Platão

Vamos explicar quem foi Platão e suas principais contribuições. Além disso, as etapas do seu pensamento e seu relacionamento com Sócrates.

Platón
Sócrates foi o mestre de Platão, e Aristóteles foi seu discípulo.

Quem foi Platão?

Platão foi um filósofo grego que nasceu em Atenas e viveu entre 427 e 347 a.C. Foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. É um dos filósofos mais influentes na história da filosofia.

É conhecido principalmente por ter sido o primeiro filósofo a apresentar uma obra de maneira mais ou menos sistemática. Entre suas principais ideias estão: a Teoria das Formas (ou Teoria das Ideias), a Alegoria da Caverna e o famoso Dualismo Platônico que divide o mundo em um mundo sensível e um mundo inteligível.

Em 387 a.C. fundou a Academia, uma escola filosófica que perdurou por 900 anos, na qual ensinavam matemática, medicina, retórica e astronomia, entre outras disciplinas. Até hoje, a Academia é considerada unanimemente como a primeira universidade do Ocidente.

A filosofia de Platão foi compilada em diversas obras, são conhecidas como Diálogos de Platão. São chamadas assim devido à forma como são articuladas, correspondendo à estrutura de um diálogo. Nelas são apresentados, por meio de diferentes personagens, as ideias e os conceitos platônicos.

Divididas pela tradição segundo o período em que foram escritas (juventude, maturidade e velhice), a maioria apresenta Sócrates como personagem principal. Apenas a Apologia de Sócrates, que expõe sua defesa perante o tribunal que o condenou à morte, não está escrita sob forma de diálogo.

A vida de Platão

Platão nasceu em Atenas por volta do ano 428 a.C. e faleceu aos 80 anos, nesta mesma cidade, em 348 a.C. Filho de Aristão e Perictione, cresceu junto aos seus dois irmãos, Adimanto, Glauco e sua irmã, Potone e um meio-irmão, Antifonte, filho de sua mãe e Pirilampo, que foi um velho amigo de Péricles. Sua família vinha de uma classe abonada e aristocrática, descendente do antigo rei Codro por parte de sua mãe, sobrinha de Crítias.

Platão, inicialmente, recebeu o nome de Aristocles, mais tarde, porém foi apelidado de “Platão” por ter um porte físico grande. De acordo com Diógenes Laércio (biógrafo dos antigos filósofos gregos), foi o professor de ginástica quem lhe deu esse apelido cuja tradução é “aquele que tem costas largas”.

A formação inicial de Platão é em artes, tais como pintura, poesia e drama. Antes de conhecer Sócrates, Platão se reunia com Crátilo, filósofo que o introduziu nas ideias do futuro heraclíteo. Aristóteles afirma que a teoria das ideias surge do cruzamento entre a impossibilidade heraclítea de conhecer e a busca socrática de uma definição das coisas.

Platão conheceu Sócrates aos vinte anos. Daquele momento em diante, e até a morte de seu mestre, fez parte de seu círculo permanentemente, e tornou-se discípulo e amigo íntimo do pensador. A maioria das obras de Platão colocam Sócrates como principal interlocutor, no papel de mestre e guia daqueles com quem conversa, discute e visita. Mesmo quando se discute o nível de fidelidade do Sócrates platônico (ou seja, o Sócrates descrito por Platão) é inegável ao Sócrates histórico, o fato de que Platão foi quem mais o conheceu e foi o maior de seus discípulos.

Sócrates faleceu em 399 a.C. Platão, nessa época, tinha 28 anos aproximadamente e, depois da morte do seu mestre, viajou à Sicília e à Itália, onde entrou em contato com eleatas e pitagóricos, estas escolas filosóficas o teriam influenciado notavelmente.

Após sua viagem pela Sicília, e depois de ser vendido como escravo pelo tirano Dionísio e resgatado Aníceris, da Cirenaica, Platão voltou à Atenas e se instalou fora dos muros da cidade, onde comprou uma propriedade e fundou a Academia. Esta funcionou como escola e universidade, foi assim até a Idade Média, ou seja, como centro de atividades acadêmicas e religiosas, onde eram celebrados cultos aos deuses e onde todo aquele que se aproximasse a formar-se sob sua tutoria era instruído.

