Vamos explicar o que é ética, suas características, tipos e importância. Além disso, exemplos de problemas éticos e o que é ética profissional, pessoal e religiosa.
O que é a ética?
A ética é uma disciplina filosófica que se dedica ao estudo e à análise de conflitos morais e aos princípios que orientam o comportamento humano.
A ética explora esses conflitos e fornece uma estrutura teórica para a tomada de decisões sobre como agir em situações éticas. Entretanto, a ética não pretende discernir entre o bem e o mal, mas refletir sobre a natureza dessa distinção e ajudar as pessoas a formarem suas próprias opiniões por meio de um exercício crítico de moralidade.
A ética se divide em quatro áreas próprias de estudo: metaética, que é o estudo dos princípios éticos; ética normativa, que se preocupa com a revisão dos critérios normativos da moralidade; ética descritiva, que se centra na prática e no comportamento moral; e ética aplicada, conhecida como aquela que estuda como os princípios éticos são aplicados a situações concretas.
A palavra “ética” tem origem no grego ethikós e significa “relativo ao caráter de alguém”, pois ethikós vem de ethos, que é “caráter” ou “ morada”. No grego antigo, falava-se em ética para designar os costumes e o caráter de uma pessoa.
- Veja também: Filosofia
Características da ética
A ética é uma disciplina filosófica que trata de questões morais e do comportamento humano. Algumas de suas características são:
- É normativa. Preocupa-se em estabelecer normas e princípios que determinam o que é moralmente certo ou errado. Proporciona diretrizes para o julgamento do comportamento humano.
- É universal. Os princípios éticos buscam a universalidade, isto é, que sejam aplicáveis a todas as pessoas em todas as culturas. A ética se esforça para encontrar valores e normas morais que transcendam as diferenças culturais.
- É racional. Baseia-se na razão e no pensamento crítico. Visa a justificar e argumentar princípios éticos por meio da lógica e da análise.
- É autônoma. Promove a autonomia moral, isto é, a capacidade das pessoas de tomarem decisões éticas por si mesmas e de serem responsáveis por suas ações.
- É crítica. Preocupa-se em fazer perguntas críticas sobre o que é certo ou errado, analisando dilemas e situações éticas para buscar respostas com base em princípios morais.
- É heterogênea. Existem diferentes correntes éticas, como o utilitarismo, o kantianismo ou a ética aristotélica, que oferecem enfoques diferentes para os problemas éticos.
- É interdisciplinar. Relaciona-se com outras disciplinas, como a filosofia política, a psicologia e a sociologia, pois influencia a forma como as pessoas interagem na sociedade.
Tipos de ética
A ética é classificada de acordo com o seu campo de estudo, com a forma como pensa sobre a ação moral e com o período em que se desenvolve cada teoria.
No entanto, a classificação mais comum é segundo seu campo de estudo. Assim, a ética é dividida em metaética, ética normativa, ética descritiva e ética aplicada.
Metaética
A metaética estuda a origem, o significado e as características dos princípios éticos e dos julgamentos morais. É utilizada para construir uma linguagem teórica que responda aos problemas éticos em relação à língua e ao conhecimento.
Alguns dos problemas frequentes da metaética incluem o problema do ser, do dever ser e da existência ou não do livre arbítrio, entre outros. O realismo moral é um exemplo de corrente metaética.
Ética normativa
A ética normativa estuda os critérios normativos da moral. Trabalha com conceitos que determinam quando a conduta é ética e o que é certo e errado. Os códigos civis de cada país e a deontologia são exemplos de ética normativa.
Ética descritiva
A ética descritiva estuda a prática das crenças e do comportamento moral das pessoas. Visa a descrever as características da ética e da moral tal como se manifestam na vida cotidiana.
Ainda que seu estudo se aproxime das ideias de bem e mal, a ética descritiva não busca determinar o que é moralmente correto, mas a descrição de como uma decisão ética é tomada e como se desenvolve um sistema de valores. A ética kantiana é um exemplo de ética descritiva.
Ética aplicada
A ética aplicada estuda como os princípios da ética são aplicados em situações específicas, no ambiente de trabalho ou na medicina, e, portanto, é dividida de acordo com a área em que é aplicada. A ética médica e a ética empresarial são exemplos de ética aplicada.
Atualmente, a ética aplicada é o ramo mais desenvolvido da ética. Muitas das áreas em que a ética é desenvolvida têm autonomia científica. Isto significa que elas são consideradas um ramo da ética aplicada independente dos demais, uma vez que apresentam seus próprios desenvolvimentos. Alguns desses ramos são a ética profissional, a ética pessoal e a ética religiosa.
- Ética profissional. Está ligada ao exercício de uma determinada profissão. Refere-se aos limites do exercício da profissão de forma honesta e responsável, bem como aos códigos deontológicos que regem os grupos profissionais. Por exemplo, o código de ética dos jornalistas é uma regulamentação que contém os princípios da prática “saudável” da profissão, conforme entendida em um determinado momento e lugar.
- Ética pessoal. É o modo como um indivíduo se comporta na sociedade e nos diversos âmbitos da interação pessoal. Trata-se de uma abordagem dos valores pelos quais uma pessoa decide viver sua vida, muitos dos quais são determinados por tradições morais, religiosas, profissionais e culturais, mas também por escolhas de vida que o indivíduo terá de fazer por conta própria. Por exemplo, os relacionamentos interpessoais fazem parte da ética pessoal, lidando com questões como adultério, lealdade, amizade e amor, entre outras.
