Cruzadas

Vamos explicar o que foram as Cruzadas, quais foram suas causas e como se classificam. Além disso, suas características e consequências.

Cruzadas
As Cruzadas tinham como finalidade recuperar o controle da Terra Santa.

O que foram as Cruzadas?

Chama-se Cruzadas a uma série de campanhas militares levadas a cabo por cristãos da Europa ocidental, especialmente da França, do Sacro Império Romano-Germânico e da Inglaterra, sob o impulso da máxima autoridade da igreja católica com sede em Roma, o Papa.

As Cruzadas duraram quase dois séculos (entre 1096 e 1291) e sua finalidade era recuperar o controle político e religioso da chamada “Terra Santa” (Jerusalém e arredores), que era governada por autoridades muçulmanas.

São reconhecidas oito Cruzadas oficiais dirigidas ao Oriente Médio e ao norte da África, mas também foram denominadas assim outras guerras e iniciativas político-religiosas, como a Reconquista na península Ibérica, a perseguição dos Albigenses do sul da França (declarados hereges pela igreja católica) e os confrontos com “pagãos” e muçulmanos em áreas do Báltico e da Europa do leste.

Os guerreiros que participavam desses contingentes armados foram chamados de cruzados porque carregavam uma cruz de pano costurada sobre suas roupas. Deste modo, identificavam-se como fiéis à missão da igreja católica. Em troca de seus esforços, era-lhes concedida a indulgência plenária, ou seja, todos os pecados que tivessem cometido no passado eram perdoados.

O contexto histórico das Cruzadas

Antecedentes das Cruzadas

Em meados do século XI, os turcos seljúcidas que professavam o Islã sunita se expandiram pelo Oriente Médio, conquistaram Bagdá e estenderam seu domínio para o oeste. O império Bizantino, que conservava a fé cristã, estava perdendo territórios na Europa e na Ásia e o imperador Romano IV decidiu enfrentar os turcos seljúcidas que ameaçavam seu predomínio na Anatólia (atual Turquia).

A derrota bizantina em Manzikert (1071) permitiu aos seljúcidas conquistar a Anatólia, a Síria e a Palestina, esta última das mãos dos fatimitas (muçulmanos xiitas que tinham estabelecido um califado com centro no Egito).

O domínio muçulmano sobre Jerusalém e arredores não tinha até então impedido a convivência e peregrinação de cristãos que desejavam entrar em contato com os “Lugares Santos” pelos quais se acreditava que Jesus havia caminhado. Mas o domínio seljúcida e os conflitos na região fizeram da peregrinação um empreendimento perigoso. Ao mesmo tempo, a fraqueza do império Bizantino impedia que este oferecesse proteção aos peregrinos.

Neste contexto, a expansão do Islã e, em particular, do domínio seljúcida que estava às portas de Constantinopla, a capital do império Bizantino, motivou tanto o pedido de ajuda militar por parte do imperador bizantino Alejo I Comneno como a disposição dos poderes ocidentais para acudir.

O apelo às Cruzadas

O pedido de ajuda militar do imperador bizantino Aleixo I Comneno motivou o chamado feito pelo Papa Urbano II no Concílio de Clermont (França) em 1095. Ele convocou os cristãos da Europa para viajar à Terra Santa para libertá-la do domínio muçulmano e ofereceu aos que fossem para a indulgência plenária, ou seja, o perdão de todos os pecados cometidos no passado.

Apesar de que o chamado de Urbano II fosse dirigido a nobres e cavaleiros, acudiram pessoas de toda condição social sob o lema “Deus quer”. Estima-se que entre 60.000 e 100.000 indivíduos se mobilizaram em 1096 motivados pela fé, pela obrigação de seguir um senhor ou pelo desejo de adquirir terras e saquear.

Uma primeira excursão não oficial, conhecida como “Cruzada Popular”, foi instigada por Pedro “o ermitão”, um clérigo francês que promoveu o chamado de Urbano II entre camponeses e outros setores humildes. Estes avançaram em milhares pela Europa, a maioria desarmados ou com armas rudimentares, saquearam durante o caminho para abastecer-se e agrediram populações judias. Quando chegaram à Anatólia, a maioria foi massacrada ou escravizada pelos turcos seljúcidas.

A origem do termo “cruzadas”

vestimenta-Cruzadas
A cruz estava bordada no tecido do uniforme dos soldados cruzados.

