Ocupação do Ruhr

Vamos explicar o que foi a ocupação do Ruhr. Além disso, suas causas, consequências e principais protagonistas.

A França e a Bélgica ocuparam o Ruhr com o intuito de cobrar o que a Alemanha lhes devia.

O que foi a ocupação do Ruhr?

A ocupação do Ruhr foi a invasão da região mineradora e industrial da bacia do rio Ruhr, na Alemanha, por tropas francesas e belgas. A ocupação começou no dia 11 de janeiro de 1923 e terminou em 25 de agosto de 1925, quando as últimas tropas de ocupação se retiraram.

Isso foi decidido pelo presidente do Conselho de Ministros da França, Raymond Poincaré, devido ao fato de a Alemanha não ter pago as reparações de guerra previstas no Tratado de Versalhes (1919) e fixadas pela Comissão de Reparações em 1921.

A intenção de Poincaré era cobrar as reparações por meio da exploração direta dos recursos da região, principalmente do carvão. Entretanto, a ocupação provocou uma campanha de “resistência passiva” dos trabalhadores alemães, que interrompeu a produção no Ruhr e levou a uma crise econômica na Alemanha marcada pela hiperinflação.

Em 1924, o governo francês passava por seus próprios problemas econômicos e aceitou a implementação do Plano Dawes, patrocinado pelos Estados Unidos, para garantir o pagamento das reparações de guerra e manter a estabilidade econômica da Alemanha.

A França e a Bélgica concordaram em retirar suas tropas do Ruhr e a ocupação terminou em agosto de 1925.

PONTOS IMPORTANTES

  • A ocupação da região alemã do Ruhr pelas tropas francesas e belgas começou no dia 11 de janeiro de 1923. Ocorreu em resposta ao não pagamento de indenizações de guerra por parte da Alemanha.
  • A ocupação franco-belga do Ruhr levou o chanceler alemão Wilhelm Cuno a incentivar a resistência passiva dos trabalhadores da região, paralisando a economia ao mesmo tempo em que provocava a hiperinflação na Alemanha.
  • A implementação do Plano Dawes em 1924 para garantir os pagamentos e estabilizar a economia alemã promoveu o fim da ocupação. As últimas tropas foram evacuadas em 25 de agosto de 1925.

O contexto histórico

Após a vitória dos Aliados na Primeira Guerra Mundial (1914–1918), a Conferência de Paz de Paris levou à elaboração de uma série de tratados de paz com as nações derrotadas. O Tratado de Versalhes (1919) impôs uma série de cláusulas à Alemanha, que incluía o pagamento de reparações de guerra, já que foi considerada responsável pela eclosão da guerra.

Ainda que os Estados Unidos e o Reino Unido considerassem que era desejável uma posição conciliatória com a Alemanha para garantir os pagamentos, o governo francês conseguiu impor uma posição mais rígida para forçar o governo alemão a pagar. Por sua vez, a Alemanha não estava disposta, desde o início, a arcar com custos que excediam sua capacidade econômica.

Em abril de 1921, a Comissão de Reparações comunicou o valor total que a Alemanha deveria pagar aos países vencedores.Em julho de 1922, o governo alemão solicitou uma nova moratória e atrasou a remessa de carvão que deveria chegar à França como parte das reparações. A resposta do presidente do Conselho de Ministros da França, Raymond Poincaré, não demorou a chegar.

A ocupação franco-belga do Ruhr

Em 26 de dezembro de 1922, Raymond Poincaré, através de seu representante na Comissão de Reparações, conseguiu que fosse declarada a “falta de pagamento voluntária” da Alemanha mais uma vez. No dia 9 de janeiro de 1923, foi declarado que a Alemanha havia infringido deliberadamente as entregas de carvão acordadas e, em 11 de janeiro de 1923, tropas francesas e belgas ocuparam o distrito de Ruhr. Os britânicos mantiveram uma posição distante em relação a essa decisão, e os italianos, embora teoricamente unidos no movimento, não participaram da ação.

O governo alemão, sob o comando do chanceler Wilhelm Cuno, incitou a população do Ruhr à resistência passiva, que incluía ações de greve. Ao mesmo tempo, começou a emitir dinheiro para pagar os custos de ajuda aos trabalhadores grevistas e indenizar seus empregadores. Enquanto isso, o governo francês tentou, sem sucesso, fomentar um movimento separatista na Renânia.

A retirada das tropas franco-belgas do Ruhr

As dificuldades econômicas e a aplicação do Plano Dawes favorecem a retirada francesa do Ruhr.

Os franceses assumiram o controle das empresas inativas do Ruhr e trouxeram especialistas para colocá-las em funcionamento. Entretanto, toda a operação terminou em fracasso econômico: A Alemanha mergulhou em uma hiperinflação e o marco (moeda alemã) perdeu praticamente todo o seu valor.

A França, por sua vez, enfrentou sérias dificuldades econômicas e o franco começou a se desvalorizar de forma significativa. Como consequência, precisava de empréstimos dos Estados Unidos, que estavam em risco porque o governo americano se opunha à ocupação do Ruhr.

Em agosto de 1923, Cuno renunciou e o novo gabinete alemão, chefiado por Gustav Stresemann, exigiu o fim da resistência passiva em 26 de setembro. Pouco tempo depois, o governo francês de Édouard Herriot concordou com a retirada do Ruhr, que foi implementada em vários períodos.

