Vamos explicar o que foi a Geração de 98 e sua origem. Além disso, suas características e seus principais representantes.
O que foi a Geração de 98?
A Geração de 98 foi um movimento literário e cultural que predominou na Espanha durante as primeiras décadas do século XX. Foi composto por um grupo de escritores, poetas e pensadores espanhóis que nasceram durante as décadas de 1860 e 1870 e que foram afetados moral e intelectualmente pela derrota da Espanha na Guerra Hispano-americana.
Em 1898, a Espanha perdeu suas últimas terras no continente americano: Cuba se tornou independente, enquanto que Porto Rico e Filipinas ficaram em poder dos Estados Unidos. Esta situação gerou um impacto social e político na Espanha, que por vezes se manifestou como uma oposição cultural à ordem da restauração bourbônica.
A Geração de 98 se sentiu obrigada a repensar a identidade e o lugar da Espanha no mundo, e a explorar seus problemas políticos e sociais internos. Embora não fosse uma escola ou um movimento homogêneo, em geral os seus expoentes assumiram uma postura crítica perante as normas sociais e a situação política da época. Ao mesmo tempo, procuraram romper com as formas clássicas e conservadoras da literatura.
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O contexto histórico
Em 1874, a Espanha viveu a restauração da monarquia bourbônica depois da efêmera experiência da Primeira República Espanhola (1873-1874). Esta última tinha sido o resultado de um período democrático iniciado com a Revolução de 1868.
Com a restauração bourbônica foi introduzido um sistema de alternância política sob a autoridade monárquica, promovido pelo dirigente conservador Antonio Cánovas del Castillo, enquanto as desigualdades sociais decorrentes da exploração econômica provocavam a agitação de setores operários e camponeses.
Neste contexto, a derrota espanhola na Guerra Hispano-americana de 1898 provocou que a Espanha perdesse as últimas posses que conservava na América e se popularizasse a ideia de uma Espanha em decadência. Alguns intelectuais, principalmente contrários à marca conservadora da restauração monárquica, reagiram a este contexto histórico pensando na necessidade de uma regeneração espanhola.
A origem da Geração de 98
O termo “geração de 98” foi usado inicialmente de modo impreciso, mas o escritor espanhol José Martínez Ruíz, conhecido como Azorín, elaborou-o e difundiu em diversos ensaios críticos publicados em jornais que foram compilados no livro Clássicos e Modernos de 1913.
Diante da derrota da Espanha na Guerra Hispano-americana de 1898, alguns intelectuais perceberam que parte da sociedade espanhola proclamava um renascimento moral e cultural do país. Este sentimento de desilusão e desespero inspirou muitos autores a difundir novas ideias e valores.
Os escritores da Geração de 98 se preocuparam com a herança da Espanha e sua posição no mundo moderno. Tomaram conhecimento das tendências literárias estrangeiras e dedicaram-se a reconsiderar os valores espanhóis no contexto mundial.
O resultado foi o despertar de uma consciência nacional no pensamento e na literatura, bem como o abandono de estilos clássicos e realistas a favor de uma linguagem mais simples e de um interesse pela paisagem dos povos da Espanha. Também ganhou importância o ensaio como gênero literário.
Os precursores e expoentes da Geração de 98
A lista de expoentes da Geração de 98 está integrada por alguns dos nomes mais importantes da literatura espanhola. Entre seus precursores está o intelectual Joaquín Costa (1846-1911), que representou o Regeneracionismo que propunha superar a “decadência” da Espanha. No entanto, outras personalidades são, por vezes, consideradas precursoras e ocasionalmente incluídas na Geração de 98, como Miguel de Unamuno e Angel Ganivet.
Entre os principais expoentes da Geração de 98 destacam-se:
- Ángel Ganivet (1865-1898)
- Miguel de Unamuno (1864-1936)
- José Martínez Ruiz, mais conhecido como Azorín (1873-1967)
- Ramiro de Maeztu (1874 ou 1875-1936)
- Pio Baroja (1872-1956)
- Vicente Blasco Ibáñez (1867-1928)
- Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936)
- Antonio Machado Ruiz (1875-1939)
- Manuel Machado Ruiz (1874-1947)
As características da Geração de 98
A Geração de 98 foi caracterizada por usar uma linguagem simple, mas expressiva. Os escritores do movimento substituíram a retórica recarregada e detalhista que dominava naqueles anos por frases concisas e simples, nas quais se destacava o conteúdo sociopolítico sobre a beleza do estilo e a abundância de informação.
O uso de uma linguagem simples não era um impedimento para transmitir ideias e conteúdos complexos. Autores como Azorín e Miguel de Unamuno, que foram influenciados por pensadores como Friedrich Nietzsche e Arthur Schopenhauer, evidenciaram sua intenção de difundir na Espanha correntes filosóficas do irracionalismo europeu.
Naqueles anos também foi importante um movimento literário surgido na América Latina, chamado Modernismo. Este movimento também propunha uma renovação do estilo literário, tanto na poesia como na prosa, e alguns estudiosos reconheceram relações do Modernismo com a Geração de 98. No entanto, esses movimentos se diferenciavam na importância atribuída pelo Modernismo ao gozo estético.
Os escritores da Geração de 98 tiveram em comum as seguintes características:
- A preocupação nacional. Viam o momento que atravessava a Espanha como uma etapa de atraso ou decadência e consideravam que a regeneração social dependia de uma regeneração intelectual. Davam importância à vida e às tradições dos povos e manifestavam interesse em reconhecer a identidade e “o ser” da Espanha.
- A criação de novas formas de expressão literária. Procuravam abandonar ou modificar estilos literários, para os quais criaram formas próprias, como a novela impressionista de Azorín ou os esperpentos de Valle-Inclán. Às vezes, resgatavam a fala tradicional ou camponesa.
- O uso de uma linguagem simples. Preferiam frases simples e expressivas, antes que a grandiloquência ou o detalhismo de outros estilos como o realismo. Davam mais importância ao conteúdo e à naturalidade do que à beleza retórica.
- O pessimismo. Expressavam uma visão pessimista da realidade espanhola, que às vezes implicava uma crítica com matizes reformistas e outras conduzia ao Ceticismo. Exploravam em suas obras a angústia, os temores e as perguntas sobre a existência. Alguns receberam a influência da obra do filósofo pessimista Arthur Schopenhauer ou do filósofo niilista Friedrich Nietzsche.
O fim da Geração de 98
O período de mais importante atividade da Geração de 98 chegou até aproximadamente 1915. Nas duas décadas seguintes, os expoentes deste movimento continuaram dominando a cena literária e publicando obras de grande importância, mas alguns críticos afirmam que a maioria deles tinha sofrido mudanças e que o impulso criativo inicial tinha ficado no passado.
Entretanto, o problema da regeneração nacional da Espanha ficou por resolver. A partir de então, ganharam importância outros escritores jovens, como José Ortega e Gasset (1883-1955) e Ramón Pérez de Ayala (1880-1962), que se dedicaram a repensar o “problema da Espanha” e antecederam os escritores da chamada “Geração do 27”.
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Referências
- Ortega y Gasset, J. (1981). Ensayos sobre la «Generación del 98» y otros escritores españoles contemporáneos. Alianza.
- Shaw, D. (1982). La generación del 98. Cátedra.
- Trapiello, A. (1998). Los nietos del Cid: la nueva Edad de Oro de la literatura española (1898-1914). Planeta.
- “Generation of 1898” em Encyclopaedia Britannica.
- “Precursores de la generación del 98” em Hispanoteca.
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