- Ética religiosa. As diferentes religiões influenciam a moral e os códigos éticos que regem as diferentes comunidades que as praticam. A ética religiosa estuda estes códigos para entender como eles influenciam o comportamento e as escalas de valores de uma sociedade. Por exemplo, ideias como o celibato ou o amor ao próximo fazem parte da ética religiosa.
- Veja também: Tipos de ética
Exemplos de problemas éticos
Os problemas éticos são dilemas que envolvem questionamentos sobre o que é moralmente certo ou errado em uma situação. Estes problemas surgem quando há conflitos entre valores, deveres, responsabilidades ou interesses.
Alguns problemas éticos comuns incluem questões relacionadas à justiça, liberdade, igualdade, privacidade, honestidade, responsabilidade e conduta moral em geral.
- O problema da liberdade. A liberdade implica tomar decisões próprias. É ter a capacidade de agir em conformidade com o que o indivíduo acredita ser correto. O problema ético da liberdade refere-se a questões sobre o grau de liberdade que devemos ter e como equilibrá-la com as regras e normas da sociedade. Por exemplo, é ético que os pais limitem a liberdade de seus filhos estabelecendo regras em casa? Até que ponto a sociedade deve limitar a liberdade das pessoas para manter a ordem e a segurança?
- O problema da responsabilidade. A responsabilidade implica estar ciente das consequências de suas ações e assumir suas repercussões. O problema ético da responsabilidade está relacionado a questões sobre quem é responsável por determinadas ações. Por exemplo, se alguém acidentalmente quebra algo na casa de um amigo, deveria assumir a responsabilidade e se oferecer para pagar por isso? Quem deveria se responsabilizar pelos danos em um acidente de carro?
- O problema da mentira. A mentira implica dizer algo que não é verdadeiro com a intenção de enganar alguém. O problema ético da mentira envolve considerar quando é certo ou errado mentir e quais são as consequências da mentira nos relacionamentos. Por exemplo, é ético mentir se isso puder proteger os sentimentos de alguém? Ou é melhor dizer sempre a verdade, mesmo que isso possa magoar alguém?
Importância da ética
A ética é um ramo fundamental da filosofia porque ajuda as pessoas a pensar sobre si mesmas e sobre o modo como concebem o que é certo e errado nas diferentes áreas de suas vidas. A ética é fundamental para a formação de códigos de conduta e para a aplicação da justiça.
No entanto, a ética não pretende dizer de que forma o bem e o mal diferem: seu interesse está em pensar sobre a natureza dessa distinção. Seu objetivo é ajudar as pessoas a formarem suas opiniões por meio de um exercício crítico de moralidade.
Diferença entre a ética e a moral
A ética e a moral refletem sobre o comportamento das pessoas. Ambas ajudam a distinguir as ações boas das más.
A moral tem a ver com o conjunto de normas espirituais, sociais e pessoais que regem uma determinada comunidade, segundo o que é considerado “bom” e o que é considerado “mau”.
Em contrapartida, a ética tem como objetivo revisar os códigos de valores e a teoria que os torna possíveis. Desta forma, tenta colocar em perspectiva os possíveis modelos de comportamento em torno de um determinado ponto.
Enquanto a moral julga, a ética compreende. Geralmente, diz-se que a moral é o conjunto de costumes e práticas de uma sociedade, enquanto a ética é o estudo dos princípios que os fundamentam.
Origem e história da ética
A ética tem suas origens na filosofia grega. Aristóteles, um discípulo de Platão, explorou a natureza da felicidade e da vida feliz na Ética a Nicômaco, o primeiro tratado formal sobre ética, virtudes, deveres e felicidade.
Na Idade Média, as inquietudes gregas entraram em conflito com a moral cristã, que era estritamente regida pelos mandamentos do Antigo Testamento e pela doutrina dos Evangelhos. Pensadores como Agostinho de Hipona (354–430) e Tomás de Aquino (1224–1274) apresentaram a ideia da caridade como o fim último da vida, entendida como amor gratuito ao próximo e a outras formas de vida.
Na Idade Moderna, graças ao surgimento do Renascimento, foi retomada a tradição greco-romana, paralelamente ao escolasticismo medieval. O racionalismo assumiu então o controle da condução dos assuntos éticos, seguindo o trabalho de filósofos como Baruch Espinosa, David Hume e Immanuel Kant, entre outros.
O trabalho de Immanuel Kant (1724–1804) foi responsável por revolucionar a ética moderna. Obras como a Fundamentação Metafísica dos Costumes, a Crítica da Razão Prática e a Metafísica dos Costumes impuseram o imperativo categórico como a máxima que deve reger o comportamento humano. Esta teoria sustenta que só se deve agir de acordo com uma máxima que possa ser postulada como uma lei universal: antes de agir, deve-se perguntar a si mesmo o que ocorreria se todas as pessoas fizessem exatamente a mesma coisa.
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Referências
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- Griffin, J. (2001) “METAÉTICA. Metaética y ética normativa”; em Canto-Sperber, M. (ed.) (2001) Diccionario de Ética y de Filosofía Moral, México, FCE, Vol. 1, pp. 1052-1058.
- Maliandi, R. (1993) Ética, conceptos y problemas, cap. I y III.
- Roig, A. (2002) “Problemas hermenéuticos para una fundamentación de la Ética”, em Ética del poder y moralidad de la protesta. Respuestas a la crisis moral de nuestro tiempo, Mendoza, EDIUNC, pp. 131-136.
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