Vamos explicar o que é a tragédia, como se originou e quais são suas características. Além disso, os tipos que existem, sua estrutura e exemplos.
O que é a tragédia?
Chama-se tragédia a um dos gêneros literários da Antiguidade, precursor da dramaturgia moderna (teatro). Foi um gênero muito cultivado na Antiguidade greco-romana e muitas de suas peças fundamentais ainda são preservadas e fazem parte central da história literária do Ocidente.
A tragédia caracteriza-se por representar, em uma linguagem solene, personagens ilustres (“homens melhores do que realmente são”, segundo Aristóteles), que se veem confrontados com um destino inevitável (o fatum, termo que vem do latim ou ananque, termo que vem do grego) por causa de um erro ou uma condição de seu caráter (o orgulho ou o hybris na tragédia grega). A consequência disso é sempre fatal e os heróis são punidos pelos deuses, geralmente com loucura ou morte.
Dados os seus tristes e funestos resultados, o termo “tragédia” foi popularizado como sinônimo de um acontecimento triste e inevitável, ou de uma situação que envolve grandes sofrimentos e pesares.
Etimologia: O termo “tragédia” é composto pelos vocábulos, tragos (bode) e oidé, (canção), e significa “canção ao bode”, pois sua origem data das celebrações em honra ao deus Dionísio, a quem se oferecia um bode que era publicamente degolado.
- Veja também: Literatura grega
Origem da tragédia
As primeiras tragédias registradas (das quais se conservam apenas fragmentos) foram de origem grega e seus autores foram Téspis e Frínico. Acredita-se que o rito de sua representação foi iniciado na Grécia e na Anatólia antigas e que teve seu apogeu por volta do século V a.C., com o surgimento dos grandes autores gregos: Eurípides, Sófocles e Ésquilo.
No entanto, a origem da tragédia é um mistério não resolvido pela filologia clássica, embora o vincule, seguindo a origem do seu nome, a elementos rituais e religiosos realizados para pedir por uma boa colheita, boa caça ou durante celebrações anuais como equinócios, solstícios, etc.
Tragédia clássica
A tragédia clássica é a que cultivaram os povos da Antiguidade greco-romana: a Grécia Antiga e posteriormente o povo latino (início do Império Romano).
Os máximos expoentes da primeira foram Ésquilo, Eurípedes e Sófocles, que resgataram motivos mitológicos e relatos homéricos para representar diante da polícia os episódios mais problemáticos de seus heróis épicos e dos grandes motivos históricos, como os últimos dias da Guerra de Troia ou longos ciclos de vinganças e disputas familiares entre a nobreza grega.
Os principais expoentes latinos, ao contrário, foram Lívio Andrônico, Ênio, Pacúvio e Ácio, e posteriormente Sêneca. Eles compuseram peças que retomavam motivos da cultura helênica e foram de grande influência na dramaturgia posterior do renascimento e do barroco europeu.
Tragédia moderna
Depois da Idade Média, a tragédia reaparece no renascimento, quando a cultura europeia se reconcilia com sua tradição pagã. Houve grandes expoentes do gênero em cada país europeu, que usaram o formato da tragédia para enfrentar a sua própria cultura e sociedade. Entre eles se destacam:
- O Barroco da Espanha. Chamado também de “Século de Ouro”, viu aparecer as obras dramáticas (e as comédias também) dos três grandes dramaturgos: Lope de Vega, Tirso de Molina e Calderón de la Barca, entre muitos outros.
- A dramaturgia vitoriana. Na Inglaterra também surgiram dramaturgos de importância universal: Shakespeare, Marlowe, Ben Jonson, Otway.
- O Pré-Romantismo alemão. Escritores como Goethe, Schiller, Grillparzer, que depois serviriam de inspiração ao Romantismo.
- Os franceses. Racine, Corneille, Voltaire, Lemercier, prelúdio em muitos casos ao Iluminismo francês.
