Vamos explicar o que foi o Século de Ouro Espanhol, seus períodos estéticos e seus principais autores. Além disso, suas características, tendências e muito mais.
O que foi o Século de Ouro Espanhol?
É conhecido como Século de Ouro Espanhol a um período da cultura literária espanhola que se desenvolveu entre os séculos XVI e XVII. Foi uma etapa de florescimento das artes e da literatura na Espanha da dinastia dos Áustrias ou dos Habsburgos.
Este período começou por volta de 1500, com a reunificação da península Ibérica sob o controle dos Reis Católicos, e terminou no final do século XVII. Apesar do nome, não é uma delimitação exata de tempo, mas identifica um estilo literário e artístico que esteve no auge por mais de um século e meio, e que abrange o Renascimento e o Barroco.
A literatura do Século de Ouro Espanhol foi marcada pelos valores do sentimento patriótico espanhol e do catolicismo. Entre os gêneros preferidos, destacaram-se as obras épicas e as baladas, que no início do Renascimento tomaram a forma de romances de cavalaria. Ao longo do século XVI, surgiram os romances picarescos, que relatavam as aventuras cômicas de personagens cavaleiros.
Entre os autores literários mais importantes do Século de Ouro Espanhol se destacam Garcilaso de la Vega (1498?–1536), Santa Teresa de Jesus (1515–1582), Miguel de Cervantes (1547–1616), Luis de Góngora (1561–1627), Lope de Vega (1562–1635), Francisco de Quevedo (1580–1645) e Pedro Calderón de la Barca (1600–1681).
Em relação às artes plásticas, o Século de Ouro Espanhol foi marcado pelas pinturas de El Greco, no final do Renascimento, e de Diego Velázquez, que se tornou um ícone do Barroco espanhol.
A denominação Século de Ouro foi idealizada por Luis José Velázquez, marquês de Valdeflores, um erudito e antiquário do século XVIII. Ele usou o termo pela primeira vez em seu estudo Origens da Poesia Castelhana de 1754, embora com isso se referia exclusivamente ao século XVI. Logo, o uso da expressão se estendeu e acabou sendo empregada para designar a cultura literária espanhola dos séculos XVI e XVII.
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Contexto histórico do Século de Ouro Espanhol
No final do século XV, os Reis Católicos (Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão) conseguiram completar a chamada Reconquista Espanhola, ao derrotar as tropas do Reino Nacérida (Granada). Com esta vitória, expulsaram o último estado muçulmano da península. Além disso, incorporaram Navarra e Nápoles, conquistaram as ilhas Canárias, ocuparam áreas do norte da África e começaram a expansão ultramarina pelo Atlântico, o que levou ao encontro da América.
Desta forma, os Reis Católicos transformaram a Espanha em um dos impérios mais poderosos da época. Por sua vez, o Império Espanhol conseguiu a entrada constante de riquezas e ouro, através da conquista e colonização do continente americano durante o século XVI.
Neste contexto, a cultura e a arte espanhola tomaram um grande impulso e se vincularam com diferentes temáticas. Por um lado, as obras artísticas exaltavam a grandeza do Estado espanhol e o catolicismo. Por outro lado, receberam a influência do Renascimento italiano, das impressões espanholas do mundo americano e, mais tarde, do Barroco europeu. Além disso, neste período foi introduzida a gráfica, o que permitiu uma maior difusão das obras literárias e generalizou o uso da língua espanhola vulgar nos escritos, em vez do latim.
Durante o Século de Ouro Espanhol, popularizou-se os saberes que tradicionalmente estavam reservados às classes superiores educadas. As instituições educacionais se expandiram, várias obras artísticas foram difundidas e as publicações se multiplicaram. Neste contexto, foram especialmente potencializados os gêneros literários da sátira e a comédia popular, o romance picaresco e, sobretudo, o romance polifônico. A música, a pintura e a escultura também foram influenciadas pelo maneirismo em exagero das formas e a abundância de conteúdo.