As Cruzadas têm esse nome por causa da cruz que levavam os cruzados bordada em seu uniforme ou pintada em seus escudos e outros acessórios. Este sinal manifestava publicamente que a pessoa tinha feito o voto de “tomar a cruz”, ou seja, comprometer-se numa expedição em defesa da fé católica. Assim, o termo em latim crucesignatus, que pode ser traduzido como “cruzado”, nomeava uma pessoa que estava “sob o símbolo da cruz”.

No início das Cruzadas, os cristãos que marchavam armados ou desarmados para a Terra Santa eram reconhecidos indistintamente como peregrinos e as campanhas recebiam nomes genéricos como “viagem a Jerusalém”, “peregrinação” ou “"expedição”". Ao longo do século XII, a diferença entre guerreiros e peregrinos desarmados se fez mais forte e tanto o termo “cruzados” (reservado aos guerreiros) como “"Cruzada”" começaram a se generalizar no final deste século. “"Cruzada”" tornou-se sinônimo de peregrinação armada e de guerra santa.

As causas ou as motivações das Cruzadas

A principal motivação das Cruzadas foi deter a expansão islâmica e recuperar o controle da chamada "Terra Santa”, ou seja, Jerusalém e outros lugares da Palestina onde se acreditava que Jesus havia vivido, morrido e depois ressuscitado.

Também conhecidos como "Lugares Santos", esses lugares estavam desde o século VII sob o domínio político de regimes islâmicos e eram o destino de peregrinos cristãos provenientes da Europa. Mas a conquista dos turcos seljúcidas e os conflitos que tiveram lugar na região no final do século XI tornaram perigosa a peregrinação e avivaram o anseio cristão de expulsar os mulçumanos dela.

No entanto, os historiadores também reconhecem outras motivações complementares:

  • O pedido de ajuda do imperador bizantino que desencadeou o posterior chamado às Cruzadas foi um pedido de assistência militar para fazer frente aos turcos seljúcidas e defender a soberania política do que ainda restava do império.
  • A pregação do Papa Urbano II, que chamava a viajar a Jerusalém para recuperar e defender a Terra Santa, pode ter sido também devido ao interesse em devolver a primazia ao papado sobre toda a cristandade que, naquela época, estava dividida na igreja católica do ocidente e na igreja ortodoxa do oriente.
  • Alguns dos participantes nas Cruzadas tinham interesses econômicos, como a apropriação de terras e riquezas ou o aproveitamento das rotas terrestres e marítimas para fazer negócios. A Quarta Cruzada adquiriu inclusive uma motivação em grande medida comercial: os mercadores venezianos convenceram os cruzados a atacar cidades cristãs com as quais competiam pela supremacia comercial, o que resultou na tomada e saqueio de Constantinopla, a capital do império Bizantino.

