Fábula

Vamos explicar o que é uma fábula, como se origina e os tipos que existem. Além disso, quais são as suas características gerais, estrutura e exemplos.

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A fábula é um subgênero de literatura narrativa.

O que é uma fábula?

É conhecida como fábula uma narração ficcional, de tipo literário, geralmente breve, escrita em prosa ou em verso. Os personagens têm um valor arquetípico ou tradicional e, além de pessoas, podem ser objetos animados ou animais. Dentro da história, objetos, animais e pessoas podem se comunicar entre si.

A fábula é um subgênero da literatura narrativa (história). Trata-se de narrações educacionais, exemplares, que transmitem uma mensagem de tipo ético, tradicional ou moral. O destinatário mais usual das fábulas são as crianças.

Por isso, o seu objetivo é pedagógico ou lúdico: educar o leitor mediante situações ficcionais ou fantásticas nos costumes, vícios ou virtudes que se consideram fundamentais em uma comunidade humana específica, ou talvez em toda a humanidade.

O ensinamento da fábula se encontra geralmente resumida no final da história, e costuma ser mais ou menos explícita. Não se deve confundir este gênero com outros gêneros didáticos como o sermão, a parábola ou os apólogos.

Embora compartilhe com a lenda e o mito o seu caráter tradicional, essas outras histórias fantásticas, que explicam a origem de algo, nem sempre incluem uma moral. Embora seja semelhante ao conto é sua forma narrativa, ao contrário deste a fábula é explicitamente didática.

Origem da fábula

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As antigas fábulas contam histórias de animais astutos ou ingratos.

A fábula é um gênero muito antigo.

Os arqueólogos encontraram exemplos em placas de argila da Era Mesopotâmica.

Nelas, contam-se histórias de animais astutos, ingratos ou prepotentes, o que indicaria que já se empregavam com o mesmo sentido educativo.

Durante a Era Clássica Greco-Romana as fábulas eram muito comuns, especialmente as do grego Esopo, autor de muitas das que ainda lemos.

Seu exemplo foi seguido pelos romanos Horatio e Flávio Alviano, o que mostra que era um gênero muito bem-sucedido no Ocidente.

Na Idade Média, a fábula continuou a ser escrita. Os autores geralmente eram anônimos (temerosos da inquisição) ou se tratava de criações coletivas. Abundavam também as traduções do árabe ou de outras línguas.

No Renascimento a fábula alcançou um momento muito importante, sobretudo por parte de autores como o francês Jean de La Fontaine.

Como a fábula é composta?

A fábula tradicional é composta de três partes:

  • Início. Onde se apresentam os personagens, suas características definidoras e os pontos iniciais da história: a localização geográfica, temporal, social, etc. Costuma ser muito breve.
  • Complicação. O desenvolvimento da trama aqui conduz a uma situação problemática, seja moral ou eticamente, derivada das características ou das ações iniciais dos personagens. Geralmente aparece aqui um desafio, uma oportunidade ou uma disjunção.
  • Desfecho. O termo da fábula, seja feliz ou infeliz, onde se produzem as consequências da escolha tomada na complicação e, por fim, enuncia-se a moral da história ou o ensinamento final da história.

Tipos de fábula

fábula - mitología
As fábulas mitológicas recolhem o conteúdo místico de uma cultura.

Dependendo da sua natureza, as fábulas podem ser classificadas em:

  • Agonais. Consistem em uma história de confronto de condutas ou opiniões entre os protagonistas ou entre o protagonista e o antagonista. À medida que transcorrem, será premiada uma personagem e se castigará a outra, estabelecendo assim o ensinamento.
  • Mitológicas. São as fábulas que recolhem o conteúdo religioso ou místico de uma cultura ou grupo humano específico, ou seja, sua mitologia. Mas, ao contrário das histórias épicas, elas se concentram em pequenas histórias que demonstram seus valores culturais.
  • De animais. Têm como protagonistas seres do reino animal, aos quais se lhes fornece traços humanos (fala ou inteligência) e são situados em situações possíveis da vida cotidiana das pessoas.

Moral da história

Chama-se moral da história o que o leitor obtém uma vez finalizada a leitura da fábula (ou de muitos contos infantis). É uma lição geralmente moral ou ética.

A moral convida a seguir certas condutas e raciocínios, mas julga ou desaconselha outras, consideradas negativas ou reprováveis. Geralmente é enunciada pelo narrador da fábula e geralmente exposta explicitamente ao leitor.

