Bolcheviques e mencheviques

Vamos explicar o que foram os bolcheviques e os mencheviques e quem eram seus líderes. Além disso, quais eram suas características e ideologias.

bolcheviques - mencheviques
Os bolcheviques e os mencheviques eram facções socialistas da Revolução Russa.

O que foram os bolcheviques e os mencheviques?

Os bolcheviques e os mencheviques foram duas facções políticas que disputaram o caminho que tomou a Revolução Russa em 1917. Ambas pertenciam ao Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR) e eram de filiação socialista.

Fizeram parte dos protestos e greves contra o governo de Czar Nicolau II, que se iniciaram na chamada Revolução de 1905 e culminaram na abdicação do Czar na Revolução de fevereiro de 1917. Embora os bolcheviques e os mencheviques se unissem para a luta, tinham diferenças ideológicas fundamentais em relação ao modo ideal de conduzir a nação russa a um estado socialista.

Os mencheviques seguiam as ideias marxistas tradicionais e queriam transformar a sociedade russa de maneira gradual: converter a sociedade feudal czarista em uma sociedade industrial, burguesa e democrática, que depois evoluiria para o socialismo.

Os bolcheviques reclamavam uma transformação radical e imediata para estabelecer o socialismo através da “ditadura do proletariado”: criar um governo centralizado, liderado pelos dirigentes do partido e orientado a organizar uma sociedade comunista, sem propriedade privada ou classes sociais.

A Revolução de Fevereiro derrubou a monarquia czarista e formou um governo provisório com base no Parlamento. No entanto, abriu-se um período de dispersão de poder, no qual cresceu a influência do soviete de Petrogrado (conselho de representantes operários da capital russa).

Em outubro do mesmo ano, os bolcheviques derrubaram o governo provisório e instalaram um novo governo liderado por Lenin. Finalmente, diante do crescimento das tensões e das lutas internas, em 1921, os mencheviques foram ilegalizados e expulsos do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia e tiveram que se exilar ou integrar-se ao partido único bolchevique.

Origem dos bolcheviques e dos mencheviques

A diferença entre bolcheviques e mencheviques surgiu durante o Segundo Congresso do POSDR em 1903, com o desacordo entre os líderes socialistas sobre a natureza do partido.

Alguns líderes, como Pavel Axelrod e Julius Martov, argumentavam que, para fazer progressos, era necessário aumentar o tamanho do partido e flexibilizar a sua filiação. Axelrod acreditava que o controle do partido devia ser transferido diretamente aos trabalhadores. Martov se inclinava por limitar os poderes do comitê central e a liderança do partido e outorgar certa autonomia aos comitês locais.

Em oposição a essas posturas, Lenin afirmava que a organização do partido devia manter-se controlada por uma direção hierárquica e disciplinada, que incluísse apenas a militância de trabalhadores comprometidos com a causa revolucionária. Acreditava que a revolução devia ser organizada por uma elite profissional que guiasse as ações das massas.

Perante este desacordo, no Segundo Congresso se rompeu a unidade do partido e ficaram claramente delimitadas as duas facções. Os bolcheviques se identificaram com uma ação radical para conseguir a revolução e se uniram sob a direção de Lenin. Em contrapartida, os mencheviques mantinham posições socialistas mais moderadas, ligadas à ação de diferentes representantes como Axelrod e Martov.

O que significam os termos “bolchevique” e “menchevique”?

O termo “bolchevique” significa em russo “membro da maioria”. O termo “menchevique” significa em russo“membro da minoria”.

Esta nomenclatura provém da divisão de militantes na votação de 1903, no seio do Segundo Congresso do POSDR, no qual os bolcheviques eram a facção radicalizada e os mencheviques a moderada.

Os líderes de ambas as facções

Lenin
Lenin foi o principal líder dos bolcheviques.

Entre os principais líderes dos bolcheviques encontrava-se Vladimir Ilich Ulianov, conhecido como “Lenin”, um ideólogo fundamental do comunismo soviético. Lenin acreditava que para construir uma sociedade comunista na Rússia se devia instalar a “ditadura do proletariado”, um governo forte e centralizado liderado pelos dirigentes do partido, para poder implementar as medidas radicais que levariam à eliminação da propriedade privada e a uma sociedade sem classes.

Os mencheviques, ao contrário, tinham uma liderança diversa que mudava com a força dos representantes que se opunham aos bolcheviques. A facção menchevique se originou com a oposição de Julius Martov e Pavel Axelrod às ideias de Lenin no Segundo Congresso do POSDR em 1903.