Períodos estéticos do Século de Ouro Espanhol
O Século de Ouro Espanhol compreende dois períodos estéticos distintos:
- O Renascimento espanhol. Abrangeu os reinados dos Reis Católicos, Carlos I e Filipe II, durante o século XVI. O estilo renascentista na Espanha tomou formas estéticas particulares, marcadas pela fusão da corrente renascentista italiana com os elementos ibéricos espanhóis, e influenciados pela estética islâmica das terras recuperadas na Reconquista.
- O Barroco espanhol. Abrangeu os reinados de Felipe III, Felipe IV e Carlos II, durante o século XVII. O estilo barroco na Espanha foi marcado pela reação contra a beleza idealizada e pela busca do realismo.
Literatura do Século de Ouro Espanhol
Durante o Século de Ouro Espanhol, a literatura foi caracterizada pelo desenvolvimento dos seguintes gêneros:
- O romance de cavalaria. Era uma forma narrativa romântica de cavaleiros, que alcançou grande difusão pelo desenvolvimento da gráfica e inaugurou o formato de “romances por entregas”, que separava a publicação em capítulos e buscava a aparição de intrigas. O romance mais representativo do Século de Ouro Espanhol foi Dom Quixote da Mancha, escrito por Miguel de Cervantes Saavedra. Em 1605, a primeira metade foi publicada em quatro partes, e em 1615, a continuação.
- O romance picaresco. Era um tipo de romance satírico, protagonizado por malandros, jovens de classe social baixa, marginais ou criminosos, que ganhavam a vida se aproveitando das outras pessoas com as suas estratégias. Este anti-herói funcionava como contraste do ideal cavalheiresco medieval e manifestava uma crítica social às instituições espanholas e à distância entre a vida dos nobres e a dos humildes. Entre as obras mais representativas do romance picaresco estão Lazarillo de Tormes (1544, anônimo), Guzmán de Alfarache (1599 e 1604, Mateo Alemán) e A vida do Buscón (1604–1620, Francisco de Quevedo).
- A poesia ascética e mística. Era um tipo de composição religiosa, de raiz católica, em que os poetas exploravam o seu chamado espiritual. Essa tendência consolidou a fé católica espanhola, em oposição à divisão da Igreja com a Reforma Protestante. Foram representativas deste gênero as obras de São João da Cruz e de Santa Teresa de Jesus.
- As peças de teatro. Eram obras com uma proposta teatral renovada, cômica e influenciada pela literatura contemporânea e pela criação de comédias de capa e espada. Entre os principais dramaturgos do período estão Lope de Vega, Pedro Calderón de la Barca, Tirso de Molina e Juan Ruiz de Alarcón.
- Os estudos históricos. Era um tipo de narrativa orientada a relatar acontecimentos históricos relevantes para a Espanha, como as guerras de reconquista ou os reinados de monarcas importantes.
Pintura do Século de Ouro Espanhol
Durante o Século de Ouro Espanhol, as artes plásticas foram caracterizadas pela influência do maneirismo, em pintores como El Greco, e outras tendências do Renascimento italiano, em artistas como Juan de Juanes e Alonso Sánchez Coello.
Ao longo do século XVII, com a influência do Barroco, também se destacaram as obras de Diego Velázquez, José de Ribera e de Alonso Cano.
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Referências
- Angulo Íñiguez, D. (1980). “Pintura española de los siglos XIV y XV” y “Pintura española del siglo XVI y portuguesa de los siglos XVI y XVII”. Historia del arte. Tomo segundo. Distribuidor E.I.S.A.
- Fusi, J. P. y Calvo Serraller, F. (2014). “La monarquía hispánica” y “Barroco y Contrarreforma”. Historia del mundo y del arte en Occidente. Galaxia Gutenberg.
- Peña de Gómez, M. P. (2006). “El siglo XVI”. Manual básico de Historia del Arte. Universidad de Extremadura.
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