Pensamento aristotélico

Vamos explicar o que é o pensamento aristotélico e quais são as bases de seus estudos. Além disso, suas características gerais e filosofia política

Pensamiento aristotélico
O pensamento aristotélico é caracterizado pelo uso da lógica dedutiva.

O que é o pensamento aristotélico?

Chama-se pensamento aristotélico a uma série de tradições filosóficas que recuperaram, debateram e trabalharam com as ideias de Aristóteles.

Aristóteles (384–322 a.C.) foi um filósofo e pensador da Grécia Antiga. Apesar de sobreviverem apenas 31 dos cerca de 200 tratados que ele escreveu, suas ideias continuam influentes até hoje.

Aristóteles foi discípulo de Platão, porém muitas de suas ideias entraram em conflito com as de seu antecessor. Foi mestre de Alexandre, o Grande, que o protegeu até sua morte.

Sócrates, Platão e Aristóteles são considerados os pais da filosofia ocidental.

A tradição aristotélica é caracterizada pelo uso da lógica dedutiva e pelo uso do método analítico indutivo no estudo da metafísica e da filosofia natural. Qualquer escola de pensamento que seja baseada em alguma das ideias aristotélicas é chamada de “aristotélica”.

O pensamento aristotélico é frequentemente chamado de aristotelismo, peripatetismo (devido à escola peripatética) e neo-aristotelismo (se foi retomado algum tempo após a morte de Aristóteles), dependendo do lugar e do momento na história.

Algumas ideias gerais do pensamento aristotélico são a filosofia primeira, os silogismos, o princípio de não contradição, as falácias, a essência permanente e a aparência mutável e a multiplicidade das ciências.

1. A filosofia primeira

Aristóteles promulgou a ideia de que a metafísica é a filosofia primeira. Afirmou que a metafísica “estuda o que é, enquanto algo que é, e os atributos que lhe pertencem”.

Segundo Aristóteles, a metafísica é a ciência primeira, porque estuda universalmente o que é, ou seja, o “ser”, ao contrário das ciências particulares, que se ocupam apenas de um aspecto do que é.

2. Os silogismos

Aristóteles é considerado o pai da lógica, pois foi um dos primeiros a enunciar e estudar seus princípios. A base da lógica é o silogismo: uma dedução lógica e necessária feita por meio do discurso.

A lógica é a derivação necessária de uma conclusão a partir de duas premissas que já a contêm em seus enunciados. Por exemplo:

Proposição 1. Todos os homens são mortais.
Proposição 2. Todos os gregos são homens.
Conclusão. Todos os gregos são mortais.

3. O princípio da não contradição

O princípio da não contradição sustenta que uma proposição e sua negação não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo e no mesmo sentido. É uma das leis básicas da lógica e é o que permite argumentos mais complexos, como a redução ao absurdo (reductio ad absurdum).

Com frequência, este princípio é usado em diferentes áreas do pensamento, como lógica, matemática, metafísica e até mesmo ciência da computação. Atualmente, é considerado o princípio que rege a mente: os seres humanos não podem pensar duas coisas contraditórias ao mesmo tempo.

4. As falácias

Aristóteles descobriu que há argumentos que são válidos apenas na aparência. As falácias têm a forma de um silogismo, mas contêm um erro lógico que impede que a conclusão decorra necessariamente da proposição.

Um exemplo das falácias estudadas por Aristóteles é o que se conhece como “a afirmação do consequente”. Por exemplo:

Sempre que chove, o chão do pátio fica molhado.
O chão do pátio está molhado, isto é, chove.

Este raciocínio pode parecer correto, no entanto, não é, pois há muitas outras causas possíveis para o chão estar molhado.

5. A essência permanente e a aparência mutável

A essência é identificada como a substância ou característica fundamental das coisas e considera-se que permanece imutável. A aparência, por outro lado, é mutável, pois está exposta ao devir como mudança acidental e não há nada nela que permaneça igual a si mesma.

Esta divisão entre o essencial e o aparente pode ser aplicada a objetos em geral, bem como a seres vivos e indivíduos em particular.

6. A crítica do pensamento platônico

O pensamento platônico sustenta que o que pode ser conhecido por meio dos sentidos é falso e que a verdade só pode ser alcançada por meio de ideias. O pensamento aristotélico é empírico: baseia-se na observação dos fenômenos.

Aristóteles argumentava que somente desta forma era possível trabalhar a filosofia como uma ciência, já que o pensamento deveria partir do mundo observável para chegar ao inteligível ou inobservável.

7. A multiplicidade das ciências

O pensamento aristotélico busca a especificidade das coisas. Por esse motivo, Aristóteles agrupou as ciências de acordo com seu objeto específico:

  • Lógica. É o estudo do pensamento racional.
  • Filosofia teórica. É subdividida em física, matemática e metafísica.
  • Filosofia prática. Inclui a política e a ética.

8. O sistema geocêntrico

Aristóteles propôs uma teoria geocêntrica, ou seja, sustentava que a Terra permanecia imóvel no centro do universo e que todos os planetas, as estrelas e o Sol giravam em torno dela. Segundo essa teoria, o universo tem forma esférica e é finito, ou seja, tem um limite.

Apesar de esta teoria estar errada, coincide com a observação direta dos fenômenos astronômicos, portanto foi considerada verdadeira até o século XVI, quando Copérnico e depois Galileu Galilei (século XVII) a contradisseram.