Mais tarde, outros pensadores e políticos, como León Trotski e Aleksandr Kerenski, destacaram-se na liderança da facção.

A ideologia bolchevique

Os bolcheviques abraçavam as teses de Lenin que postulavam a necessidade de uma ditadura do proletariado implementada mediante a revolução violenta, para alcançar o socialismo na Rússia.

Esta revolução se sustentava na aliança da classe operária com o camponês, cuja força conjunta poderia derrubar o czar, acabar com os latifundiários e impedir as manobras da burguesia.

Para isso, Lenin propunha um “centralismo democrático”, no qual um único partido assumiria o pleno poder da única classe dominante, o proletariado. Para pertencer a este partido seria necessário pertencer primeiramente a alguma organização adscrita; isto é, ter exercido a militância.

A ideologia menchevique

Karl Marx
A ideologia menchevique postulava um avanço gradual em direção ao socialismo.

Os mencheviques defendiam um modelo partidário amplo, diverso e democrático, afastado do partido único proposto por Lenin.

Seu ideal era alcançar a social-democracia primeiro, instaurar um sistema representativo que modernizasse a Rússia agrária e, depois de atingir um alto nível de industrialização, instaurar o socialismo. Esta tese, mais próxima das teorias de Karl Marx, assemelhava-se mais aos modelos de partidos operários alemães, com uma estrutura menos rígida e autoritária do que a proposta por Lenin.

Diferenças entre os bolcheviques e os mencheviques

A diferença central entre as duas facções tinha a ver com a natureza do partido e com as ideias de como se deveria implementar o socialismo na Rússia, que era um país com um sistema produtivo pouco industrializado.

Em termos gerais, os mencheviques sustentavam que para chegar a implementar o socialismo na Rússia, primeiro se deveria transformar o sistema produtivo feudal através da industrialização. Para isso, a sociedade russa deveria passar necessariamente por uma etapa de capitalismo, antes de chegar ao socialismo. Por isso, acreditavam que os setores liberais e a incipiente burguesia eram aliados fundamentais, ainda que temporários, para a revolução.

Em contrapartida, os bolcheviques acreditavam que se podia instalar um regime socialista na Rússia, a partir da transformação da economia camponesa, em uma economia industrial, dirigida por um governo comunista. Para isso, devia-se implementar uma ditadura do proletariado de maneira transitória, até chegar à conformação de uma sociedade sem classes. Neste sentido, acreditavam que o setor camponês oprimido era um setor fundamental para alcançar a revolução.

Ruptura partidária entre os bolcheviques e os mencheviques

bolcheviques - mencheviques
Os bolcheviques viram a necessidade de criar um partido a favor dos camponeses.

Em 1905, devido ao mal-estar econômico agravado pelo exército russo-japonês e pelo autoritarismo czarista, multiplicaram-se as greves camponesas e operárias, as manifestações estudantis e realizaram-se uma série de atentados terroristas contra as pessoas que tinham cargos importantes czaristas.

Após uma grande repressão por parte das tropas do governo, o czar Nicolas II autorizou a criação de uma constituição e a fundação de um Parlamento nacional com representantes eleitos por cidadãos (chamada Duma).

Os grupos liberais (da elite burguesa), os profissionais da classe média e a pequena burguesia aceitaram as reformas propostas. No entanto, os operários das principais cidades (São Petersburgo e Moscou), liderados pelo POSDR, mantiveram a oposição e organizaram um conselho de representantes operários eleitos nas fábricas, chamado “soviete”.

Os mencheviques foram muito ativos na formação do soviete de São Petersburgo e lideraram a reunião de operários, dirigentes e ativistas de diferentes correntes. No entanto, no final de 1905, as tropas czaristas conseguiram dissolvê-lo pela força e iniciaram um período de repressão e perseguição dos líderes revolucionários.

Nesse contexto, os mencheviques abandonaram a ideia da luta armada e concentraram seus esforços em fazer crescer o partido de forma legal, como um partido de massas com a força e o respaldo suficientes para conseguir mudanças graduais. Acreditavam que a Rússia não estava preparada para uma revolução socialista sem o apoio das classes médias e da burguesia.

Em vez disso, os bolcheviques sustentavam que era fundamental preservar a organização clandestina do partido e manter uma estrutura compacta e revolucionária. Afirmavam que a revolução deveria excluir os setores liberais e apoiar-se, ao contrário, no setor camponês oprimido. A aliança entre os setores operários e camponeses era, para eles, a base da revolução.

Em 1912, as duas facções foram efetivamente separadas e constituídas como agrupamentos autônomos.

