Octavio Paz

Vamos explicar quem foi Octavio Paz, quais foram as suas principais contribuições para a literatura mexicana e em que contexto histórico ele realizou sua carreira diplomática.

Octavio Paz
Octavio Paz foi o primeiro escritor mexicano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (1990).

Quem foi Octavio Paz?

Octavio Paz foi um escritor e diplomata mexicano, considerado um dos mais importantes autores latino-americanos do século XX e uma figura fundamental na literatura contemporânea de língua espanhola. Sua carreira como poeta e ensaísta lhe conferiu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, incluindo o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Cervantes.

Com o chileno Pablo Neruda (1904–1973) e o peruano César Vallejo (1892–1938), Octavio Paz foi uma figura central da poesia pós-modernista hispano-americana. Além disso, foi um intelectual renomado, com um importante trabalho de reflexão, tradução e crítica literária, e um promotor entusiasmado da literatura mexicana, envolvido na criação de diferentes grupos poéticos e revistas literárias.

Ao longo de sua vida, Paz manifestou seus interesses cosmopolitas e seu compromisso social, especialmente durante sua estada na Espanha, onde se envolveu na Guerra Civil Espanhola e participou da militância antifascista. Quanto à sua vida pessoal, teve dois casamentos: o primeiro com a célebre escritora mexicana Elena Garro (1916–1998), com quem teve sua única filha, e o segundo com a artista francesa Marie-José Tramini (1934–2018), com quem Paz viveu até a morte dela, em 1998.

Infância e anos de formação de Octavio Paz

Octavio Paz nasceu em Coyoacán, Cidade do México, em 31 de março de 1914, em uma família de intelectuais. Durante os anos da Revolução Mexicana, seu pai, o advogado e jornalista Octavio Paz Solórzano (1883–1935), estava do lado de Emiliano Zapata, de modo que o restante da família passava o tempo com seu avô paterno, Irineo Paz (1836–1924), que era um intelectual e romancista. Em sua casa no bairro de Mixcoac, o jovem Octavio Paz teve acesso a uma grande biblioteca e fez suas primeiras leituras literárias importantes.

Em 1916, o pai de Octavio Paz teve que se estabelecer em Los Angeles, nos Estados Unidos, e sua família o acompanhou durante os anos de exílio, que culminaram em 1919, após a morte de Emiliano Zapata. De volta ao México, Paz iniciou seus estudos na Escola Preparatória Nacional e, mais tarde, na Universidade Nacional do México (atual UNAM), onde estudou direito, filosofia e literatura.

Nesses anos de juventude, Paz também foi educado politicamente. Identificou-se com o projeto político de José Vasconcelos (1882–1959), ex-reitor da UNAM e secretário de Educação Pública, cuja candidatura presidencial foi apoiada pelos grandes intelectuais da época e setores universitários. Também conheceu o jovem anarquista catalão José Bosch (1872–1936) e começou a participar de vários movimentos estudantis de trabalhadores.

Seus interesses literários também foram precoces. Aos dezesseis anos, publicou seu primeiro ensaio, intitulado “Ética do Artista”, em que refletia sobre a moralidade da arte e o dilema entre o compromisso social e a arte “pura”. Nesse mesmo ano, ele se juntou ao grupo fundador da revista Barandal (1931), com Rafael López Malo, Salvador Toscano e Arnulfo Martínez Lavalle, e dois anos depois publicou sua primeira coletânea de poemas: Luna Silvestre (1933).

Em 1937, já casado com Elena Garro, Paz foi para Mérida, Iucatã, onde participou da construção de uma escola para filhos de trabalhadores, planejada pelo governo do general Lázaro Cárdenas. Enquanto estava lá, recebeu um convite de Rafael Alberti (1902–1999) e Pablo Neruda para o Segundo Congresso Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura, a ser realizado na Espanha durante a Segunda República.

Casamento com Elena Garro

Octavio Paz
Octavio Paz e Elena Garro foram dois dos maiores escritores mexicanos do século XX.