Elementos da tragédia
A tragédia clássica era composta pelos seguintes elementos:
- Coro. O coro representava nas tragédias um papel fundamental, pois representava a voz do povo: aconselhava, explicava os dilemas, dava informações e deixava claro o dilema moral, etc. Suas intervenções se estruturavam em base a três momentos: estrofe, antístrofe e párodo.
- Corifeu. O maestro do coro, que podia sair deste e ter voz própria para repreender os coreutas (membros do coro) ou os demais personagens.
- Personagens. Os diferentes personagens, heróis ou antagonistas desempenhavam seu papel na obra. Todos eram representados por atores masculinos, independentemente de seu sexo, pois as mulheres não tinham lugar no teatro da Antiguidade.
Estrutura da tragédia
A tragédia clássica se regia por um modelo bastante rígido, composto por três momentos:
- Prólogo. Aquilo que antecede a entrada do coro, usualmente através de um máximo de três personagens e serve para informar ao público o contexto da obra, onde ocorre, a quem e que fatos do passado devem interpretar. Para muitos não faz parte propriamente da obra, mas é o seu prefácio ou introdução.
- Párodos. Ingressa o coro à obra, mediante cantos líricos e danças de avanço e retrocesso. Cria-se a atmosfera da tragédia e antecipam-se as entradas dos protagonistas.
- Episódios. Podiam ser até cinco episódios durante os quais se expressa o conteúdo filosófico ou de pensamento da obra, em um diálogo entre os personagens ou entre os personagens e o coro. Frequentemente esses pronunciamentos morais, éticos ou filosóficos aconteciam na boca do coro, em subepisódios chamados estásimos.
- Êxodo. Parte final da peça, com cantos líricos e dramáticos. Aqui o herói tem sua revelação, reconhece seus erros e é punido pelos deuses dando lugar ao ensinamento moral.
Importância da tragédia
A tragédia clássica foi o gênero poético por excelência em seu tempo e constituiu a peça chave de toda a literatura ocidental que veio depois. Sua maneira de conceber a ação dramática, suas estruturas e inclusive sua importância social são o prelúdio a que o Ocidente dará a sua literatura muito depois.
Por outro lado, os cidadãos da Antiguidade eram formados moral, ética e civicamente através das representações da tragédia.
Através do sofrimento ficcional da peça, o público era submetido à catarse, a purga das emoções baixas do ser humano. Assim, segundo os antigos gregos, os cidadãos saíam do teatro sendo melhores pessoas.
Diferenças entre tragédia e comédia
Segundo Aristóteles, filósofo grego que estudou profundamente a arte teatral na sua Poética, a diferença fundamental entre tragédia e comédia é que a primeira representa os homens melhores do que são e faz da sua queda em desgraça algo muito mais impactante e mobilizador; enquanto que a comédia os representa piores do que são, permitindo ao público rir deles, dessacralizá-los e sentir-se muito mais perto deles.
Atualmente, estes termos são tratados com menos rigor. Pode-se dizer que a tragédia é solene e tem um final triste ou catastrófico para o herói, enquanto a comédia se baseia no enredo e nas situações ridículas e tem um final conciliador.
A tragédia de hoje em dia
Embora a tragédia já não seja cultivada como gênero literário, considera-se que deu lugar ao aparecimento do teatro moderno e da dramaturgia como a entendemos atualmente, livre já das classificações mais rígidas das suas origens.
No entanto, as grandes tragédias clássicas e modernas, são ainda hoje representadas em milhares de teatros do mundo.
Exemplos de tragédia
Alguns exemplos da tragédia clássica são:
- Ésquilo. As Suplicantes, Agamenon, Sete contra Tebas, Prometeu Acorrentado.
- Sófocles. Antígona, Electra, Édipo Rei, Ájax.
- Eurípedes. Medeia, Helena, As Troianas, Héracles.
Exemplos da tragédia moderna são:
- Calderón de la Barca. A Vida é Sonho, O Prefeito de Zalamea, Os Cabelos de Absalão, O Doutor de sua Honra.
- Shakespeare. Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Otelo.
- Voltaire. Brutus, Zaire, Maomé ou Fanatismo, Mérope.
- Continue com: Don Quixote
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