OTAN, liderada pelos Estados Unidos.
- Começou no final da década de 1970, quando a URSS instalou mísseis nucleares de alcance intermediário na Europa Central e Oriental e disparou o alarme nos países da Europa Ocidental.
- A OTAN apresentou a “decisão dupla”: negociar um acordo com a URSS dentro de quatro anos e, após o prazo, instalar mísseis de alcance intermediário dos Estados Unidos na Europa Ocidental, o que aconteceu em 1983.
- A crise dos “euromísseis” terminou em 1987, quando o presidente norte-americano Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbachev assinaram o Tratado INF para a eliminação dos mísseis de alcance intermediário.
- Veja também: Crise dos mísseis em Cuba
O contexto histórico
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética compartilhavam a hegemonia sobre a Europa e formaram duas alianças militares que reuniam os países de cada um dos dois blocos: a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que reunia os países do bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, que reunia os países do bloco oriental.
Na década de 1970, a União Soviética começou a implantar na Europa Central e Oriental novos mísseis nucleares de alcance intermediário (ou seja, com alcance inferior a 5500 quilômetros), que a OTAN designou com o código SS-20.
Esses mísseis tinham a clara intenção de intimidar a Europa Ocidental, pois poderiam atingir qualquer país do continente e, portanto, eram uma ameaça em potencial de uma guerra limitada na qual o governo dos Estados Unidos não ousaria intervir diante da ameaça dos mísseis estratégicos (de longo alcance) soviéticos.
Já o governo soviético buscava, a longo prazo, a neutralização da Europa Ocidental, ou seja, seu distanciamento dos Estados Unidos, o que tornaria a União Soviética a única grande potência militar europeia. Para atingir seus objetivos, os soviéticos contaram com a força da opinião pública pacifista nos países da Europa Ocidental, especialmente na República Federal da Alemanha.
Foi o chanceler alemão Helmut Schmidt quem propôs, em 1977, que os Estados Unidos negociassem com a União Soviética um acordo sobre o que a imprensa começou a chamar de “euromísseis”. Caso não se chegasse a um acordo, Schmidt propôs que o governo dos Estados Unidos implantasse mísseis na Europa Ocidental para compensar o desequilíbrio causado pela colocação dos SS-20 soviéticos.
- Veja também: Blocos da Guerra Fria
A “decisão dupla” da OTAN.
A OTAN seguiu a proposta de Helmut Schmidt e adotou, em 12 de dezembro de 1979, o que foi chamado de “decisão dupla”: se não se chegasse a um acordo com a União Soviética sobre a retirada dos mísseis SS-20, a OTAN implantaria, em dezembro de 1983, quinhentos e setenta e dois mísseis americanos de alcance intermediário (Pershing e Cruise) na Grã-Bretanha, Bélgica, Holanda, Itália e República Federal da Alemanha. O objetivo dessa implantação era restaurar a paridade nuclear.
O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, propôs a “opção zero” em 1981, ou seja, um acordo para retirar os SS-20 soviéticos da Europa Central e Oriental em troca do compromisso da OTAN de não instalar os mísseis Pershing e Cruise norte-americanos na Europa Ocidental.
Após longas discussões, a União Soviética interrompeu as negociações no outono de 1983, o que levou a OTAN a iniciar o lançamento de mísseis.
Os quatro anos entre a decisão e o lançamento dos “euromísseis” foram marcados por protestos pacíficos em massa em toda a Europa Ocidental. Na República Federal da Alemanha, esses protestos foram mais vigorosos e, em alguns casos, levaram até mesmo à defesa do neutralismo extremo.
A crise na Alemanha levou, no outono de 1982, a uma crise governamental histórica: a coalizão de centro-esquerda dos social-democratas (SPD) e dos liberais (FDP) deixou o governo diante da oposição ao lançamento de mísseis por uma fração significativa dos deputados do SPD. Isso deu início a um longo período de hegemonia de centro-direita na Alemanha, liderado por Helmut Kohl.