Na Academia, e durante vinte anos, Platão teve como discípulo Aristóteles, considerado o seu melhor e mais disruptivo aluno.

Platão faleceu em 347 a.C., à idade de 80 anos, na cidade de Atenas, depois de dedicar os últimos anos da sua vida ao ensino e à formação de jovens pensadores, amigos e políticos.

Contribuições de Platão

Teoria das Ideias

A Teoria das Ideias ou Teoria das Formas é uma das contribuições que Platão deixou à filosofia. Em linhas gerais, estabelece uma diferença marcada entre o percebido através dos sentidos e o que é possível conhecer por meio do intelecto, que são as ideias ou formas das coisas. A palavra “ideia” vem do grego eidos (εἶδος) e pode ser traduzida por “forma”, “aspecto”, “tipo” ou “espécie", conforme seu uso.

A apresentação mais exaustiva desta teoria está no Parmênides, uma das obras platônicas do período de velhice. Também aparece uma explicação mais acessível em A República, por meio da alegoria da Caverna. Seja em uma ou na outra obra, a diferença ocorre entre o mundo visível dos sentidos e o invisível ou inteligível, onde habitam as ideias.

  • No mundo visível estão as coisas que conhecemos através dos sentidos. Estas coisas são como imagens ou traços das formas ou ideias das coisas do mundo inteligível, que é inacessível por meio dos sentidos.
  • No mundo inteligível estão as ideias sobre as quais os objetos sensíveis são cópias. As ideias são o objeto de estudo da dialética como ciência suprema, e os objetos sensíveis se assemelham porque, de acordo com Platão (e de um modo pouco claro), “participam” das ideias de modo imperfeito, degradado.

Uma das maiores críticas feitas à Teoria das Ideias foi proposta pelo próprio Aristóteles, que era discípulo de Platão. Aristóteles defendia que, apesar de ser verdade que a essência das coisas, como a sua forma, é o que as define, a forma não pode ser considerada independentemente das coisas. Para Aristóteles, a forma está inseparavelmente unida à matéria, e juntas constituem a substância.

A Alegoria da Caverna

alegoria de la caverna
O Mito da Caverna exemplifica como funciona o mecanismo de acesso ao conhecimento.

A Alegoria da Caverna é uma alegoria, ou seja, uma representação literária simbólica cuja função é pedagógico-filosófica. Junto à Alegoria da Carruagem Alada, é a mais importante na história da filosofia. Conta a história de alguns prisioneiros que nasceram acorrentados dentro de uma caverna onde a única coisa que podiam ver é uma parede sobre a qual eram projetadas as sombras do mundo real.

Platão introduz a Alegoria da Caverna no início do VII livro, A República, para explicar a situação em que se encontra o ser humano em relação ao conhecimento. Este texto descreve a forma em que é possível captar tanto o mundo sensível (através dos sentidos) como também o mundo inteligível (através da alma, já que como ela, tudo no mundo inteligível é eterno e imortal).

Segundo Platão, os prisioneiros que habitam a caverna, presos em correntes desde que nasceram, só podem ver as sombras geradas por meio de uma fogueira escondida atrás de um muro no fundo da caverna. Estas sombras são produzidas devido à presença de homens que circulam por um corredor carregando diferentes objetos. Os prisioneiros, desconhecem de onde vêm as sombras e acreditam que são a verdade das coisas.

A Alegoria da Caverna argumenta que se algum dos prisioneiros fosse libertado e voltasse a sua vista para a luz da fogueira, enfrentaria uma realidade mais perfeita, que é a causa da realidade das sombras. Uma vez que isso ocorresse, o prisioneiro poderia fugir para fora da caverna, onde ele veria um mundo mais perfeito, até se ver obrigado a olhar diretamente para o sol. Entretanto, ficaria cego caso quisesse voltar à caverna e libertar seus companheiros, cuja única coisa que fariam é zombar dele e, segundo Platão, seriam capazes até mesmo de matá-lo (em uma clara alusão ao que aconteceu a Sócrates).

Existem diferentes interpretações sobre esta alegoria. O próprio Platão oferece uma no final do livro VI e no VII de A República. As explicações possíveis são epistemológicas (sobre o conhecer), ontológicas (sobre o ser), educativas e até políticas. Ainda hoje estas interpretações são matéria de debate.