As Cruzadas maiores

Primeras Cruzadas
A Terceira Cruzada foi conhecida como a Cruzada dos Reis.
  • Primeira Cruzada. Começou em 1096 e terminou em 1099. Foi formada principalmente por cavaleiros franceses e normandos que integravam contingentes dirigidos por líderes autorizados pelo Papa. Entre estes estavam o príncipe Boemundo de Taranto e o duque Godofredo de Bulhão. Resultou numa vitória para os cruzados que atravessaram a Anatólia, conquistaram Antioquia e finalmente capturaram Jerusalém, que estava sob o domínio dos muçulmanos fatimitas. Isto significou a recuperação de alguns territórios por parte do império Bizantino e o estabelecimento na Síria e na Palestina de quatro estados cruzados (conhecidos como Estados latinos do oriente) governados por alguns dos líderes militares das Cruzadas: o reino de Jerusalém, o principado de Antioquia, o condado de Trípoli e o condado de Edessa.
  • Segunda Cruzada. Aconteceu entre 1147 e 1149, a partir da queda do condado de Edessa (o primeiro Estado latino) diante dos turcos seljúcidas em 1144. Os exércitos cristãos do rei Luís VII da França e do imperador Conrado III da Alemanha marcharam por toda a Europa encorajados pela pregação do monge cisterciense Bernardo de Claraval. Atravessaram a Anatólia, onde tiveram de enfrentar ataques turcos. Tentaram tomar Damasco na Síria, mas falharam e retiraram-se com grandes perdas humanas. No início desta Cruzada em 1147, os cruzados que iam em direção ao oriente tinham passado pela Península Ibérica e tinham recuperado Lisboa, Almeria e Tarragona das mãos dos muçulmanos.
  • Terceira Cruzada. Ocorreu entre 1189 e 1192 e foi conhecida como a Cruzada dos Reis, pois nela participaram o rei da Inglaterra Ricardo I “"Coração de Leão”", o rei da França Felipe II e o imperador do Sacro Império Romano-Germânico Federico I Barbarossa. Teve o objetivo de recuperar Jerusalém, que tinha caído nas mãos do sultão do Egito e da Síria Salah al-Din Yusuf ibn Ayyub (conhecido no ocidente como Saladino) após a Batalha de Hattin em 1187. Embora os cruzados não puderam reconquistar Jerusalém, uma série de vitórias litorâneas favoreceram a assinatura do Tratado de Ramla entre Ricardo I e Saladino, pelo qual o primeiro reconhecia o controle muçulmano da cidade e o segundo se comprometia a permitir a peregrinação cristã.
  • Quarta Cruzada. Começou em 1202 e terminou em 1204, não se dirigiu contra muçulmanos, mas contra outros cristãos. A intenção inicial desta Cruzada era avançar sobre o Egito para enfraquecer o controle que os muçulmanos exerciam sobre a Terra Santa. No entanto, os cruzados tiveram dificuldades para financiar a viagem e foram convencidos pelas autoridades da República de Veneza, que tinham reunido uma onerosa frota para a expedição, a fim de conquistar a cidade cristã de Zara (na atual Croácia) com a que disputavam o controle do Adriático. Também movidos pelo interesse de assegurar a predominância comercial no Mediterrâneo oriental, os venezianos persuadiram os cruzados para atacar Constantinopla, a capital do império Bizantino, cujo imperador Aleixo IV não tinha cumprido, além disso, seu compromisso de financiamento da expedição original. Os cruzados sitiaram e conquistaram Constantinopla em 1204 e saquearam-na durante vários dias. Depois proclamaram em seu lugar o império latino de Constantinopla, que perdurou até 1261.

As Cruzadas menores

Cruzadas
A Sétima Cruzada teve lugar entre 1248 e 1254, a cargo de Luís IX da França.
  • Quinta Cruzada. Começou em 1217 e culminou em 1221. Propõe derrotar o Estado ayubí do Egito, como via para a reconquista de Jerusalém. Reuniu-se um grande exército e foi colocado sob o comando do rei André II da Hungria e do duque Leopoldo VI da Áustria por iniciativa do Papa Inocêncio III e seu sucessor Honório III. Depois de capturar Damieta, na foz do Nilo, os cruzados tentaram atacar o Cairo, mas as forças muçulmanas e as inundações no Nilo obrigaram que eles se retirassem e abandonassem as conquistas anteriores.
  • Sexta Cruzada. Teve lugar entre 1228 e 1229 a cargo de Federico II Hohenstaufen, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que tinha sido excomungado pelo Papa por não ter ido antes para a Terra Santa e, portanto, empreendeu a campanha sem o aval papal. As tensões internas do Islã permitiram ao imperador germano iniciar negociações com o sultão do Egito e da Síria, al-Kamil, que enfrentava conflitos políticos dentro de seu vasto território. Assim, Federico II obteve Jerusalém, Belém, Nazaré e outras cidades com a condição de permitir a permanência e o livre trânsito dos muçulmanos.
  • Sétima Cruzada. Teve lugar entre 1248 e 1254, a cargo de Luís IX da França, uma vez que a trégua assinada no final da Sexta Cruzada tinha terminado e os muçulmanos tinham reconquistado Jerusalém em 1244. Os cruzados foram derrotados no Egito, igual como na Quinta Cruzada e foram feitos prisioneiros. Luís IX e suas tropas foram logo resgatados.
  • Oitava Cruzada. Em 1270, Luís IX reiniciou a conquista de terras muçulmanas desembarcando na Tunísia com a intenção de avançar depois sobre o Egito, onde governava agora o sultão mameluco Baibars, no entanto, teve disenteria e morreu poucos dias depois. Então o príncipe Eduardo da Inglaterra se juntou aos esforços do falecido Luís IX e dirigiu suas tropas para a Palestina no que alguns consideram uma Nona Cruzada, mas este também fracassou em 1272. A partir daí, os Estados cruzados foram perdendo territórios frente ao avanço mameluco e deixaram de existir em 1291 (por esta razão, alguns historiadores registram este ano o fim das Cruzadas). O último reduto cruzado na região foi a ilha de Arwad que foi conquistada pelos mamelucos em 1302.

