Vamos explicar o que é realismo e quais são suas principais características. Além disso, alguns subgêneros e as obras mais representativas.
O que é realismo?
O realismo é um movimento artístico nascido na Europa na segunda metade do século XIX como uma resposta à idealização predominante do romantismo. Apresenta uma atitude em relação à arte (principalmente literária, escultural e pictórica) que visa representar diretamente a realidade, ou seja, valoriza a identificação da obra de arte com o mundo real.
É importante diferenciar entre o realismo como tendência e o movimento artístico chamado realismo. O interesse em reproduzir fielmente a realidade surgiu em vários momentos da história da arte e o termo pode ser aplicado hoje a qualquer forma de expressão (como cinema ou fotografia).
Entretanto, o movimento artístico conhecido como realismo refere-se especificamente a um conjunto de práticas e expressões artísticas que surgiram na França em meados do século XIX como uma reação às inclinações idealistas que dominavam o cenário europeu na época.
O realismo é frequentemente relacionado ao naturalismo, que visa a reproduzir a natureza do mundo, mas o faz com base na observação científica. Também se opõe ao abstracionismo, ao idealismo ou, no caso da literatura, à visão subjetiva do romantismo e escolas afins.
Em termos gerais, o realismo está associado a uma doutrina de pensamento laica, empirista e cotidiana.
A primeira obra realista
O termo foi criado pelo pintor Gustave Courbet, que deu o nome “realismo” a uma exposição que realizou em 1855 como uma alternativa ao Salon de l'Académie des Beaux-Arts em Paris, na qual exibiu sua obra O Ateliê do Pintor: uma alegoria real que define uma fase de sete anos de minha vida artística (e moral). Esta obra é considerada uma declaração dos princípios do movimento realista: a arte deve ser uma representação crua, objetiva e honesta da realidade imediata.
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Características do realismo
1. Foco no ser humano
A abordagem do realismo propõe um olhar centrado nas pessoas comuns, em seus assuntos cotidianos e em sua existência mundana. A preferência por temas anônimos em vez de seres míticos ou grandes personalidades respondia à ideia de uma arte comprometida com os problemas de seu tempo.
Os artistas realistas tinham interesse em retratar experiências concretas e mostrar a dignidade das pessoas comuns, o que tornava suas obras mais acessíveis a um público mais amplo.
2. Precisão técnica
A aspiração de reproduzir o real se manifestava em níveis de detalhes e precisão técnica que visavam reforçar o efeito de verossimilhança. As expressões, os gestos e os objetos eram retratados com grande precisão.
3. Temas não idealizados
O realismo pretendia se afastar das visões idealistas. Procurava retratar fielmente situações da vida social e cotidiana em centros urbanos ou áreas rurais. Qualquer insinuação mitológica, religiosa, fantástica ou onírica era contrária aos princípios do realismo.
4. Crítica social e política
O realismo nasceu após a Revolução Industrial, que criou uma nova elite com forte influência econômica e social, enquanto os trabalhadores viviam em condições de pobreza e precariedade. A desigualdade, a corrupção e as injustiças sociais de todos os tipos geraram um crescente mal-estar social que os realistas procuraram refletir em suas obras.
Ao mesmo tempo, o legado do Iluminismo abriu caminho para o nascimento de novas filosofias e movimentos políticos que tiveram um impacto significativo nas ideias dos artistas sobre seu papel social. Muitos assumiram uma postura crítica e comprometida com as realidades de seu tempo.
Pinturas representativas do realismo
Antecedentes do realismo
[Miguel Ángel Buonarroti. David, 1504]
As tendências realistas podem ser encontradas em vários estágios da arte, mesmo em formas tão antigas quanto as pinturas rupestres nas cavernas de Altamira, onde bisões pré-históricos foram pintados detalhadamente, aproveitando o formato das rochas para dar uma sensação de volume.
Da mesma forma, muitas formas de escultura na Grécia e Roma Antigas se esforçavam para produzir representações fiéis da figura humana. Como herança desta tradição, a pintura medieval também procurou retratar o sofrimento de seus santos e mártires da forma mais realista possível.
A escultura e a pintura do Renascimento, em seu afã de focar o olhar no ser humano, também impuseram um certo realismo, embora seus motivos fossem heroicos e mitológicos.
Surgimento do realismo
[Canaletto (Giovanni Antonio Canal). Piazza San Marco, 1744]
A expansão do romantismo, com seus temas exóticos e mitológicos, provocou uma resposta artística de rejeição baseada nas ideias racionalistas do Iluminismo.
O realismo surgiu dessa rejeição: empreendeu a busca pela arte na vida cotidiana, nos conflitos de classe e na sociedade capitalista emergente.
Realismo e naturalismo
[Francisco de Goya. Três de Maio em Madri ou Os pelotões de fuzilamentos, 1814]
O naturalismo é frequentemente considerado um passo além do realismo devido ao seu compromisso com o pensamento laico (ou seja, não religioso) e racionalista, suas representações artísticas fiéis à realidade humana e sua indagação moral. Esta busca exigia representações artísticas absolutamente fiéis à realidade social humana com o objetivo de explorar a moralidade e explicar a pobreza e a violência.
Seu maior expoente e defensor foi o francês Émile Zola (1840–1902), que estabeleceu os princípios teóricos no prólogo de seu romance Thérèse Raquin e em seu ensaio O Romance Experimental.
Hiper-realismo
Em decorrência da expansão da fotografia, o hiper-realismo surgiu na pintura: um movimento do século XX nos Estados Unidos e na Europa, cujo objetivo era obter qualidade e clareza fotográficas por meio dos mecanismos da pintura tradicional. Este movimento também estava presente nas histórias em quadrinhos e na escultura.
Realismo mágico
O realismo mágico é uma escola literária que surgiu na América Latina no século XX, cujo maior expoente é o colombiano Gabriel García Márquez. O realismo mágico busca uma representação realista de eventos estranhos e maravilhosos, que causam pouca ou nenhuma surpresa no universo ficcional em que ocorrem.
Esta vertente do realismo é uma posição sobre a realidade social e cultural dos povos latino-americanos, inicialmente formulada pelo cubano Alejo Carpentier (como “o real maravilhoso”) e pelo venezuelano Arturo Uslar Pietri (como “realismo mágico”).
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Referências
- Morris, P. (2003). Realism. Psychology Press.
- Nineteenth-Century French Realism. (s.f.). Recuperado Marzo 2024, de Metropolitan Museum of Art: https://www.metmuseum.org/
- Realism-art. (n.d.). Recuperado Marzo 2024, de Britannica: https://www.britannica.com/
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