David Hume

Vamos explicar quem foi David Hume e quais foram suas contribuições para a filosofia. Além disso, sua relação com o empirismo e o racionalismo.

David Hume
Hume foi um dos representantes do empirismo britânico.

Quem foi David Hume?

David Hume (1711–1776) foi um filósofo escocês conhecido como um dos representantes mais emblemáticos do empirismo britânico. Dentro desse movimento, Hume descreveu como o conhecimento é adquirido a partir da sensação.

Muitas de suas obras foram escritas em oposição direta ao racionalismo filosófico do século XVII. As mais conhecidas são o Tratado da Natureza Humana (1739) e a Investigação sobre o Entendimento Humano (1748).

O pensamento de Hume se concentrou em provar que o conhecimento começa com a experiência e não com a razão. Ele se opôs ao inatismo cartesiano, que é a tese de que existem ideias inatas, e defendeu que todas as ideias surgem das percepções adquiridas pelos sentidos.

Hume é considerado, ao lado de René Descartes (1596–1650), Gottfried Leibniz (1646–1716) e Baruch Espinoza (1632–1677), um dos mais importantes filósofos da filosofia moderna. Além disso, como o principal representante do empirismo, uma corrente que se opôs ao racionalismo do século XVII, ele é estudado ao lado dos filósofos John Locke (1632–1704) e George Berkeley (1685–1753).

A vida de David Hume

David Hume nasceu em 7 de maio de 1711, em Edimburgo, atual Escócia. Ele viveu no século do iluminismo e é um de seus representantes. Cresceu em uma época de guerras religiosas, por isso uma de suas motivações filosóficas foi o sentimento antidogmático de lutar contra os extremos religiosos e a intolerância. A outra motivação foi sua paixão pela literatura. Hume buscava a fama literária, tal como diz em sua biografia, fama que adquiriu por meio de suas obras.

Apesar de ser estudante de direito, passou seus primeiros anos dedicando-se à literatura. Em 1734, a exaustão física e nervosa resultou em um retiro no campo em La Flèche, onde ficava o colégio jesuíta que Descartes frequentou. Depois, passou três anos viajando pela França.

Aos 25 anos de idade, escreveu O Tratado da Natureza Humana, seu primeiro livro. Publicou-o em 1739, aos 27 anos de idade, em Londres. Em 1748, publicou Ensaios filosóficos sobre o Entendimento Humano, título que mais tarde mudou para Investigação sobre o Entendimento Humano.

Alguns anos depois, como bibliotecário da Faculdade de Advocacia, escreveu História da Inglaterra, em três volumes. Nessa época, também escreveu dois livros sobre questões religiosas, Diálogos sobre a Religião Moral (1752) e História Natural da Religião (1757). Ambos os livros foram publicados postumamente; foi solicitada a excomunhão de Hume da Igreja Protestante Escocesa em virtude de suas ideias.

Hume residiu na França como secretário do embaixador, onde foi recebido por pensadores como Voltaire (1694–1778), Jean le Rond D'Alembert (1717–1783), Buffon (1707–1788), Denis Diderot (1713–1784), D'Holbach (1723–1789) e Jean Jacques Rousseau (1712–1778).

Em 1770, de volta à Inglaterra, teve uma doença intestinal. Escreveu uma Autobiografia e, depois de escrever uma defesa do suicídio em Do Suicídio, morreu. Ambas as obras foram publicadas um ano depois pelo economista Adam Smith (1723–1790), amigo do filósofo.

O pensamento de David Hume

David Hume é um dos principais representantes do empirismo britânico. O empirismo é caracterizado pela afirmação de que não há nada no intelecto que já não esteja nos sentidos. Isso significa que a experiência sensível é o fundamento e a origem de todo o conhecimento.

Para Hume, experiência significa “experimentação”, no sentido de “vivenciar”, por isso ele é conhecido como um “empirista experimentalista”, que é como apresenta sua filosofia.

Desenvolveu o que é conhecido como o método de raciocínio experimental, sustentando que toda conclusão é apoiada por algum argumento que a coloca em contato com “o dado”, a experiência. Isso é o que geralmente é chamado de naturalismo de Hume.

Hume era um antinaturalista, pois não acreditava na existência de ideias inatas e sustentava que não existem ideias que não tenham sido primeiramente impressões sensíveis. Em sua construção do conhecimento, quando se tratava de descobrir como as ideias eram formadas, ele desenvolveu uma série de etapas necessárias para chegar a uma determinada ideia.

Como se obtém o conhecimento?

Para Hume, no caminho para o conhecimento, a primeira coisa que se obtém é uma “percepção”, que é algo que se apresenta à mente e que, de acordo com sua vivacidade, pode distinguir entre impressões e ideias. Uma impressão pode ser um cheiro, uma cor ou até mesmo sentimentos.

Se um indivíduo corta a mão, por exemplo, ele tem uma impressão, mas se lembra de que cortou a mão, ele tem uma ideia. Por sua vez, as impressões podem ser simples (cores, cheiros) e complexas (uma xícara de café que reúne várias impressões simples). Também pode haver impressões de sensação (externas, que vêm dos sentidos) e de reflexão (internas, que vêm das emoções). As impressões de reflexão são sempre mediadas por uma ideia, que também pode ser simples ou complexa.