Os Estados cruzados

O avanço da Primeira Cruzada pela Anatólia, Síria e pela Palestina promoveu a criação de quatro Estados cristãos que tinham a função de assegurar os territórios conquistados. São conhecidos como Estados cruzados ou Estados latinos do oriente.

Cada um destes Estados estava a cargo de um líder cruzado que exercia autoridade sobre a sua população cristã e muçulmana. Muitos cruzados que cumpriam seus votos ao visitar o Santo Sepulcro retornavam à Europa, enquanto outros permaneciam e se colocavam à disposição da autoridade dos governantes cristãos.

Estes Estados organizaram-se principalmente segundo uma ordem feudal: o líder militar reclamava territórios por direito de conquista e repartia terras e responsabilidades entre seus seguidores, que lhe deviam fidelidade.

  • O condado de Edessa (1098-1144). Foi o primeiro estado cruzado, criado por Balduíno de Boulogne na Síria, que posteriormente se proclamou rei de Jerusalém. Foi também o primeiro Estado cruzado a desaparecer, pois foi conquistado pelos turcos seljúcidas em 1144, fato que desencadeou a Segunda Cruzada.
  • O principado de Antioquia (1098-1268). No sul da atual Turquia, este Estado ficou a cargo de Boemundo de Taranto, que depois de ter sido feito prisioneiro pelos muçulmanos e finalmente libertado, deixou como regente o seu sobrinho Tancredo. Este principado atravessou diversos conflitos e perdas territoriais até a sua dissolução em 1268 pelas mãos dos mamelucos do sultão Balibar.
  • O condado de Trípoli (1109-1268). O assédio de Trípoli no Líbano foi inicialmente conduzido por Raimundo de Saint-Gilles, que chegou a ostentar o título de conde de Trípoli por ter conquistado as terras vizinhas. O assédio foi completado após sua morte. Assim se criou o condado de Trípoli, que durou até 1268 quando caiu ante os mamelucos.
  • O reino de Jerusalém (1099-1187). A conquista de Jerusalém teve como protagonista Godofredo de Bouillón que conseguiu vencer os muçulmanos fatimitas que haviam expulsado os turcos seljúcidas. O resultado imediato foi um massacre da população muçulmana e judia acompanhado da captura de prisioneiros. Godofredo proclamou-se governante de Jerusalém com o título de “protetor do Santo Sepulcro” e depois da sua morte foi sucedido pelo seu irmão Balduíno que adotou o título de rei de Jerusalém. Este reino foi perdido pelo sultão Saladino em 1187. Durante a Terceira Cruzada os cristãos recuperaram territórios no litoral da Palestina e estabeleceram seu centro em Acre (atual Israel). Eles também fundaram o reino de Chipre. Acre foi finalmente conquistada pelos mamelucos em 1291 e isso significou o fim dos Estados cruzados.

Os Cruzados

soldado cruzado
Muitos indivíduos viam a oportunidade de alistarem-se e serem perdoados pelos seus pecados.

As primeiras Cruzadas convocaram pessoas de toda condição social e de diferentes pontos da Europa. Alguns setores humildes e marginais participaram da chamada “Cruzada Popular” que não teve a aprovação do Papa, mas outros se integraram nas Cruzadas oficiais junto a nobres e cavaleiros que iam mais bem equipados e treinados. A partir da Segunda Cruzada alguns reis adquiriram protagonismo na condução destas expedições.

As razões para participar nas Cruzadas eram diversas. A mais visível era o fervor religioso que todos os estratos sociais da cristandade ocidental podiam experimentar, motivados pela defesa da Terra Santa ou pela indulgência plenária. Mas também foi importante a ambição política de alguns nobres que desejavam conquistar territórios e os interesses econômicos de setores da baixa nobreza ou de condição social menos privilegiada que se beneficiaram da rapina, saques ou obtenção de terras para usufruto.

Alguns simplesmente seguiam seus senhores, a quem deviam fidelidade (esta forma de recrutamento por obrigações de lealdade parece ter sido predominante a partir da Terceira Cruzada). Alguns comerciantes podiam aproveitar as rotas de transferência para o Oriente médio como uma oportunidade de negócios e outros indivíduos podiam ser motivados pela obtenção de títulos nobres como recompensa por acompanhar os líderes cruzados.