O casamento de Octavio Paz e Elena Garro durou treze anos, período em que tiveram sua única filha: Laura Helena Paz Garro. Após o divórcio em 1950, a obra de Garro foi ofuscada pela aclamação da obra de Paz. Hoje, no entanto, ela é reconhecida por sua enorme importância na narrativa e no drama mexicano e é considerada a segunda escritora mais importante do México, superada apenas por Sóror Juana Inés de la Cruz.

A viagem à Espanha foi muito importante na vida de Octavio Paz. Lá, ele conheceu Pablo Neruda, César Vallejo, Vicente Huidobro (1893–1948), Nicolás Guillén (1902–1989) e outros intelectuais importantes da Geração de 98 e da revista Hora da España. Também visitou a frente da guerra civil e apoiou abertamente a causa republicana, embora seus vínculos políticos com a esquerda internacional tenham sido sempre conflituosos, após a repressão do Partido dos Trabalhadores da Unificação Marxista na Catalunha e depois dos crimes cometidos na União Soviética (1878–1953).

Carreira diplomática de Octavio Paz

Octavio Paz retornou ao México em 1938, após a trágica morte de seu pai, que foi atropelado por um trem. Lá, ele foi parte fundamental das revistas literárias Taller (1938), Tierra nuestra (1940) e El hijo pródigo (1943), todas importantes na história literária mexicana. Durante esse período, escreveu sua obra literária mais importante. Em 1943, ganhou uma bolsa de estudos Guggenheim para retomar seus estudos em Berkeley, nos Estados Unidos.

No final da Segunda Guerra Mundial, Paz recebeu uma oferta para trabalhar na diplomacia mexicana. Até 1951, foi membro da delegação consular de seu país na França e, em Paris, entrou em contato com o nascente movimento surrealista. Também colaborou com a famosa revista Esprit, fundada por Emmanuel Mounier em 1932, e estabeleceu relações com Jean-Paul Sartre (1905–1980), Albert Camus (1913–1960) e André Breton (1896–1966).

Seu trabalho na diplomacia mexicana o levou à Índia em 1952 e depois ao Japão como encarregado de negócios, o que permitiu que as duas nações retomassem as relações diplomáticas, suspensas durante a Segunda Guerra Mundial. Nesses países, Paz entrou em contato com as religiões asiáticas e o misticismo oriental, temas importantes em sua obra literária.

Entre 1953 e 1959, Paz retornou ao México e chefiou o escritório de Organizações Internacionais no Ministério das Relações Exteriores do México. Também teve um papel de destaque na Revista Mexicana de Literatura, que promovia a ideia de uma terceira via, uma via intermediária entre a esquerda e a direita, e participou do grupo de poesia-teatro “Poesía en voz alta” e da revista El corno emplumado.

Em 1959, ele foi enviado de volta à Europa e, em Paris, conheceu sua segunda esposa, Marie-José Tramini. Três anos depois, foi nomeado embaixador mexicano na Índia, cargo que ocupou até 1968. Nesse ano, ocorreu o massacre de Tlatelolco e Paz, em protesto, foi o único embaixador mexicano a renunciar formalmente ao cargo. A partir de então, viveu e trabalhou como professor universitário nos Estados Unidos.

Os últimos anos de Octavio Paz

Octavio Paz recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1990. Este foi seu discurso completo.

Durante as décadas de 1970 e 1980, Octavio Paz continuou a ser uma voz importante na intelectualidade mexicana. Ele fundou e editou as revistas Plural (1971) e Vuelta (1976), nas quais adotou a experimentação literária e criticou as violações dos direitos humanos dos regimes de direita e comunistas da época.

Em uma entrevista conduzida pelo jornal espanhol El País em 1984, Paz declarou: “Quando comparei Castro a Pinochet, fiz isso porque ambos são ditadores. Se você critica uma ditadura, também precisa criticar todas as ditaduras”. E isso fez com que ele entrasse em desacordo com grande parte da intelectualidade mexicana e latino-americana.

Sua obra, no entanto, continuou a ser reconhecida. Em 1981, recebeu o Prêmio Cervantes, a mais alta distinção literária da língua espanhola, e em 1990 o Prêmio Nobel de Literatura.