Hume queria mostrar que, quando se tem uma ideia, primeiro se tem uma impressão da qual ela é derivada. Ele subdivide as ideias em ideias de memória e de fantasia ou imaginação, que se distinguem pelo fato de que em um caso a ordem é mantida e no outro não. Em ambos os casos, as ideias são complexas. Isso é o que Hume chamará de Princípio da Cópia.

Princípios de associação e questões de fato

Os princípios de associação sustentam que os constituintes finais da vida mental mantêm relações que são regidas por princípios. Esses princípios referem-se, de forma mecânica, a uma percepção para outra e são classificados da seguinte forma:

  • Associação por semelhança. O indivíduo associa por semelhança de acordo com uma ideia impressa na memória. Por exemplo, ao ver um retrato, pensa no modelo original.
  • Associação por contiguidade no espaço e no tempo. O indivíduo associa duas coisas que já foram dadas a ele em um mesmo espaço-tempo e, quando vê uma, vai para a outra. Por exemplo, ao ver um babador, pensa em um bebê.
  • Associação por causa e efeito. O indivíduo associa porque se lembra de casos passados em que a mesma causa ocorreu e, portanto, o mesmo efeito é esperado. Por exemplo, ao ver o fogo, sabe que ele queima porque uma vez já se queimou.

Por outro lado, quando você tem uma proposição ou enunciado que fala de uma relação de ideias, sua verdade se baseia no princípio da não contradição. Assim, todas as verdades matemáticas são relações de ideias, pois nelas há necessidade lógica, o que implica que não há contradição. O conhecimento da matemática é uma verdade a priori.

As relações de ideias, no entanto, são uma questão de fato. Qualquer afirmação de uma questão de fato pode ser negada sem contradição. Nelas, a verdade da afirmação é apoiada pela experiência e não é a priori, de modo que o conhecimento da verdade é obtido a posteriori.

O conhecimento da causalidade tem a ver com questões de fato. O conhecimento nem sempre tem a ver com o testemunho dos sentidos ou da memória. Quase o tempo todo são feitas inferências sobre questões de fato, pois se salta de algo dado para algo não dado. Por exemplo, se a caneta for solta, ela cai; se forem ouvidas vozes pela janela, presume-se que alguém esteja andando na calçada. Portanto, há questões de fato e inferências sobre questões de fato. Essas inferências são sempre feitas com base em conexões causais.

Causalidade

As questões de fato não se baseiam apenas na memória e nos sentidos, mas também na experiência cotidiana. As pessoas saltam constantemente de algo dado para algo não dado e fazem inferências sobre o mundo que não se baseiam no princípio da não contradição, mas em conexões de causa e efeito.

Em Investigação sobre o Entendimento Humano, Hume analisa diretamente como surgem determinadas conexões causais, enquanto no Tratado da Natureza Humana ele começa com o princípio da causalidade. Esse princípio sustenta que “tudo o que começa a existir deve ter uma causa para sua existência”. A verdade dessa afirmação é empírica, não necessária. É contingente e surge por generalização a partir da observação de conexões causais específicas. Por exemplo, se o Objeto 1 tem uma causa “x”, e o Objeto 2 tem “x”, e assim por diante, todo objeto que começa a existir tem uma causa.

Obras de David Hume

A obra de David Hume inclui uma série de publicações feitas durante sua vida e alguns títulos publicados postumamente. A lista total é a seguinte:

  • História da minha vida (1734)
  • Tratado da Natureza Humana (1739)
  • Resumo de um livro publicado recentemente: Intitulado O Tratado da Natureza Humana (1740).
  • Ensaios sobre moral e política (1741–1742)
  • Cartas de um cavalheiro a seu amigo em Edimburgo (1745)
  • Investigação sobre o Entendimento Humano (1748)
  • Investigação sobre os Princípios da Moral (1751)
  • Discursos Políticos (1752)
  • Quatro dissertações: História Natural da Religião. Das paixões. Da tragédia. Sobre o Padrão do Gosto (1757)
  • História da Inglaterra (1754-1762)
  • História Natural da Religião (1757)
  • Minha Vida (1776)
  • Diálogos sobre Religião Natural (1779)

Recepção da obra de David Hume

A obra de David Hume influenciou uma grande variedade de filósofos e pensadores ao longo da história. É famosa a afirmação de Immanuel Kant (1724–1804) de que foi Hume quem o despertou do sono dogmático da razão.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) também atribuiu grande parte de sua influência a Hume, assim como Alfred Jules Ayer (1910–1989), Albert Einstein (1879–1955), Bertrand Russell (1872–1970), Gilles Deleuze (1925–1995), Karl Popper (1902–1994) e Edmund Husserl (1859–1938), entre outros.

Referências

  • Hume, D. (2004). Investigación sobre el entendimiento humano (Vol. 216). Ediciones AKAL.
  • Hume, D. (2011). The Letters of David Hume: 1766-1776 (Vol. 2). Oxford University Press, USA.
  • Hume, D. (2020). Tratado de la naturaleza humana. Editorial Verbum.
  • Garrett, D. (2014). Hume. Routledge.

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Espínola, Juan Pablo. David Hume. Enciclopédia Humanidades, 2023. Disponível em: https://humanidades.com/br/david-hume/. Acesso em: 5 de novembro de 2024.

Sobre o autor

Autor: Juan Pablo Espínola

Licenciatura em Filosofia (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur)

Data da última edição: 30 de maio de 2024
Data de publicação: 30 de dezembro de 2023

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