Dualismo platônico

O dualismo platônico é uma forma de pensar o conjunto corpo e alma separadamente. O que é característico em Platão é que este dualismo se estende a uma divisão do mundo entre o perfeito e o imperfeito. Se o perfeito é aquilo imortal, imperecível, eterno, imutável e necessário, o imperfeito é o temporal, mutável e corruptível.

Esta divisão do mundo gera um mundo sensível e um mundo inteligível. O mundo sensível é o mundo imperfeito, formado pela matéria, a que o corpo está submetido. Todas as coisas que existem no mundo sensível são feitas à imagem e semelhança do perfeito, representado pelas formas no mundo inteligível. Este se relaciona com a alma, e é o lugar onde habitam as coisas semelhantes a ela: como a alma, as ideias são eternas, imutáveis e necessárias.

Desta separação deriva a ideia platônica de que o corpo é prisão da alma e que, após o fim do corpo, a alma é livre e perfeita mais uma vez até voltar a encarnar num corpo distinto.

Outras consequências ou leituras possíveis a respeito do dualismo são observadas também, assim como suas implicações no conhecimento: de acordo com o dualismo platônico, a opinião (que é a forma do conhecimento sensível) se opõe à episteme (que é o conhecimento inteligível). Esta maneira de pensar o conhecimento é conhecida como dualismo epistemológico.

É possível ver também como se originam características ainda mais profundas do dualismo ontológico (o dualismo que explica a separação da realidade em dois mundos), como o problema da participação entre os dois mundos ou o problema do dualismo antropológico, por exemplo, que apresenta uma visão bipartida do ser humano que seria composto de corpo e alma e se pergunta como isso é possível.

Obra de Platão

Acredita-se que todas as obras de Platão foram conservadas até a atualidade. Todas elas, salvo a Apologia de Sócrates, foram escritas em forma de diálogo. Independentemente do tema ou da pergunta que diz respeito a cada uma, a maioria das obras apresenta uma explicitação do método socrático, exibido por meio das conversações entre Sócrates e diferentes interlocutores encarnados em pessoas da época ou pensadores famosos da época.

Ainda que alguns sejam baseados em fatos, muitos dos diálogos platônicos são uma ficção ensaiada por Platão com o intuito de oferecer o cenário necessário para expor as suas diferentes teses e ideias fundamentais. Estas ideias são narradas em forma de mitos ou alegorias, e se relacionam com a imortalidade da alma (apresentada no Fedro), o mito de Eros (descrita em O Banquete) o exemplo do escravo e a reminiscência (que aparece no Mênon), entre outros.

Por mais que seja verdade que estas obras são o conjunto de escritos publicados em vida, não devem ser consideradas como ensinamentos explícitos de Platão. Ao serem narradas em forma de diálogo e através do recurso do mito e da alegoria é uma indicação de que o que se encontra ali é material para interpretação. Além de publicar suas obras, Platão ensinava de maneira oral na Academia, razão pela qual se considera haver um ensinamento escrito, que figura nos diálogos, e um ensinamento oral, que possivelmente estava dedicado à exegese (ou interpretação filosófica de todas suas ideias), reservada àqueles que se consideravam seus alunos.

Platão acreditava que a linguagem escrita não era mais do que uma cópia da linguagem falada, e que a voz era para ele, o acesso direto à inteligência e ao conhecimentos acumulados na alma, que era inteligível. Esta tese interpretativa se baseia no Fedro, assim como em outras obras de Platão, como a Carta VII, em que afirma que algumas coisas não podem ser expressadas em palavras. Entretanto, o fato de Platão ter defendido um ensinamento oral não elimina o mérito nem prestígio filosófico que possuem todas as suas obras publicadas, um legado que hoje temos à nossa disposição.