Papel no governo provisório de 1917

Trotski - bolcheviques - mencheviques
Em 1917, o Soviete de Petrogrado era liderado por León Trotski.

A Primeira Guerra Mundial e as suas consequências desastrosas para a economia russa abriram caminho para uma nova revolução. Em fevereiro de 1917, a sociedade russa se rebelou contra o governo czarista de maneira muito mais determinante do que em 1905.

Em princípio, as revoltas foram lideradas pelos grupos liberais e intelectuais da burguesia. No entanto, os sovietes operários constituíram-se como a facção mais forte e dinâmica da revolução e exigiram a abdicação do czar, a criação de um novo governo e a satisfação de um conjunto de exigências sociais e econômicas próprias do setor operário.

A Revolução de Fevereiro de 1917 conseguiu a renúncia do czar Nicolau II e o estabelecimento de um governo provisório com base no Parlamento. No entanto, o poder dos setores operários concentrou-se no soviete de São Petersburgo e, na prática, constituiu-se como outra instituição de governo durante este período.

Neste contexto, os mencheviques conseguiram ocupar os lugares do Parlamento e colocar Aleksandr Kerensky como primeiro-ministro do governo provisório. Em vez disso, os bolcheviques concentraram o seu poder nos sovietes operários. Isto gerou uma situação de poder dual que desencadeou tensões e impediu uma rápida reorganização política e solução dos problemas herdados do czarismo.

Decadência do menchevismo

Nos meses seguintes à Revolução de Fevereiro, o governo provisório não conseguiu resolver os problemas urgentes da sociedade russa. Não se decidiu a assinar o armistício com os alemães (que implicava a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial) e nem pode conter as demandas de terras dos camponeses, nem implementar as reformas laborais exigidas pelos operários.

Com o descontentamento geral, os mencheviques perderam influência dentro e fora do governo. Os setores liberais de direita tentaram um golpe de Estado, liderado por Larv Kornilov, que foi desarticulado pela ação dos operários bolcheviques. Finalmente, começou a Revolução de Outubro, na qual a facção bolchevique tomou efetivamente o poder.

A Revolução de Outubro

bolcheviques - mencheviques
A Revolução de Outubro instalou o regime soviétivo bolchevique.

Na noite de 24 de outubro, os operários e revolucionários bolcheviques ocuparam a sede do governo provisório e tomaram os gabinetes fundamentais do governo, com pouca resistência. Instalaram um novo governo chamado Conselho de Comissários do Povo e liderado por Lenin, sob o lema “odo o poder para os sovietes”.

Uma vez no poder, Lenin adotou imediatamente uma série de medidas drásticas com o objetivo de implementar a ditadura do proletariado: expropriação das terras da nobreza, partilha de terras entre camponeses, direito de autodeterminação às nacionalidades, decreto de paz com a Alemanha para a saída da Primeira Guerra Mundial.

No entanto, quando se realizaram as eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte, os bolcheviques obtiveram apenas 25 % dos votos. Perante esta situação, fecharam a Assembleia, puseram fim ao breve período democrático e decretaram a criação de uma ditadura de partido único.

Durante o ano seguinte, os mencheviques ganharam popularidade e começaram a ter grandes vitórias eleitorais nos sovietes, que eram a base do poder bolchevique. Perante esta perda de controle, o governo bolchevique dissolveu os sovietes, reprimiu as manifestações contra eles e fechou a imprensa da oposição.

Finalmente, em 1921 o partido menchevique foi legalmente proibido e a maioria de seus membros foram expulsos do país.

Referências

  • Carr, E. H. (1981). Octubre de 1917. En La revolución rusa. De Lenin a Stalin (1917-1929). Alianza Editorial.
  • Fitzpatrick, S. (2005). Introducción, El Escenario y 1917: las revoluciones de Febrero y Octubre. En La revolución rusa. Siglo XXI Editores.
  • Milosevich, M. (2017). Los grupos políticos de comienzo del siglo XX. En Breve historia de la revolución rusa. Galaxia Gutemberg.

Como citar?

As citações ou referências aos nossos artigos podem ser usadas de forma livre para pesquisas. Para citarnos, sugerimos utilizar as normas da ABNT NBR 14724:

KISS, Teresa. Bolcheviques e mencheviques. Enciclopedia Humanidades, 2023. Disponível em: https://humanidades.com/br/bolcheviques-e-mencheviques/. Acesso em: 4 maio, 2024.

Sobre o autor

Autor: Teresa Kiss

Professora de História do ensino médio e superior.

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ)

Data da última edição: 18 março, 2024
Data de publicação: 7 setembro, 2023

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