Em 1996, seu apartamento foi destruído por um incêndio, assim como boa parte de sua biblioteca, Paz foi transferido, então, pelo governo mexicano para a histórica Casa de Alvarado, em Coyoacán, onde viveu até o dia de sua morte, aos 84 anos, em 19 de abril de 1998.

A poesia de Octavio Paz

Octavio Paz
Em seus Topoemas, Octavio Paz combinou o visual e o linguístico.

A obra poética de Octavio Paz é difícil de classificar, pois reflete a amplitude e a profundidade de seus interesses. Nela estão incluídas as grandes tendências poéticas do século XX, como o romantismo, o modernismo, o simbolismo e o vanguardismo, bem como temas tão variados como erotismo, mudança social, esoterismo, misticismo oriental e, especialmente, a solidão e o isolamento do indivíduo.

Por outro lado, sua poesia oscila entre a busca da perfeição formal, por meio de formatos métricos e tradicionais, e a experimentação do surrealismo e dos movimentos de vanguarda. De fato, Paz é o criador dos Topoemas (de topos, grego para “lugar”, e poema), uma forma intelectual de poesia, na qual são usados sinais visuais diferentes daqueles da escrita tradicional.

Esse panorama complexo levou vários críticos a classificar a poesia de Paz como existencialista, neomodernista, surrealista e metafísica, tudo ao mesmo tempo. Trata-se de uma poesia cosmopolita que, de acordo com o escritor e diplomata chileno Jorge Edwards (1931–2023), “acompanha o pensamento, provoca-o, prolonga-o e, ao mesmo tempo, resume-o”.

Entre as obras poéticas mais destacadas de Octavio Paz estão:

  • No Pasarán! (1936)
  • Entre a Pedra e a Flor (1941)
  • Pedra e Sol (1956)
  • Libertad bajo Palabra. Obra Poética (1935-1957) (1960)
  • Salamandra (1962)
  • Blanco (1967)
  • Topoemas (1971)

A obra ensaística de Octavio Paz

Os ensaios de Octavio Paz são tão ou mais conhecidos e celebrados do que sua poesia. Em seus ensaios, trata de vários tópicos de interesse sociológico, antropológico, político, histórico e literário, o que levou seus biógrafos a chamá-lo de “homem de seu século”, ou seja, um indivíduo em sintonia com as preocupações de seu tempo, cujos interesses transcendiam o estritamente nacional.

Por outro lado, para muitos, seus ensaios reafirmaram, em um contexto de profundas mudanças na cultura ocidental como o século XX, a relevância e o valor do ensaio como gênero literário, ou seja, como forma de arte e não apenas como meio científico e objetivo.

Entre as obras ensaísticas mais destacadas de Octavio Paz estão:

  • O Labirinto da Solidão (1950).
  • O Arco e a Lira (1956)
  • Los hijos del limo. Del romanticismo a la vanguardia (1974)
  • Sóror Juana Inés de la Cruz o las trampas de la fe (1982)
  • A Dupla Chama (1993)

Referências

  • Edwards, J. (s. f.). En la mirada de Jorge Edwards. Zona Paz. https://zonaoctaviopaz.com/
  • Forgues, R. (1992). Octavio Paz: el espejo roto. EDITUM.
  • Ministerio de Cultura de Argentina. (2021). “Octavio Paz: ‘Mi destino, pensé desde niño, era el destino de las palabras”. https://www.cultura.gob.ar/
  • Mueller, E. (1984). “Octavio Paz: nunca he elogiado ninguna dictadura”. El País, Cultura, 19 de agosto de 1984. https://elpais.com/diario/
  • Sánchez Zamorano, J. A. (1999). “Historia y poesía en Octavio Paz”. Anales de literatura hispanoamericana, n. 28. pp. 1205-1221.
  • The Encyclopaedia Britannica. (2023). “Octavio Paz (mexican writer and diplomat)”. https://www.britannica.com/

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Farías, Gilberto. Octavio Paz. Enciclopédia Humanidades, 2024. Disponível em: https://humanidades.com/br/octavio-paz/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Gilberto Farías

Licenciado em Letras (Universidad Central de Venezuela)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 24 de fevereiro de 2024
Data de publicação: 29 de janeiro de 2024

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