Vamos explicar o que é o obscurantismo, por que se relaciona com a Idade Média e quais são as suas características principais.
O que é o obscurantismo?
O obscurantismo é a tendência a obstruir o conhecimento e manter sem instrução os setores populares, que o humanismo e o iluminismo atribuíram à Igreja Católica da Idade Média e da Idade Moderna. Geralmente, o termo é usado para caracterizar a Idade Média como uma época dogmática, dominada pela Igreja e submetida à superstição religiosa.
O termo obscurantismo nasceu no século XVI e foi empregado a partir do século XVIII pelos filósofos iluministas, que se opunham à escuridão religiosa e propunham, ao contrário, que o conhecimento só poderia ser iluminado pela luz da razão. Os iluministas e os liberais dos séculos XVIII e XIX também deram importância à difusão da educação (contra a restrição do conhecimento) ou a educação estritamente religiosa, estimulada pelos setores mais conservadores da Igreja.
Ainda que algumas práticas e instituições da Idade Média representassem muitos aspectos do que se denominou obscurantismo (por exemplo, a Inquisição, a censura de ideias ou a restrição eclesiástica do conhecimento), alguns historiadores afirmam que considerar esta época como uma “idade escura ou das trevas” equivale a simplificar uma situação muito mais complexa, na qual, ao lado do domínio opressivo da Igreja, desenvolveram-se ideias filosóficas, inovações técnicas, estilos artísticos e fenômenos como o comércio e o urbanismo.
- Veja também: Idade Antiga
A origem do termo “obscurantismo”
O termo “obscurantismo” surgiu a partir do título da sátira Cartas aos Homens Pretos (em latim, Epistolae Obscurorum Virorum) do século XVI. Esta sátira tratava da disputa entre o humanista alemão Johannes Reuchlin e alguns frades dominicanos, parodiados como homens obscuros que apoiavam a queima de livros não cristãos e obstaculizavam o saber humano.
No século XVIII, os intelectuais do iluminismo empregaram o termo “escuro” ou “trevas” para qualificar os aspectos conservadores e supersticiosos do pensamento religioso e das estruturas eclesiásticas. Por esta razão, este termo foi ligado a um período histórico particular, a Idade Média, que foi entendida como uma época escura (ou de trevas) que se situava entre a Antiguidade Clássica e o Renascimento. Esta concepção tinha um antecedente em autores como Petrarca (1304–1374), que acreditavam que estavam deixando para trás as trevas da Idade Média.
Atualmente, o termo obscurantismo religioso continua a ser utilizado em relação a questões ligadas à Igreja, à teologia, à restrição do conhecimento e à tradição ortodoxa de diversas religiões, e incorporou-se outra ideia de obscurantismo que define o uso de uma linguagem deliberadamente complexa para a exposição de ideias filosóficas.
O obscurantismo religioso medieval
A caracterização da Idade Média como uma época de obscurantismo religioso, e das instituições eclesiásticas da Idade Moderna como uma continuidade dessa época de trevas, sustentou-se em uma série de características específicas da sociedade medieval:
- O domínio do dogma católico e a palavra da Bíblia sobre o uso da razão, do pensamento crítico e da ciência.
- A restrição do conhecimento a um pequeno grupo de pessoas, principalmente clérigos, e a manutenção dos setores humildes na ignorância. Em épocas de relativa expansão da educação a outros setores sociais, no fim da Idade Moderna foi denunciado o monopólio e controle da instrução por parte da Igreja.
- A censura de publicações consideradas contrárias ao dogma, o que atentava contra qualquer sinal de liberdade de expressão.
- O teocentrismo, que colocava Deus no centro de todas as coisas e reduzia o indivíduo a um lugar subordinado ou marginal, ao contrário do antropocentrismo proposto pelo humanismo e o iluminismo, que enfatizava o ser humano e sua capacidade de decisão.