Estrutura da fábula

fabulas principe y mendigo
A estrutura da fábula se baseia em uma oposição, como o príncipe e o mendigo.

A fábula clássica apresenta uma estrutura dupla, que consiste em uma oposição fundamental, principal, entre duas personagens cujas posições subjetivas costumam ser opostas, paradoxais ou desafiadoras. Por exemplo, pode se tratar de uma pessoa pobre e um ricaço, um avarento e um pedinte, etc.

Trata-se, portanto, de duas personagens que se encontram sempre em desigualdade social: uma na classe alta e outra na classe baixa. Em seguida, graças a um evento imprevisto (survenant), essas posições são normalmente invertidas, para que cada um deles aprenda uma lição ao se colocar no lugar do outro.

Esta estrutura da fábula é chamada de “duplo direcionamento” pelo semiólogo canadense Christian Vandendorpe em seu livro Apprendre à lire des fables Aprender a ler as fábulas” (1989) e é extremamente comum, sobretudo nas fábulas populares, nas quais se pode apreciar um ensinamento moral muito claro.

Elementos narrativos da fábula

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O narrador é quem conta a história e no final resume o seu ensinamento.

A fábula compreende pouquíssimos elementos narrativos, já que se trata de uma história geralmente simples e direta. Seus elementos são:

  • Personagens. Geralmente são poucos. No mínimo são dois, cujas posições, como dissemos antes, são encontradas.
  • Ambientação. Um lugar, geralmente descrito de modo muito sucinto.
  • Narrador. É quem conta a história e no final resume o seu ensinamento.

Diferenças entre fábula e lenda

A lenda é também uma história carregada de advertências, que se dissimulam ou se atribuem a elementos geralmente sobrenaturais, mágicos ou místicos. Em alguns casos, inspira ao leitor algum temor, respeito ou visão sobre condutas ou elementos que em sua cultura se consideram tradicionalmente inapropriados.

Esta relação, no entanto, nem sempre é muito clara, ao contrário do ensinamento da fábula, que é explicitado no final pelo narrador.

As lendas não necessariamente narram situações claramente imaginárias e nem os protagonistas são sempre animais. Sua característica principal é que eles vão ao tempo remoto ou em uma época já esquecida. A fábula, ao contrário, nunca aspira a ser entendida como real.

Importância da fábula

A fábula é um gênero muito tradicional na história da leitura. Com a parábola e a lenda, é uma das formas de história que preservam para as novas gerações algum tipo de ensinamento ou advertência concreta.

É provável que os primeiros métodos de ensinamento (sobretudo cívico, moral ou religioso) consistissem, entre outras coisas, em fábulas e histórias semelhantes. Assim, a criança podia memorizar e compreender o conteúdo educacional de uma forma simples e agradável, muitas vezes envolvendo animais cotidianos.

Escritores de fábulas

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O Leão e o Ratinho é uma fábula de Jean de la Fontaine.

Alguns dos principais escritores de fábulas da história foram:

  • Esopo (ano 600 a.C.–564 a.C.)
  • Caio Júlio Fedro (ano 15 a.C.–70 d.C.)
  • Maria da França (desconhecida, por volta do século XII)
  • Ramón Llull (1232–1315)
  • Jean de la Fontaine (1621–1695)

Em tempos mais recentes, foram muito conhecidas as lendas do escritor hondurenho-guatemalteco Augusto Monterroso (1921–2003).

Exemplo de fábula

Um exemplo de fábula breve por Augusto Monterroso:

O Burro e a Flauta

Jogada no campo estava, faz tempo, uma Flauta que já ninguém tocava, até que um dia um Burro que passeava por ali soprou forte nela, fazendo-a produzir o som mais doce de sua vida, quer dizer, da vida do Burro e da Flauta.

Incapazes de compreender o que tinha acontecido, pois a racionalidade não era o forte deles e ambos acreditavam na racionalidade, separaram-se rapidamente, envergonhados do melhor que um e outro tinham feito durante toda a sua triste existência.

Retirado de: A Ovelha Negra e outras Fábulas, tradução de Millôr Fernandes, Cosac Naify.

Referências

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Equipo editorial, Etecé. Fábula. Enciclopédia Humanidades, 2024. Disponível em: https://humanidades.com/br/fabula/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Traduzido por: Cristina Zambra

Licenciada em Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa (UNIJUÍ)

Data da última edição: 30 de março de 2024
Data de publicação: 21 de fevereiro de 2024

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