Vamos explicar quem foi Aristóteles e quais foram as contribuições deste filósofo. Além disso, suas características gerais e as formas de governo.
Quem foi Aristóteles?
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) foi um filósofo grego que nasceu em Estagira e morreu na cidade de Cálcis. Discípulo de Platão e fundador do Liceu, é considerado um dos mais importantes pensadores da humanidade. Suas ideias e reflexões, reunidas em quase 200 tratados (dos quais somente 31 estão conservados), influenciaram a história intelectual do Ocidente por mais de dois mil anos.
Durante sua vida cultivou uma enorme quantidade de interesses. Seus estudos incluem a lógica, a política, a ética, a física, a biologia, a retórica, a poética e a astronomia. Em todas elas desempenhou um papel inovador, inclusive fundacional, visto que propôs os primeiros estudos sistemáticos de cada matéria.
Aristóteles foi discípulo de outros filósofos importantes da época, tais como Platão e Eudoxo, durante os 20 anos em que recebeu sua formação na Academia de Atenas. Nessa mesma cidade fundou o Liceu, lugar onde ensinou os seus próprios discípulos.
Após a queda de seu discípulo, Alexandre III da Macedônia (conhecido como Alexandre, o Grande), Aristóteles se mudou para a cidade de Cálcis, onde faleceu.
- Veja também: Período Clássico (Europa)
A vida de Aristóteles
Aristóteles nasceu na cidade de Estagira no ano de 384 a.C. Seu pai se chamava Nicômaco, exercia a profissão de médico do rei Amintas III da Macedônia, sua mãe, Festis, estava relacionada também às asclepíades, que professavam a medicina na Grécia antiga. Ambos morreram quando Aristóteles era muito jovem ainda, e aos 17 anos ficou sob a responsabilidade de Proxeno de Atarneu, seu tutor, que o enviou para estudar na Academia de Platão em Atenas.
O Estagirita (apelido de Aristóteles, por conta do seu local de nascimento) permaneceu na Academia durante 20 anos, de 367 a.C. a 347 a.C. Foi neste lugar que conheceu Eudoxo, que influenciou notavelmente na decisão filosófica de Aristóteles de encontrar um princípio explicativo que mantivesse as coisas tal como aparecem (que mais tarde chamou de phainomena, “fenômeno”). Relacionou-se também com Filipo de Opunte, Corisco, Espeusipo e Erasto, todos pensadores e estudantes de Platão.
Supõem-se que nesta mesma época participou dos mistérios de Elêusis, que eram ritos de iniciação anuais celebrados em Elêusis em honra às deusas Deméter e Perséfone. Sobre eles, chegou a escrever que “experienciar é aprender”, de acordo com a tradução da sua frase original, pathein mathein (παθείν μαθεĩν).
Em 347 a.C., coincidindo com a morte de Platão, Aristóteles se mudou de Atenas para Atarneu e Assos. Logo foi à ilha de Lesbos e se casou com Pítias de Assos, sobrinha de Hérmias, governador de Assos. Teve uma filha com Pítias a quem deu o nome também de Pítias em homenagem à mãe. Em 343 a.C., foi convocado à Pela, Macedônia, para ensinar Alexandre, O Grande, de quem foi tutor durante dois anos.
Depois de prestar o serviço militar, e após ter sido tutor de Ptolomeu e Cassandro (ambos futuros reis), Aristóteles voltou à Atenas no ano de 335 a.C. Aí fundou o Liceu, que foi sua escola. Recebe este nome por ter sido construída em um templo dedicado ao deus Apolo Liceu e, diferentemente da Academia, era uma escola pública que inclusive dava aulas gratuitas. Os alunos do Liceu eram conhecidos como “os peripatéticos”, termo que vem do grego peripatētikós (περιπατητικός) e que significa “ambulantes”, pois tinham o costume de debater enquanto caminhavam.
Durante o período do Liceu, Aristóteles escreveu muitos diálogos e tratados. Somente os tratados sobreviveram e acredita-se que a maioria deles não estava destinada ao público. Nestes anos, faleceu sua esposa, Pítias e Aristóteles se juntou então com Herpílis, uma mulher de Estagira. Com Herpílis teve um filho, Nicômaco, a quem dedicou seu tratado de ética, Ética a Nicômaco, considerado um dos livros mais importantes de ética como disciplina autônoma em toda sua história.
No ano de 323 a.C. Alexandre, O Grande morreu e, ao perceber que Atenas não recebia mais com tanta amabilidade os macedônios, Aristóteles decidiu mudar-se para Cálcis, na ilha de Eubeia. Faleceu no ano seguinte, aos 61 anos, possivelmente devido a uma doença digestiva.
O pensamento aristotélico
Como a maioria dos pensadores da sua época, Aristóteles fez filosofia no sentido mais amplo. Isto significa que mostrou interesse por todas as áreas do conhecimento acessível naquela época, realizando pesquisas em diversos campos.
Costuma-se classificar seu pensamento de acordo com a distinção que ele mesmo fez das ciências: o saber prático, o saber produtivo e o saber teórico ou contemplativo:
Saber prático
O saber prático incluía a ética e a política. Sobre ambas as disciplinas escreveu diferentes obras, embora seja verdade que a sua maior contribuição foi à ética, área para a qual dedicou pelo menos três escritos conhecidos: Ética Nicomaqueia ou Ética a Nicômaco, Ética a Eudêmio e Magna Moralia.