O sucesso da Primeira Cruzada e o estabelecimento dos cruzados na Síria e na Palestina também favoreceram a criação de ordens monásticas e militares que tinham a missão de proteger os peregrinos e defender as novas posses cristãs. Assim nasceram os cavaleiros templários (1119-1314), os cavaleiros hospitalários (surgidos em 1113 e famosos, entre outras coisas, por seu controle de castelos como o Crack dos cavaleiros na Síria), os cavaleiros teutônicos (cuja ordem foi fundada em 1190), entre outros. Estes monges-guerreiros tomavam votos monásticos e se dedicavam à atividade militar.

A organização militar dos cruzados dependia tanto da cavalaria como da infantaria. As unidades formavam-se a partir do juramento de fidelidade a um líder cruzado. O translado a partir da Europa se fez inicialmente por via terrestre, mas a partir da Terceira Cruzada se fez mais frequente o recurso a embarcações, geralmente providas por cidades comerciais italianas como Veneza e Gênova.

Contra quem se dirigiam os Cruzados?

Cruzadas-musulmanes
O poder político e religioso dos muçulmanos competia com o do cristianismo.

As Cruzadas para a Terra Santa se dirigiam contra populações muçulmanas. O primeiro objetivo dos cruzados era expulsar os turcos seljúcidas dos Lugares Santos. No final do século XI, eles dominavam grande parte do Oriente Médio e ameaçavam o império Bizantino. Embora os cruzados tenham enfrentado os seljúcidas nas primeiras cruzadas, o cerco de Jerusalém em 1099 foi dirigido contra os fatimitas que governavam do Egito e que haviam expulsado os seljúcidas da cidade.

Outros adversários muçulmanos dos cruzados foram os Aiúbidas, que responderam à autoridade do sultão do Egito e da Síria (Saladino ou seus sucessores); os mamelucos, entre cujos sultões se destacou Baibars I e os almorávidas que foram vencidos por cruzados ao serviço do rei de Portugal na península ibérica como parte da chamada Reconquista.

Os cruzados também enfrentaram populações cristãs, especialmente no império Bizantino e exerceram a violência sobre populações judaicas. Outros episódios que foram chamados “Cruzadas” foram realizados no território europeu e se dirigiram contra cristãos “hereges”, como a guerra contra os Albigenses do sul da França e contra “pagãos”, como as Cruzadas bálticas.

As consequências das Cruzadas

As Cruzadas tiveram diversas consequências na Europa e no Oriente Médio, entre elas estão:

  • Pararam o avanço do Islã para o Ocidente e preservaram a hegemonia cristã na Europa.
  • Ampliaram a influência do papado no mundo ocidental e, por um tempo, entre os cristãos do Oriente, embora as diferenças entre cristianismo oriental e ocidental se acentuaram e tornaram irreversível a separação entre a igreja católica e a igreja ortodoxa.
  • Determinaram o declínio do império Bizantino, que se desintegrou finalmente em 1453 depois da queda de Constantinopla frente aos Turcos otomanos.
  • Aumentaram a presença cristã em regiões do Oriente Médio e outros lugares da Ásia, incluindo a promoção de missões franciscanas e dominicanas.
  • Reforçaram a ideia de unidade religiosa e cultural da Europa ocidental cristã em oposição ao Oriente muçulmano e aumentaram a intolerância religiosa contra muçulmanos, judeus e contra aqueles que eram considerados pagãos e hereges.
  • Deram um novo impulso ao comércio entre o Oriente e o Ocidente, introduzindo novas culturas e produtos exóticos na Europa e favoreceram a recepção ocidental das ciências, das artes e da filosofia do Islã, bem como de obras gregas que conservavam o império Bizantino ou que tinham sido traduzidas e comentadas por intelectuais árabes (embora teve maior impacto nisto a Reconquista na península ibérica).
  • Arruinaram muitos senhores feudais que haviam abandonado, vendido ou hipotecado suas terras para se dirigirem à Terra Santa, enquanto beneficiaram comerciantes das cidades e fortaleceram algumas casas reais europeias que tinham concentrado recursos através dos impostos e das tarifas ao comércio.
  • Aumentaram a hegemonia de grandes cidades comerciais como Veneza, Gênova e Pisa que controlavam as rotas de intercâmbio com o Oriente Médio.
  • Incentivaram a formação de ordens religioso-militares criadas com o fim de participar das Cruzadas e proteger os peregrinos; algumas delas acumularam poder e riquezas e inspiraram a criação de outras ordens, mas em algumas ocasiões entraram em conflito com os poderes eclesiástico e secular (como aconteceu com a Ordem dos Templários, que foi dissolvida no século XIV).
  • Acentuaram as divisões dentro do Islã, mas também intensificaram suas diferenças com os poderes cristãos, cujo comportamento durante as Cruzadas foi motivo de repreensão.
  • Estimularam a elaboração de narrativas que durante séculos exaltaram o heroísmo quer de reis e nobres europeus ao serviço da cristandade (no ocidente cristão), quer de governantes que tinham lutado em defesa do Islã (como Salah al-Din Yusuf ibn Ayyub, conhecido no ocidente como Saladino).
  • Difundiram a ideia de cruzada religiosa e “guerra santa”" que influiu na concepção de expansões posteriores, como por exemplo a conquista do Novo Mundo.