Entre as principais obras de Platão se destacam:

  • A Apologia de Sócrates. Este é o único texto de Platão que não se apresenta em forma de diálogo, e mostra o julgamento e a defesa de Sócrates antes de ser condenado a ingerir cicuta.
  • Górgias. É um diálogo que apresenta as ideias platônicas sobre a retórica, a política e a justiça.
  • Mênon. Neste texto aparece pela primeira vez o ensinamento da virtude e a ideia do conhecimento como reminiscência.
  • Fédon. É um texto que trata sobre a imortalidade da alma, tese defendida por Sócrates antes de morrer, quando já estava na prisão.
  • O Banquete. Neste texto, durante um banquete ou um jantar entre amigos, surge o debate sobre temas como: o que é o amor, seus diferentes mitos e a ascensão erótica que Sócrates propõe como caminho à beleza.
  • A República. Trata-se de uma reflexão sobre o conceito de justiça e como se expressa no ser humano. Aqui a também a famosa Alegoria da Caverna, do sol, e outros mitos e metáforas.
  • Fedro. Este diálogo se focaliza nas ideias de amor, beleza e o destino da alma. Apresenta a Alegoria da Carruagem Alada para explicar a visão platônica da alma.
  • Timeu. É um dos últimos diálogos escritos de Platão. Apresenta temas complexos sobre a cosmologia e a física, tais como a formação do universo e dos seres vivos.

Fases do pensamento de Platão de acordo às suas obras

Geralmente, o trabalho filosófico de Platão, através dos seus diálogos, divide-se em quatro grandes períodos:

  • Período socrático (393-389 a.C.). Nesta fase, Platão difundiu algumas de suas teses baseadas nos ensinamentos de Sócrates. Nelas aborda conceitos como a mentira, a piedade e a amizade. Algumas das suas obras publicadas durante este período são as seguintes: Apologia a Sócrates, Critão ou O Dever, Íon ou Da Poesia, Lísis ou Da Amizade, Cármides ou Da Sabedoria e Protágoras ou Os Sofistas.
  • Período de transição (389-385 a.C.). Foi nesta fase que Platão fundou a Academia, que foi fundamental para aprofundar e desenvolver ciências como a matemática e a astronomia. Abordou teorias baseadas nos ensinamentos de Sócrates e de Pitágoras, e desenvolveu conceitos próprios sobre a imortalidade da alma, a virtude e a linguagem. Algumas das suas obras publicadas durante este período são as seguintes: Hípias Maior, Górgias, Menêxeno e Mênon.
  • Período de maturidade (385-361 a.C.). Nesta fase, que foi a mais destacada, Platão desenvolveu suas ideias sobre a imortalidade da alma, a Teoria da Reminiscência (que afirmava a existência de certos conhecimentos inatos no ser humano), o Método da Dialética Ascendente (que consistiu no aperfeiçoamento da maiêutica de Sócrates e contemplava a relação causa-efeito do observado), o conceito do amor (que se opôs ao “amor platônico”) e sua filosofia política. Algumas de suas obras publicadas durante este período são: A República, Fedro, Fédon e O Banquete.
  • Período da velhice (361-347 a.C.). Durante sua velhice, Platão fez uma exaustiva revisão da Teoria das Ideias. Esta teoria afirma uma dualidade da realidade entre o mundo sensível (o que os sentidos percebem) e o mundo inteligível (o que se pode compreender por meio do intelecto). Explorou também conceitos relacionados à natureza e à medicina. Algumas de suas obras publicadas durante este período foram: Parmênides, Teeteto, O Sofista e O Político.

Referências

  • Guthrie, W. (1988). Historia de la filosofía griega, vol. IV. Platón, el hombre y sus diálogos: primera época. Gredos.
  • Guthrie, W. (1988). Historia de la filosofía griega, vol. V. Platón, segunda época y la Academia. Gredos.
  • Guthrie, W. (1953). Los filósofos griegos. De Tales a Aristóteles. FCE.
  • Ross, W. D. (1993). Teoría de las Ideas de Platón. Cátedra.
  • Cordero, N. (2008). La invención de la filosofía. Una introducción a la filosofía antigua. Editorial Biblos.
  • “Plato” em Britannica.
  • “Una introducción a la Teoría de las ideas de Platón” em Universia.
  • “Platón” Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes.

Como citar?

As citações ou referências aos nossos artigos podem ser usadas de forma livre para pesquisas. Para citarnos, sugerimos utilizar as normas da ABNT NBR 14724:

ESPÍNOLA, Juan Pablo Segundo. Platão. Enciclopedia Humanidades, 2023. Disponível em: https://humanidades.com/br/platao/. Acesso em: 29 abril, 2024.

Sobre o autor

Autor: Juan Pablo Segundo Espínola

Licenciatura em Filosofia (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 30 março, 2024
Data de publicação: 28 junho, 2023

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