A crise terminou em 1987 com a assinatura em Washington do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) entre o líder soviético Mikhail Gorbachev e o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, que concordou em eliminar os mísseis nucleares de alcance intermediário.
Quem foi Helmut Schmidt?
Helmut Schmidt (1918–2015) foi um político alemão pertencente ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) que atuou como chanceler da República Federal da Alemanha de 1974 a 1982. Anteriormente havia sido Ministro da Defesa (1969-1972) e Ministro da Economia (1972-1974) no governo de Willy Brandt.
Schmidt foi uma figura política muito influente na Europa Ocidental. Procurou estabelecer laços com os países do bloco oriental sob hegemonia soviética, incluindo a República Democrática Alemã, sem abandonar a aliança com os Estados Unidos e a adesão da República Federal da Alemanha à OTAN.
As divergências entre os liberais e os social-democratas que formavam a coalizão governamental sobre o corte ou não dos programas sociais durante a recessão do início da década de 1980 e a insatisfação dos social-democratas com a política de segurança de Schmidt no contexto da crise dos “euromísseis” forçaram sua renúncia.
O cargo de chanceler foi então ocupado por Helmut Kohl, um representante da centro-direita alemã. Schmidt morreu em 2015, aos 96 anos de idade.
Quem foi Helmut Kohl?
Helmut Kohl (1930–2017) foi um político alemão que liderou o partido União Democrata Cristã (CDU), a partir de 1973 e tornou-se chanceler da República Federal da Alemanha em 1982, apoiado pela crise interna causada pela questão dos “euromísseis”. Foi reeleito quatro vezes, inclusive após a reunificação, tornando-se o chanceler que mais tempo permaneceu no cargo na República Federal da Alemanha (1982–1998).
Baseado no eixo Paris-Bonn, formou com o presidente francês François Mitterrand e o presidente da Comissão Europeia Jacques Delors um trio que acelerou o processo de integração europeia. Sob sua influência direta, adotou-se o Ato Único Europeu (1986) e o Tratado da União Europeia ou Tratado de Maastricht (1992), e foram preparadas as etapas definitivas para a moeda única.
Após a queda do Muro de Berlim em 1989, Kohl aproveitou o fim da Guerra Fria para promover a reunificação alemã. Depois de chegar a um acordo com Lothar de Maizière (líder da República Democrática Alemã) sobre um tratado de união monetária, econômica e social, assinado em 18 de maio de 1990, ele conseguiu convencer o líder soviético Mikhail Gorbachev a aceitar a adesão da Alemanha recém-reunificada à OTAN e a saída de centenas de milhares de soldados soviéticos lotados na República Democrática Alemã.
O resultado desse trabalho foi a assinatura do Tratado 2+4 em setembro de 1990, que fixou as fronteiras da Alemanha e encerrou os direitos dos vencedores da Segunda Guerra Mundial sobre a Alemanha. No dia 3 de outubro de 1990, o país foi reunificado.
Ciente da desconfiança com que alguns países europeus (Reino Unido e França) viam uma Alemanha reunificada, Kohl propagou a ideia de uma identidade dupla indissolúvel, alemã e europeia. Para isso, ele não hesitou em abandonar o marco (a moeda alemã) e facilitar a transição para uma moeda única (o euro, que entrou em vigor em 1999).
Derrotado eleitoralmente em 1998 e envolvido em escândalos financeiros em 1999, sua imagem política foi prejudicada e ele renunciou aos cargos no partido no ano de 2000. Em 2002, se aposentou da política. Faleceu em 2017, aos 87 anos de idade.
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Referências
- Britannica, Encyclopaedia (2023). Helmut Kohl. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
- Britannica, Encyclopaedia (2023). Helmut Schmidt. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
- Freedman, L. D. (2023). nuclear strategy. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
- Powaski, R. E. (2000). La Guerra Fría: Estados Unidos y la Unión Soviética, 1917-1991. Crítica.
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