Vamos explicar o que é o Idealismo, como se classifica e quais são os representantes desta teoria. Além disso, suas características e críticas.
O que é o Idealismo?
O Idealismo é um conjunto de teorias filosóficas que defende a primazia ontológica e gnosiológica das ideias. Isto significa que as ideias têm existência autônoma, um maior grau de realidade do que as coisas materiais e, além disso, são uma forma mais perfeita de alcançar o conhecimento.
Ao comparar o Idealismo com o mundo sensível é possível chegar à convicção de que o Idealismo se opõe ao materialismo. Embora seja verdade que para o materialismo só existe o mundo material e tangível, é incorreto dizer que o Idealismo nega o mundo material. De fato, algumas formas de Idealismo, como o kantiano, supõem a existência do mundo material, já que apontam para a forma como conhecemos o mundo e não à sua existência.
O Idealismo é uma escola filosófica de longa trajetória que abrange, em suas respectivas formas, os estudos de filósofos tão distantes no tempo como Platão, Berkeley, Descartes, Leibniz e Immanuel Kant.
Entretanto, e independentemente das suas diferenças, todas as formas de Idealismo compartilham o ponto de vista que, para alcançar a verdade das coisas (e conhecê-las com propriedade), devemos prestar atenção às ideias e não apenas aos objetos materiais sensíveis.
- Veja também: Racionalismo
Etimologia e história do Idealismo
A palavra “idealismo” vem do latim idea, que por sua vez vem do grego idein (ἰδεῖν), cujo significado é “ver”. O primeiro filósofo a usar o termo “idealismo” para se referir a um posicionamento metafísico foi Christian Wolff (1679-1754), pensador alemão que escreveu e trabalhou durante os séculos XVII e XVIII. Wolff usou o termo para se referir à crença de que a realidade é feita de ideias.
Em termos filosóficos, chama-se “idealista” toda doutrina ontológica (que fale do ser em geral) que afirme que a realidade verdadeira é intangível ou inexperimentável. De acordo com esta definição, a doutrina platônica dos dois mundos pode ser entendida como um antecedente do Idealismo tal como passou a ser conhecida a partir da Modernidade. Segundo Platão, a realidade física ou material não é mais que uma cópia degradada e imperfeita do mundo das ideias, que não muda e que é eterno e perfeito.
Ao Idealismo platônico, seguiu o neoplatonismo. Este, que foi uma escola filosófica que se desenvolveu entre os séculos I e V. Tanto o platonismo como o neoplatonismo são formas de um Idealismo transcendental, pois acreditam que a realidade verdadeira está além do alcance do mundo físico, em um plano existencial cujo acesso é obtido somente de maneira parcial e por meio do intelecto ou nôus (como se o chama em grego antigo). Alguns acadêmicos, no entanto, sugerem que o Idealismo platônico original pode ser entendido como um dualismo metafísico devido à sua teoria das duas realidades ou, pelo menos, constitui certa forma de Idealismo objetivo.
O cristianismo, como sistema de pensamento, também é uma forma de Idealismo. Isto se deve à influência neoplatônica de alguns pensadores como Plotino (205-270) e Porfírio (232-304), que foram reconhecidos na obra de Agostinho de Hipona (354-430). Alguns séculos mais tarde, o pensador alemão Hermann Lotze (1817-1881) escreveu tratados teológicos em base às mesmas ideias de Santo Agostinho.
A Idade Moderna deu lugar a diferentes formas de Idealismo cuja teoria e doutrina foi desenvolvida principalmente por pensadores alemães. Exemplo disso são as ideias de Leibniz, Kant, Hegel, Bolzano, Fichte, Mach, Cassirer e Schelling. George Berkeley e Descartes são outros pensadores modernos que apresentaram outras formas de Idealismo, cada um com suas características próprias e seus diferenciais.
Características do Idealismo
Em termos gerais, o Idealismo é caracterizado por considerar que as ideias constituem uma realidade única ou mais perfeita, dependendo do tipo de Idealismo a que pertença. Ao mesmo tempo, apenas a mente (e, em alguns casos, o espírito) tem acesso a esta realidade única e verdadeira.
Em uma perspectiva epistemológica, atribui-se a ideia de que possa existir um mundo independente ao ideal ou posto pela mente. A diferença é que só podemos conhecê-la através da intervenção do intelecto. Esta é a razão pela qual um pensador como Berkeley sustentou que só existe o que é percebido pelo sujeito e ao mesmo tempo é também o porquê de Kant abandonar completamente a sua aspiração a conhecer o que as coisas são em si mesmas.