- A intromissão da Igreja Católica e seus preceitos religiosos em todas as ordens da vida das pessoas.
- A difusão, entre os setores humildes, de ideias conservadoras que legitimavam a autoridade religiosa da Igreja e o poder político da monarquia.
- A legitimação da divisão da sociedade em setores (alguns privilegiados e outros prejudicados), considerada como ditada por Deus, e o estímulo à submissão dos camponeses e outros setores humildes.
- A instituição da Inquisição, que condenava tudo o que considerasse heresia através do uso da denúncia, da tortura e das execuções públicas.
Críticas à ideia de obscurantismo medieval
Os intelectuais humanistas, iluministas e liberais colocavam ênfase nos aspectos negativos e “escuros” da Idade Média (considerada uma época de opressão, miséria, dogmatismo, ignorância e atraso), com o objetivo de contrapor essa etapa aos valores que eles mesmos defendiam: a iluminação pela via da razão, da ciência, do progresso e da liberdade. Alguns destes princípios se plasmaram em episódios como a Revolução Francesa, ou também em outras “revoluções burguesas”, que tiveram um forte preconceito anticlerical.
No entanto, alguns historiadores colocam em dúvida atualmente a caracterização da Idade Média como uma época de puro obscurantismo. Embora muitos dos aspectos chamados “obscurantistas” fizessem efetivamente parte da sociedade europeia daquela época, também se podiam encontrar práticas, instituições e ideias menos apegadas à representação de escuridão ou decadência:
- A arte medieval expressava geralmente temas cristãos e era estritamente vigiada pela Igreja. No entanto, produziu obras de grande valor estético e deu forma a três estilos que tinham as suas particularidades: o pré-romano, o românico e o gótico.
- A literatura medieval estava limitada pela censura da Igreja. Eram comuns os textos sobre as vidas de santos, as reflexões teológicas e a poesia cristã. No entanto, também se compuseram cânticos de gesta, relatos de cavalaria e romances folclóricos.
- As inovações técnicas e tecnológicas não eram raras na Idade Média. Algumas surgiram por contatos com populações árabes ou bizantinas, e outras por experimentações próprias. Geralmente, tinham a ver com fins práticos, como melhorias na navegação e na guerra, ou o aumento da produção agrícola.
- Apesar de o método científico ter sido desenvolvido durante os anos do humanismo renascentista, alguns teólogos medievais, como Guilherme de Ockham (c. 1285–1349), lançaram as bases da observação e da experimentação. Por sua vez, a alquimia, que se desenvolveu graças a figuras como Roger Bacon (1214–1294), foi um antecedente da química.
- As universidades nasceram durante a Idade Média e se ocuparam principalmente do estudo da teologia. No entanto, também ministravam direito, retórica, medicina, aritmética, geometria e astronomia, entre outras matérias. Além disso, dava-se importância às ideias filosóficas de Aristóteles, embora acomodadas à doutrina cristã. Um dos intelectuais destacados desta época foi Tomás de Aquino (c. 1225–1274). Ainda assim, o dogma religioso colocava limites ao conhecimento (por esta razão, até o início da Idade Moderna, censurou-se e perseguiu-se aqueles que apresentavam ideias consideradas heréticas, como a que afirmava que a Terra não era o centro do universo).
- As cidades e o comércio viveram um importante impulso durante a Idade Média, o que por sua vez incidiu no surgimento de uma nova classe social, protagonista de processos de transformação social e política nos séculos seguintes: a burguesia.
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Referências
- García de Cortázar, J. A. & Sesma Muñoz, J. A. (2008). Manual de Historia Medieval. Alianza.
- Hunt, L., Martin, T. R., Rosenwein, B. H. & Smith, B. G. (2016). The Making of the West: Peoples and Cultures. 5a edición. Bedford/St. Martin’s.
- Madigan, K. (2015). Medieval Christianity: A New History. Yale University Press.
- Spencer, S. et al. (2022). Christianity. Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com
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