O perdão pelas Cruzadas

Juan Pablo II - cruzadas
O Papa João Paulo II pediu perdão pelos massacres cometidos em nome de Deus.

No ano 2000, o então Papa da igreja católica João Paulo II confessou publicamente as “culpas do passado” e pediu perdão pelos atos de intolerância e violência cometidos em nome da fé católica ao longo da história.

Entre os fatos que motivaram esta manifestação de arrependimento e penitência estavam, embora sem nomeá-los, os crimes da Inquisição e os massacres perpetrados durante as Cruzadas.

Outras guerras e episódios de violência foram denominados “Cruzadas”, mas não fizeram parte do esforço católico para recuperar ou defender a Terra Santa. Entre eles, destacam-se os seguintes:

  • A Cruzada Albigense (1209-1229) se dirigiu contra os Cátaros ou Albigenses do sul da França que pregavam uma doutrina gnóstica cristã considerada herética pela igreja católica. O Papa recorreu à coroa francesa e começou uma guerra que terminou com a vitória dos cruzados do rei da França sob o condado de Toulouse que abrigava os Albigenses. De qualquer forma, o movimento Cátaro não se extinguiu e continuou a ser perseguido pela Inquisição.
  • A Reconquista na península ibérica também adquiriu caráter de Cruzada. Por exemplo, os cruzados que iam em direção à Terra Santa em 1147 receberam a missão eclesiástica de expulsar os muçulmanos de Lisboa, Almeria e Tarragona, e a Batalha de Navas de Tolosa que teve lugar em 1212 recebeu contingentes de diversas partes da Europa devido a que o Papa Inocêncio III a previu como uma Cruzada.
  • As Cruzadas bálticas foram protagonizadas pelos cavaleiros da Ordem Teutônica que havia sido criada durante a Terceira Cruzada. Dirigiram-se contra as populações pagãs da região báltica a partir do século XIII. Os Teutônicos receberam a aprovação do Papa e do imperador do Sacro Império Romano-Germânico para governar as terras conquistadas na Prússia e outras áreas limítrofes e impor sua cristianização.
  • A Cruzada de Nicópolis convocou, em 1385, muitas tropas europeias, a pedido do rei Sigismundo da Hungria, com o objetivo de travar o avanço dos Turcos otomanos na Europa. A batalha decisiva teve lugar em 1396 e representou uma derrota para os cristãos frente as forças muçulmanas do sultão otomano Bayezid I.
  • A chamada “Cruzada das Crianças" (1212) não foi realmente uma Cruzada nem foi composta maioritariamente de crianças. Foi um movimento popular que parece ter sido inspirado por um jovem pastor da Alemanha que convocou um bom número de pessoas (entre elas, crianças e adolescentes, mas também adultos pobres e marginalizados). Embora o objetivo pareça ter sido chegar à Terra Santa de Gênova, não conseguiram sair da Europa. Outros movimentos semelhantes podem ter convergido com este. De qualquer forma, os relatos sobre esta mobilização e sobre os seus inspiradores parecem misturar a história com a ficção.

Referências

  • Asbridge, T. (2010). The Crusades: The Authoritative History of the War for the Holy Land. Simon & Schuster.
  • Baldwin, M. W., Madden, T. F. & Dickson, G. (2022). Crusades. Encyclopedia Britannica.
  • García-Guijarro Ramos, L. (1995). Papado, cruzadas y órdenes militares, siglos XI-XIII. Cátedra.
  • Nicolle, D. & Hook, C. (2011). La lucha por Tierra Santa. Osprey-RBA.

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Gayubas, Augusto. Cruzadas. Enciclopédia Humanidades, 2023. Disponível em: https://humanidades.com/br/cruzadas/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Augusto Gayubas

Doutor em História (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ)

Data da última edição: 24 de fevereiro de 2024
Data de publicação: 29 de junho de 2023

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