A implementação, em 1924, do Plano Dawes para garantir os pagamentos alemães e manter a estabilidade econômica permitiu um novo clima de concórdia. A retirada das tropas francesas e belgas do Ruhr foi concluída em 25 de agosto de 1925.

Os protagonistas da ocupação do Ruhr

Raymond Poincaré 1860–1934

Raymond Poincaré foi um político francês que iniciou sua carreira política como membro do parlamento em 1887. Foi presidente da República Francesa de 1913 a 1920 e presidente do Conselho de Ministros por três vezes.

Conservador e nacionalista, durante seu segundo mandato como chefe do governo francês, entre 1922 e 1924, adotou uma postura dura em relação à Alemanha e exigiu o pagamento total e imediato das indenizações de guerra

A incapacidade da Alemanha de pagar e a subsequente solicitação de uma nova moratória levaram Poincaré a decidir pela ocupação francesa da região do Ruhr.

A ocupação do Ruhr e a política de resistência passiva da Alemanha levaram à hiperinflação na Alemanha e à desvalorização da moeda na França.

As dificuldades econômicas e a necessidade francesa de empréstimos americanos levaram o próximo governo francês, liderado por Édouard Herriot, a aceitar o Plano Dawes e a retirar gradualmente as tropas do Ruhr.

Wilhelm Cuno 1876–1933

A resistência passiva promovida por Wilhelm Cuno levou a uma profunda crise econômica.

Wilhelm Cuno foi um político e empresário alemão que começou como consultor do governo alemão e, durante a Primeira Guerra Mundial, ocupou vários cargos ligados à administração do suprimento de alimentos.

Em novembro de 1922, Cuno foi nomeado chanceler da República de Weimar. Não conseguiu renegociar as indenizações de guerra que a Alemanha não podia pagar. Em janeiro de 1923, as tropas francesas e belgas ocuparam a região do Ruhr e Cuno convocou a população alemã para uma resistência passiva.

A resistência passiva piorou a situação econômica da Alemanha e a levou à hiperinflação. Cuno perdeu o voto de confiança e teve de renunciar em agosto de 1923. Foi substituído por Gustav Stresemann, que ordenou o fim da resistência passiva.

Gustav Stresemann 1878–1929

O empresário Gustav Stresemann tornou-se ativo na política em 1903, quando se filiou ao Partido Liberal Nacional.Em 1907, iniciou sua atividade legislativa no Reichstag (Parlamento Alemão).

Apesar de ser um defensor do expansionismo alemão, depois da derrota na Primeira Guerra Mundial, adaptou-se à realidade republicana estabelecida pela República de Weimar. Em 1918, fundou o Partido Popular Alemão.

Stresemann foi nomeado chanceler da Alemanha substituindo Wilhelm Cuno em agosto de 1923. Sua posição contra a ocupação francesa e belga da bacia do Ruhr foi anunciar o fim da resistência passiva que havia sido incentivada por seu antecessor.

Durante seu mandato, o marco continuou perdendo valor, mas seu governo introduziu uma nova moeda, o Rentenmark, para deter a hiperinflação. Além disso, estava preparado para pagar as indenizações devidas se a França e a Bélgica se retirassem do Ruhr.

Stresemann foi forçado a renunciar ao cargo de chanceler em novembro de 1923, mas continuou a atuar como ministro das Relações Exteriores até 1929. Nesta função, incentivou a cooperação com a França, o que levou à retirada das tropas francesas e belgas do Ruhr em agosto de 1925.

Édouard Herriot (1872–1957)

Édouard Herriot foi um político francês. Filho de um oficial do exército, começou sua carreira política ainda muito jovem e, durante a Primeira Guerra Mundial, foi ministro dos Transportes e Obras Públicas no governo de Aristide Briand. Destacou-se como orador e logo se tornou o líder do Partido Radical.

Como líder do Cartel da Esquerda (uma coalizão de radicais e socialistas), chegou ao poder em 1924. Seguiu uma política externa conciliatória: estabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS), aceitou o Plano Dawes e aceitou evacuar as tropas francesas do Ruhr. Seu governo teve vida curta: seu primeiro gabinete caiu em 1925 e seu segundo mandato, em 1926, durou apenas três dias. Em 1932, voltou a exercer o cargo de presidente do Conselho de Ministros por alguns meses.

Da oposição, colaborou em 1934 com a formação da Frente Popular. Essa coalizão antifascista triunfou nas eleições de 1936 e Herriot foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Permaneceu neste cargo até a rendição da França a Adolf Hitler em junho de 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939–1945).

Referências

  • Britannica, Encyclopaedia (2023). Édouard Herriot. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/ 
  • Britannica, Encyclopaedia (2017). Ruhr occupation. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/
  • Britannica, Encyclopaedia (2022). Treaty of Versailles. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/ 
  • Cabrera, M., Juliá, S. & Martín Aceña, P. (comps.) (1991). Europa en crisis. 1919-1939. Editorial Pablo Iglesias.
  • Sevillano Calero, F. (2020). La Europa de entreguerras. El orden trastocado. Síntesis.

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Gayubas, Augusto. Ocupação do Ruhr. Enciclopédia Humanidades, 2024. Disponível em: https://humanidades.com/br/ocupacao-do-ruhr/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Augusto Gayubas

Doutor em História (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 29 de julho de 2024
Data de publicação: 26 de janeiro de 2024

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