9. Os elementos da natureza

Nas obras de Aristóteles, a natureza é descrita como composta por cinco elementos:

  • Água e terra. Tendem a se mover em direção ao centro do universo.
  • Ar e fogo. Tendem a se afastar do centro do universo.
  • Éter. Gira em torno do centro do universo.

Com esses princípios, foi possível explicar diferentes fenômenos em uma época em que a lei da gravidade ainda não havia sido enunciada e não se conhecia a medida da densidade.

Por exemplo, era possível explicar o afundamento de uma pedra na água por meio de um argumento racional: a pedra tem peso, a pedra se comporta de forma diferente em um meio que não seja o ar.

10. A filosofia política

Para Aristóteles, o Estado é a comunidade de iguais cujo objetivo é alcançar a melhor vida possível. Considerava o homem como um animal social, cujo instrumento político indispensável era a linguagem.

Distinguiu três formas de governo:

  • A monarquia é o governo de uma única pessoa e pode se transformar em tirania.
  • Aristocracia é o governo de um grupo e pode se transformar em oligarquia.
  • A democracia é o governo de muitas pessoas e pode se transformar em demagogia.

11. A poética ou teoria literária

A Poética de Aristóteles é o primeiro estudo formal das artes de que se tem registro. Nele, são estudados a estrutura, a forma e os temas da tragédia (a forma literária grega por excelência).

Um dos erros cometidos durante séculos foi considerar a Poética como um texto normativo, isto é, um texto que pretende regular a maneira como as tragédias devem ser. Na realidade, é um texto descritivo, que descreve meramente como eram as tragédias em sua época.

Acredita-se que a Poética também incluía um tratado sobre comédia, mas ele se perdeu.

História do pensamento aristotélico

A história do pensamento aristotélico pode ser traçada paralelamente à história da filosofia ocidental. Tem suas origens na Grécia, no século IV.

Aristóteles fundou a escola peripatética em 335 a.C. Segundo a tradição, os alunos de Aristóteles costumavam caminhar no jardim do templo de Apolo, lado a lado com o mestre, enquanto ele dava suas aulas. Por esta razão, são conhecidos como peripatéticos (que significa “aqueles que passeiam”). Alguns de seus membros eram Teofrasto, Aristoxeno, Sátiro, Eudemo de Rodes e Andrônico de Rodes.

Após a morte de Aristóteles em 322 a.C., Teofrasto assumiu a função de diretor da escola. Teofrasto foi sucedido por Estratônio de Lampsaco, que foi o último dos grandes mestres da escola. Este período foi seguido por um período de pouca atividade e uma queda no status social da escola. Diferentes filosofias, como o estoicismo e o epicurismo, surgiram na Grécia e substituíram os peripatéticos.

Em 86 a.C., o general romano Lúcio Cornélio Sula invadiu Atenas e saqueou as escolas e os templos gregos. Isto, porém, deu início a um novo período de fertilidade para a escola peripatética.

Sula levou os escritos de Aristóteles para Roma, onde Andrônico de Rodes compilou o primeiro Corpus aristotelicum, uma compilação que sobrevive até hoje. No entanto, com o surgimento do neoplatonismo e a expansão do cristianismo, o pensamento aristotélico foi relegado a segundo plano, embora muitos neoplatônicos quisessem incorporar algumas ideias aristotélicas em seu pensamento.

A maioria das obras aristotélicas foi transferida para o Oriente, onde foi incorporada ao pensamento islâmico. As obras de Avicena e Averróis são consideradas uma recuperação integral do pensamento aristotélico. Ambos os pensadores islâmicos escreveram comentários sobre a obra de Aristóteles.

O pensamento aristotélico teve seu maior renascimento a partir do século XIII, com o surgimento das obras de Tomás de Aquino. Sua obra é uma das fontes mais trabalhadas do seu tempo, e seus comentários sobre as obras de Aristóteles, influenciados pelo pensamento de Agostinho de Hipona, Averróis e Maimônides, são alguns dos mais estudados na tradição filosófica.

Após a Idade Média, o pensamento aristotélico foi adotado por vários pensadores. Tanto Christian Wolff, como Immanuel Kant e Friedrich Hegel retomaram diferentes aspectos da obra aristotélica. Até mesmo as obras de filósofos contemporâneos, como Hans-Georg Gadamer e John McDowell, apesar de serem uma rejeição da metafísica aristotélica tradicional, retomam-no para, pelo menos, submetê-lo a um exercício crítico e a de discussão.

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Referências

  • Guthrie, W. K. C. (1993). Historia de la filosofía griega. Vol. VI: Introducción a Aristóteles. Gredos.
  • Guthrie, W. (1953). Los filósofos griegos. De Tales a Aristóteles. FCE.
  • Barnes, J. (1987). Aristóteles. Cátedra.

Como citar?

As citações ou referências aos nossos artigos podem ser usadas de forma livre para pesquisas. Para citarnos, sugerimos utilizar as normas da ABNT NBR 14724:

ESPÍNOLA, Juan Pablo Segundo. Pensamento aristotélico. Enciclopédia Humanidades, 2024. Disponível em: https://humanidades.com/br/pensamento-aristotelico/. Acesso em: 11 junho, 2024.

Sobre o autor

Autor: Juan Pablo Segundo Espínola

Licenciatura em Filosofia (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 16 maio, 2024
Data de publicação: 16 maio, 2024

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