Aristóteles pensava que a ética era um saber prático orientado a uma ética das virtudes. Como tal, a ética deveria ensinar a procurar pela felicidade entendida como o fim do ser humano. Isto é assim porque toda atividade humana tende, segundo Aristóteles, a um bem. Como a felicidade (eudaimonia) é o bem supremo, falava-se, então, de uma ética eudêmia ou eudaimonista.
A política, por sua vez, era um estudo sobre a forma em que as leis e os costumes se relacionavam nos casos da vida cotidiana. As ideias políticas de Aristóteles foram compiladas pelo filósofo no seu livro Política, principal obra em que se encontram suas doutrinas.
Saber produtivo
O saber produtivo estava orientado às artes, principalmente à poética. Com efeito, o texto estético aristotélico mais importante se chama Poética. Este texto não se dedica a divagar sobre o belo, mas trabalha e pensa nas artes materiais e concretas. Diferentemente da Retórica aristotélica, dedicada à arte de comunicar de forma convincente, a Poética pesquisa a arte da criação literária.
Saber teórico
O saber teórico contemplava a física, a matemática e a metafísica. Esta última é considerada como a filosofia primeira, pois apresenta a teoria dos princípios gerais do pensamento. É, ao mesmo tempo, uma doutrina do ser enquanto tal.
Aqui estão algumas das principais ideias da metafísica aristotélica:
- Metafísica como filosofia primeira. Esta ideia argumenta que nenhuma ciência em particular estuda universalmente o que é, mas que cada uma se ocupa de uma parte da realidade concreta. A metafísica é a ciência mais geral porque estuda o ser enquanto ser.
- O ser se diz de vários modos. Esta afirmação aristotélica enfatiza a ideia da polissemia do ser (que se diga “ser” em vários sentidos). Seja “ser” como potência, ato, substância ou acidente, todas estas formas são válidas de acordo com o nível e a linha de análise.
- A metafísica é teologia. A metafísica como teologia deve ser entendida como o estudo de uma figura hipotética, que cumpre a função de ser o primeiro motor imóvel do universo: o que dá princípio e impulso vital a todas as coisas que existem.
No que diz respeito à física e à matemática, há vários tratados aristotélicos que trabalham cada uma destas disciplinas. Em termos gerais, pode-se falar de uma filosofia natural que contempla o movimento, a geração e a corrupção das coisas, assim como a negação do vazio e a ideia do éter (todos os pontos do espaço estão repletos de matéria). A matemática, por sua vez, se entrecruza com a lógica, ainda que seja importante deixar claro que esta última não era considerada por Aristóteles como um saber substancial.
- Veja também: Pensamento aristotélico
A obra de Aristóteles
As obras de Aristóteles que sobreviveram ao longo dos anos foram classificadas no Corpus Aristotelicum pelo filósofo Andrônico de Rodes. O filólogo clássico August Immanuel Bekker editou a classificação de Andrônico entre 1831 e 1870. Este corpus se divide em cinco grandes grupos:
- Lógica ou Órganon. Neste grupo encontramos as seguintes obras:
- Categorias (Categoriae)
- Da Interpretação (De interpretatione)
- Primeiros Analíticos (Analytica priora)
- Segundos Analíticos (Analytica posteriora)
- Tópicos (Topica)
- Refutações Sofísticas (De sophisticis elenchis)
- Filosofia natural. Neste grupo encontramos as seguintes obras:
- Física (Physuca)
- Do Céu (De caelo)
- Sobre a Geração e a Corrupção (De generatione et corruptione)
- Meteorológicos (Meteorologica)
- Da Alma (De anima)
- Os Pequenos Tratados Físicos (Parva naturalia )
- Metafísica. Neste grupo encontramos a seguinte obra:
- Metafísica (Metaphysica)
- Ética e política. Neste grupo encontramos as seguintes obras:
- Ética Nicomaqueia ou Ética a Nicômaco (Ethica Nicomachea)
- Ética Eudêmia ou Ética a Eudemo (Ethica Eudemia)
- Política (Política)
- Retórica e poética. Neste grupo encontramos as seguintes obras:
- Retórica (Ars rhetorica)
- Poética (Ars poetica)
Independentemente da classificação de Andrômaco de Rodes, a obra de Aristóteles não apresenta uma ordem clara. Não há uma datação específica de cada um dos tratados, exceto Eudemo, que foi dedicado a um amigo que faleceu em 354 a.C., e Protréptico, dedicado a Temisón por volta do ano 315 a.C. Contudo, como critério geral, se propõe dividir a obra em três grandes períodos que compreendem os seguintes anos:
- Primeiro período (368-348 a.C.). Época da Academia.
- Segundo período (348-335 a.C.). Época de abandono da Academia e primeiras ideias de pensamento próprio.
- Terceiro período (335-322 a.C.). Época do Liceu e pesquisas empíricas.
Tanto a classificação de Andrômaco como a classificação por períodos desempenham uma função meramente organizativa e, nos dois casos, didática. Nenhuma destas obras conta com uma data de publicação precisa. Também não existe a informação exata de que se foram escritas para serem lidas por um público geral ou se seu uso era limitado (como acredita-se que seja habitualmente) à circulação interna dentro do Liceu. Ainda hoje, este assunto é motivo de debate.
- Continue com: Sócrates
Referências
- Guthrie, W. K. C. (1993). Historia de la filosofía griega. Vol. VI: Introducción a Aristóteles. Gredos.
- Guthrie, W. (1953). Los filósofos griegos. De Tales a Aristóteles. FCE.
- Barnes, J. (1987). Aristóteles. Cátedra.
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