Outra característica comum a todas as formas de Idealismo é considerar que as ideias, a consciência, o intelecto ou o espírito estão sempre em uma graduação maior de perfeição do que o mundo material. Este é considerado, de forma geral, como uma cópia ou degradação do mundo ideal. Em alguns casos, inclusive, é apenas uma projeção ou invenção da mente.
Tipos de Idealismo e seus representantes
Idealismo platônico
Chamado também de “realismo platônico”, o Idealismo platônico provém dos escritos do filósofo grego da antiguidade, Platão (427 a.C.-347 a.C.). Discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, em sua obra A República e em outros diálogos platônicos apresenta a existência de universais: objetos que existem em um sentido mais perfeito e abstrato que os objetos físicos. A natureza destes objetos é metafísica e eterna, existem em outro plano da realidade diferente do mundo material que é acessível somente por meio da intelecção filosófica.
O ser humano não tem acesso a estes universais por meio de nenhum dos seus sentidos, mas pode concebê-los, pode inteligir. Nisso se diferenciam dos “particulares”, perfeitamente tangíveis, que são os objetos ao nosso redor e constituem uma cópia da forma original universal, ou seja, uma cópia das ideias.
- Veja também: Platão
Idealismo objetivo
O Idealismo objetivo é uma variante do Idealismo, muito posterior a Platão, e propõe que as ideias existem por si mesmas e que só podemos ter acesso a elas mediante a experiência.
Seu nome provém de sua proximidade com a lógica científica, que inicialmente se baseava nessa mesma concepção do real como algo que pode ser descoberto mediante a experimentação.
Idealismo subjetivo
O Idealismo subjetivo defende que as ideias existem dentro da mente do sujeito, de modo que não existe um mundo autônomo por fora dela. Esta escola se divide em duas variantes:
- Idealismo subjetivo radical. Aqueles que defendem este posicionamento afirmam que é a subjetividade que constrói o mundo, assim, não existe uma natureza independente daqueles que a percebem, mas existe “para nós”.
- Idealismo subjetivo moderado. Os que defendem este posicionamento asseguram que a percepção do real varia conforme o conteúdo da mente, de forma que a sua existência varia segundo o sujeito, embora tenha certa existência própria.
Idealismo alemão
O Idealismo alemão surge como a escola filosófica idealista objetiva alemã dos séculos XVIII e XIX. O pensador prussiano, Immanuel Kant, foi seu principal expoente, ainda que seja possível rastrear algumas influências do Romantismo, do Iluminismo e do contexto histórico da Europa pós-guerras Napoleônicas.
De acordo com Kant, o mundo exterior existe, mas não é cognoscível para o homem em sua totalidade, razão por que muitas vezes se diz que Kant era materialista e idealista ao mesmo tempo. É assim porque para Kant não temos acesso ao que as coisas são em si (ao que ele chama “noúmeno”). Ao invés disso, os objetos da experiência, que tomam sua origem hipotética do noúmeno, chamam-se “fenômenos” e são produto de um processo de unificação intelectual que aplicado à multiplicidade sensível percebida pelos sentidos.
Outros pensadores alemães representantes do Idealismo foram Fichte (1762-1814), Schelling (1775-1854) e Hegel (1770-1831), que trabalharam a partir da revolucionária obra de Kant.
Idealismo transcendental
O Idealismo transcendental, também chamado “subjetivismo transcendental”, é o nome que Immanuel Kant deu à sua doutrina específica de pensamento. Em sua obra-prima, Crítica da Razão Pura, Kant resumiu a base da sua filosofia ao dizer que ‘Pensamentos sem conteúdo são vazios; as intuições sem conceitos são cegas’, ou seja, que ambos os conceitos são interdependentes para o conhecimento de qualquer coisa.
Assim, os objetos são o resultado do trabalho conjunto da sensibilidade (que oferece “o dado” a ela pelo noúmeno) e a razão (que usa diferentes categorias “aplicadas” pelo sujeito para unificar a multiplicidade sensível percebida).
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Referências
- Allison, H. E. (1992). El idealismo trascendental de Kant: una interpretación y defensa (Vol. 40). Anthropos Editorial.
- Von Schelling, F. W. J. (2005). Sistema del idealismo trascendental (Vol. 14). Anthropos Editorial.
- Dunham, J., Grant, I. H., & Watson, S. (2014). Idealism: The history of a philosophy. Routledge.
- Ameriks, K. (Ed.). (2017). The Cambridge companion to German idealism. Cambridge University Press.
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